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    Em curta, Médicos Sem Fronteiras retrata drama de refugiados; veja

    GUILHERME MAGALHÃES
    DE SÃO PAULO

    15/08/2017 11h00

    "Desculpe, me afoguei."

    Essas palavras circularam pelas redes sociais em 2015 e compõem uma carta que teria sido encontrada junto ao corpo de uma refugiada síria que morreu afogada no mar Mediterrâneo naquele ano.

    A organização humanitária Médicos Sem Fronteiras escolheu o texto para ser o fio condutor de um curta de animação sobre a crise de refugiados, coproduzido com o estúdio libanês Kawakeb.

    O filme, em preto e branco e com duração de seis minutos, foi exibido para pequenas plateias durante a última Flip (Festa Literária Internacional de Paraty). A versão legendada em português estreia agora no site da Folha.

    A carta foi usada como base por "contemplar bem toda a tragédia dos milhares de refugiados que decidem se lançar ao Mediterrâneo", afirma à Folha Susana de Deus, diretora-geral da Médicos Sem Fronteiras Brasil.

    Carlo Hermann - 14.jul.17/AFP
    Barco da ONG Médicos Sem Fronteiras chega a porto italiano com 935 refugiados resgatados do Mediterrâneo
    Barco da ONG Médicos Sem Fronteiras chega à Itália com 935 refugiados resgatados do Mediterrâneo

    A narrativa é construída de modo a não identificar a trajetória de uma determinada pessoa. "Não há necessidade de colocar aqui um rosto específico. Essas pessoas não têm um perfil único, são gente como nós, de várias origens, credos, gente com pai, mãe, filhos", diz de Deus.

    Ela ressalta que o filme busca "chamar a atenção para o sofrimento da população" e tenta "sensibilizar não só a sociedade civil como os governos".

    "Não se preocupe, Departamento de Refugiados, eu não vou ser um peso para vocês", afirma um trecho da carta.

    A produção será exibida no Festival Curta Baixada, em Duque de Caxias (RJ), no dia 13 de setembro. A organização negocia também a exibição em cinemas do circuito comercial.

    RESPOSTA EUROPEIA

    Números da Médicos Sem Fronteiras divulgados no dia 30 de julho apontam que 11.235 pessoas morreram desde 2015 ao tentar atravessar o mar Mediterrâneo para tentar chegar à Europa.

    A diretora-geral da MSF Brasil avalia que a resposta dos países da União Europeia à crise de refugiados piorou. Para ela, as novas medidas adotadas pelas autoridades italianas e líbias "impedem as pessoas de buscarem segurança" e "efetivamente encurralam as pessoas na Líbia".

    De Deus se refere à missão naval aprovada pelo Parlamento italiano no último dia 2 para auxiliar a Guarda Costeira da Líbia a conter o fluxo de imigrantes que sai do país do norte da África.

    O estabelecimento de uma zona de busca e salvamento no litoral da Líbia restringiu o acesso de barcos de resgate de ONGs como a Médicos Sem Fronteiras.

    "A Líbia é um Estado com vários grupos criminosos, onde se pratica desde violência sexual a detenções arbitrárias em condições desumanas, tortura, maus tratos, exploração financeira e trabalho forçado de tantas pessoas que chegam ali para a travessia", lembra de Deus.

    "E parece que se tomou a decisão de exatamente nesse país encurralar as pessoas para que elas não cheguem às fronteiras da Europa. Isso é trágico e é muito triste que nos dias de hoje seja o melhor que a União Europeia está conseguindo fazer."

    Os traficantes de pessoas têm se aproveitado do caos político que assola a Líbia desde a queda do ditador Muammar Gaddafi, em 2011, para coordenar um esquema que faz com que dezenas de milhares de imigrantes saiam da costa do país rumo à Itália todo ano.

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