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    Governo Trump

    Análise

    No afã de agradar extrema direita, Trump virou fardo para CEOs

    PATRÍCIA CAMPOS MELLO
    DE SÃO PAULO

    17/08/2017 02h00

    Donald Trump está perdendo um de seus eleitorados mais fiéis, que costumava perdoar os maiores desvarios do presidente americano, desde que tudo continuasse "amigável aos negócios" —o empresariado.

    O primeiro presidente-CEO dos Estados Unidos teve que demitir seus conselhos de CEOs antes que todos os integrantes pedissem demissão.

    Drew Angerer - 15.ago.2017/Getty Images/AFP
    O presidente dos EUA, Donald Trump, concede entrevista coletiva na Trump Tower, em Nova York
    O presidente dos EUA, Donald Trump, concede entrevista coletiva na Trump Tower, em Nova York

    A debandada dos conselhos consultivos de Trump após as desastradas declarações do presidente sobre os extremistas em Charlottesville mostra que prometer desregulamentação e corte de impostos não basta para manter o establishment empresarial leal.

    No afã de agradar a sua base extremista, Trump acabou se tornando um fardo pesado demais para esses empresários.

    Denise Morrison, CEO da Campbell Soup, sentiu a ira dos consumidores após dizer, na segunda-feira (14), que continuaria no conselho apesar das declarações de Trump.

    Mídias sociais foram tomadas de imagens de sopas Campbell com os dizeres "Soup Nazi " (em referência ao seriado Seinfeld), "Sopa de Suástica" e "Creme de cúmplice".

    A sede do banco JP Morgan em NY recebeu um abaixo-assinado com mais de 400 mil assinaturas exigindo a saída do CEO Jamie Dimon do conselho. Vários grupos fizeram campanhas pedindo boicote às empresas cujos CEOs continuavam nos conselhos.

    Os conselhos são basicamente decorativos, mas as vagas são cobiçadas pois garantem aos empresários acesso privilegiado aos ouvidos de Trump. Por isso, e por medo de serem desancados por Trump na web, muitos CEOs relutavam em sair.

    O movimento de abandonar o barco havia começado, tímido, no início do ano. O presidente do Uber, Travis Kalanick, deixou um dos conselhos em reação a medidas anti-imigração de Trump. O presidente da Disney, Bob Iger, e o CEO da Tesla, Elon Musk, saíram em protesto à retirada dos EUA do Acordo de Paris sobre o clima.

    Com a decisão do presidente de equiparar os manifestantes anti-extremismo, chamados por ele de "alt-left", aos neonazistas e supremacistas, o desencanto do empresariado se transformou em êxodo.

    Só piorou as coisas a reação de Trump ao primeiro anúncio de saída, de Ken Frazier, da Merck —ele o atacou nas redes sociais, dizendo que a farmacêutica tirava empregos dos EUA e vendia remédios a preços abusivos.

    Trump errou no cálculo: seria melhor perder um grupo marginal como os extremistas de direita do que irritar o empresariado, alicerce de qualquer governo republicano e, mais ainda, do presidente que se gaba de administrar o país como uma empresa.

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