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    Análise

    Cinematográfico, caso Roger Pinto Molina foi desastre para Itamaraty

    FÁBIO ZANINI
    EDITOR DE "PODER"

    17/08/2017 02h00

    A morte do ex-senador boliviano Roger Pinto Molina num acidente aéreo especialmente fútil completa o roteiro cinematográfico que sua vida percorreu desde maio de 2012, quando se exilou na embaixada do Brasil em La Paz.

    O drama de se ver fechado entre quatro paredes durante mais de um ano, as ameaças de prisão se pisasse na calçada e a fuga facilitada por um diplomata audacioso ofuscam o que, na sua essência, foi um dos grandes desastres da política externa brasileira dos últimos anos.

    Pedro Ladeira/Folhapress
    O ex-senador boliviano Roger Pinto Molina, em 2013; asiladono Brasil, político morreu nesta quarta
    O ex-senador boliviano Roger Pinto Molina, em 2013; asiladono Brasil, político morreu nesta quarta

    Desde o início da crise, o presidente Evo Morales endureceu contra Molina, um importante adversário de seu governo, e se recusou a dar o salvo-conduto que possibilitaria a ele deixar o prédio.

    A Bolívia mostrava, muito antes de a Lava Jato e o impeachment envenenarem as relações do Brasil com vizinhos de esquerda, os limites da diplomacia de braços abertos do PT com colegas ideológicos. Evo fazia política interna aproveitando a impotência da política externa brasileira.

    Não era a primeira vez. Em 2006, a Bolívia já havia dado de ombros para o Brasil com a decisão de nacionalizar ativos da Petrobras sem aviso.

    Em ambos os episódios, o Brasil, em que pese a considerável influência econômica que tem sobre a Bolívia, não encontrou uma maneira de dobrar o vizinho.

    Ao contrário, ouviu calado insultos de autoridades de La Paz contra a concessão de asilo a Molina —decisão que nada tinha de atípica e era coerente com a tradição diplomática brasileira.

    Da apatia passou-se ao esquecimento. Enquanto o ex-senador mofava e seu guardião na embaixada, o diplomata Eduardo Saboia, exasperava-se, o Itamaraty relegou o assunto ao pé de sua lista de prioridades.

    Numa tarde de agosto de 2013, Saboia cansou da espera. Colocou Molina num carro da embaixada, viajou com ele por tensas 22 horas até a fronteira brasileira e provocou uma crise internacional.

    A Bolívia ficou enraivecida, Dilma, apoplética, e o chanceler Antonio Patriota estava na rua. Visto em retrospecto, o humilhante episódio, embora pontual, foi simbólico do momento em que começou a refluir a estratégia grandiloquente do Brasil para a América do Sul.

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