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    Principal suspeito de atentado em Barcelona continua foragido

    DIOGO BERCITO
    ENVIADO ESPECIAL A ALCANAR (ESPANHA)

    19/08/2017 13h24 - Atualizado às 15h12

    Uma casa entre oliveiras, a poucos minutos a pé da praia, impregnada do cheiro salgado de mar.

    A célula terrorista que matou 14 pessoas na Espanha na última quinta-feira (17) preparava seu arsenal de explosivos nesse impensado endereço, em uma área afastada do povoado de Alcanar, a 200 km de Barcelona.

    O grupo foi desmantelado, segundo o governo espanhol, mas o principal suspeito ainda segue foragido.

    Alcanar é um vilarejo sem grandes atrativos para além da praia e da fábrica de cimento. Mas se tornou notícia, por parecer ser uma peça-chave das investigações.

    Os militantes que atropelaram pedestres em Barcelona e Cambrils invadiram uma casa abandonada há alguns meses e, ali, manipularam dezenas de cilindros de gás butano e TATP, material explosivo tão volátil que é apelidado de "mãe de Satã".

    A construção explodiu acidentalmente à meia-noite de quarta-feira (16). As autoridades acreditam que, assustados e sem seu arsenal, os terroristas decidiram antecipar o atentado.

    Eles atropelaram pedestres em Barcelona e Cambrils no dia seguinte. Dos 14 mortos, 13 estavam na capital catalã.

    Cinco dos militantes morreram também na ação de Cambrils. A polícia deteve outros quatro, mas acredita que o motorista da van de Barcelona -seu principal suspeito- esteja foragido.

    Trata-se do marroquino Younes Abouyaaqoub, 22, provavelmente um líder na célula, estimada em 12 pessoas pelo governo da Catalunha, região nordeste da Espanha.

    A polícia de início trabalhava com a hipótese de que o motorista fosse Moussa Oukabir, 17, mas depois determinou que ele foi morto na ação de Cambrils. Morreram também Said Aallaa, 19, e Mohamed Hychami, 24.

    É possível, ainda, que dois terroristas tenham morrido na explosão de Alcanar, o que ainda não foi confirmado.

    O ministro espanhol do Interior, Juan Ignacio Zoido, disse no sábado (19) que a célula foi "desmantelada". O governo regional catalão, porém, contestou a avaliação e disse que falta deter "dois ou três" suspeitos.

    A facção terrorista Estado Islâmico reivindicou os ataques a Barcelona e Cambrils, justificados como atentados contra "cruzados e judeus".

    Localização

    SEM SENTIDO

    A polícia cercou o entorno da casa em Alcanar e, no sábado, realizou uma série de explosões controladas -uma delas testemunhada pela reportagem da Folha.

    Assustados pelas explosões de quarta, os moradores do bairro já tinham deixado suas casas. Mas Nuria Gil, 50, ficou. Ela mora ali desde 1998 e, na quarta, ouviu um barulho que descreveu como "trovoada". Foram duas explosões. "Ouvi 'bum!' e, depois de alguns segundos, outra vez 'bum'", conta Gil.

    A empresária diz nunca ter visto os suspeitos, nem imaginado que a explosão pudesse ter ligação com terrorismo.

    "Em junho celebrei uma festa com amigos na piscina, champanhe, enquanto eles preparavam bombas. É uma coisa sem sentido", afirma.

    Gil perdeu temporariamente a audição no ouvido esquerdo e um vidro de sua casa se quebrou. Ela se senta na varanda, próxima ao mar, e espera que a polícia venha lhe pedir informações.

    Os atentados de quinta-feira se espalharam por toda a geografia da região catalã. Os militantes preparavam as bombas em Alcanar, mas viviam em Ripoll (a 100 km de Barcelona).

    A polícia realizou uma série de buscas em Ripoll no sábado, vasculhando o apartamento de um imã –líder religioso muçulmano– que poderia ser o vínculo entre os militantes.

    O governo espanhol decidiu manter o nível de alerta quatro, em uma escala que vai a cinco. Isso significa que não são esperados ataques iminentes, mas que a segurança de grandes eventos será reforçada.

    As autoridades já identificaram 9 das 14 vítimas. Mortos e feridos são de 34 nacionalidades, incluindo espanhóis, alemães, italianos e americanos. Não há informações sobre brasileiros.

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