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    Barreiras podem ajudar, mas não cessarão terror, diz analista

    DANIEL BUARQUE
    DE SÃO PAULO

    20/08/2017 02h28

    Odd Andersen/AFP Photo
    Barreiras instaladas na ponte de Londres após atentado matar oito pessoas em junho
    Barreiras instaladas na ponte de Londres após atentado matar oito pessoas em junho

    Atentados usando veículos como armas deixaram um saldo de mais de 120 mortos na Europa desde o ano passado. No caso mais recente, em Barcelona, terroristas usaram uma van em um calçadão turístico e mataram 13 pessoas, o que gerou críticas à prefeita da cidade, Ada Colau, por não ter instalado barreiras para impedir a passagem de carros nas áreas de grande aglomeração de pessoas, como as Ramblas.

    Medidas desse tipo têm sido discutidas na Europa e nos EUA desde que um caminhão matou mais de 80 pessoas em Nice, na França, em julho de 2016, no primeiro grande atentado usando veículos.

    Londres, por exemplo, instalou bloqueios nas calçadas de algumas de suas pontes neste ano, após ataques usando táticas assim deixarem vítimas na cidade.

    Apesar de ser uma ação que aumenta a sensação de segurança, especialistas questionam a eficácia de apenas instalar barreiras urbanas, e defendem projetos mais amplos para que a segurança não entre em conflito com a vida das pessoas.

    Enquanto os terroristas desenvolvem novas táticas para armas improvisadas, como carros, é preciso criar uma estratégia de defesa adaptada à nova realidade, defende Jon Coaffee, professor de geografia urbana da Universidade de Warwick, na Inglaterra.

    "Embora medidas de proteção física possam ajudar a mitigar o impacto do ataque, elas não devem ser pensadas como uma panaceia. Elas devem ser vistas como parte de um quebra-cabeça complexo que também inclui ação preventiva [contrarradicalização], campanhas de conscientização pública e trabalho de inteligência", disse, em entrevista à Folha.

    Especialista em segurança urbana, Coaffee pesquisa questões de terrorismo e resiliência de cidades há mais de uma década. Segundo ele, o fato de os radicais terem passado a agir contra alvos urbanos faz com que seja impossível garantir a segurança de todas as pessoas.

    Desde que aumentou a incidência de ataques terroristas usando veículos e outras armas menos convencionais, Coaffee tem publicado análises sobre técnicas para tentar equilibrar a estética urbana e o design de segurança.

    Ainda que seja impossível prever e evitar todos os ataques, ele defende que intervenções urbanas podem ser eficientes na tentativa de aumentar a segurança das pessoas. Uma dessas intervenções é a maximização da distância entre as ruas e possíveis alvos, de forma "camuflada", para não parecer apenas uma barreira, mas com capacidade de evitar a passagem de veículos.

    Além disso, ele defende alterações sutis no projeto de vias, como desníveis, lombadas e até pequenas curvas que sejam capazes de deixar veículos mais lentos, aumentando a segurança.

    Tudo isso, segundo Coaffee, tem que ser pensado de forma a não deixar as cidades parecendo "fortalezas".

    "O lado ruim de criar 'zonas de segurança' é que elas podem criar uma 'arquitetura de paranoia', deixando as pessoas com medo de frequentar os locais públicos".

    A avaliação é também um reconhecimento de que a opção pela instalação de barreiras tem muitos críticos.

    Há quem questione o fato de que as cidades passam a se parecer com "bunkers", e há quem veja as medidas como um indicativo de que áreas públicas são possíveis alvos, aumentando o medo.

    O próprio Coaffee, que hoje defende a instalação de medidas de segurança como as barreiras, já foi um dos críticos de ações deste tipo.

    Em um livro lançado dez anos atrás, ele alegava que o terrorismo fazia com que as pessoas aceitassem sem questionar a imposição de modelos de segurança e vigilância em escala ampla, o que poderia se tornar um problema do ponto de vista da liberdade e da cidadania.

    Desde que o trabalho foi publicado, porém, ele afirma que muito mudou, e que a vigilância deixou de ser baseada em "armas, câmeras e portões", para ter uma ênfase mais "sutil e humana".

    "A segurança em estilo de fortaleza diminui a qualidade de vida restringindo o acesso ao ambiente público e, em muitos casos, está de mãos dadas com restrições nas liberdades civis", disse.

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