• Mundo

    Thursday, 02-May-2024 09:59:53 -03

    Suspeitos de ataques podem ter deixado a Espanha, dizem autoridades

    DIOGO BERCITO
    ENVIADO ESPECIAL A BARCELONA

    20/08/2017 11h52 - Atualizado às 15h15

    Três dias depois dos atentados que deixaram 14 mortos na Espanha, a polícia ainda buscava três suspeitos durante o domingo (20), incluindo o motorista que atropelou dezenas de pessoas na zona turística de Barcelona.

    As autoridades catalãs responsáveis pela região nordeste do país disseram a jornalistas ser possível que os três terroristas tenham cruzado as fronteiras Europa adentro, apesar dos reforços em estradas e aeroportos.

    Com o desenrolar das investigações, há crescentes sinais de que os militantes tinham vínculos externos. O líder religioso Abdelbaki Es Satty, 45, considerado mentor da célula terrorista, esteve na Bélgica em 2016.

    A prefeitura de Vilvoorde, antigo reduto de radicais islâmicos, confirmou no domingo sua passagem pelo local entre janeiro e março. Vilvoorde, com 40 mil moradores, foi uma das cidades belgas de onde saiu a maior parte dos militantes rumo à Síria para se unir à organização Estado Islâmico.

    A essa informação se soma a revelação, feita também no domingo, de que dois dos suspeitos estiveram recentemente na Suíça, um país próximo que não faz parte da União Europeia.

    O jornal local "El País" diz que tanto Yousseff Aallaa, 19, quanto Mohamed Hicham, 24, viajaram a Zurique em 2016. A polícia suíça conduz suas próprias investigações, em coordenação com Madri e Barcelona.

    Segundo as autoridades espanholas, Aallaa e Hicham faziam parte de uma célula terrorista de 12 membros que planejou durante meses ataques de grande magnitude.

    Eles foram radicalizados pelo clérigo Satty na cidade de Ripoll. Guiados por ele, ao que apontam as investigações, os 12 invadiram uma casa abandonada em Alcanar –a poucos minutos da praia– e montaram um arsenal de bombas com dezenas de cilindros de gás butano e TATP, material volátil conhecido como "mãe de Satã".

    O plano foi frustrado por uma explosão acidental, em que possivelmente três deles morreram. Assustado, o grupo antecipou seu ataque. Eles atropelaram pedestres em Barcelona e Cambrils, onde planejavam também um massacre a facadas.

    No total, 14 pessoas foram mortas e 132 ficaram feridas, das quais 53 seguem hospitalizadas. Não há informações sobre brasileiros afetados. O governo local já identificou 12 vítimas, incluindo o britânico-australiano Julian Cadman, de sete anos.

    Cinco dos militantes foram mortos pela polícia em Cambrils e quatro já estão detidos. Não se sabe a identidade exata dos três suspeitos em fuga, mas pode se tratar do imã Satty e deYounes Aboyaaqoub, 22, o possível motorista de Barcelona.

    Localização

    RETORNO À EUROPA
    O fato de que a célula era composta por migrantes marroquinos redirecionou o foco das autoridades para o fluxo de militantes através das fronteiras. Segundo o jornal britânico "Guardian", até mil terroristas voltaram ao Marrocos e à Tunísia depois de lutar no território da facção radical Estado Islâmico, na Síria e no Iraque.

    O temor presente há anos, mas agora intensificado, é de que esses regressos planejem e executem atentados contra seus países de origem ou tentem cruzar à Espanha, de onde poderiam rumar ao restante do continente europeu.

    A Espanha em si não é um dos alvos preferenciais dos militantes, o que ajuda a explicar os 13 anos durante os quais o país esteve a salvo desses ataques. Em 2004, um grande atentado deixara 192 mortos e centenas de feridos.

    O governo espanhol é também conhecido pela eficiência e coordenação de seus serviços de segurança, o que desestimula as atividades terroristas em seu solo.

    A facção Estado Islâmico reivindicou os ataques, justificados como atentados contra "cruzados e judeus".

    MISSA
    Em uma demonstração de solidariedade, centenas de pessoas participaram neste domingo de uma missa na basílica Sagrada Família, em Barcelona, em homenagem às vítimas dos atentados.

    O primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, participou da cerimônia ao lado do rei Felipe. A missa foi celebrada pelo arcebispo de Barcelona, Joan Josep Omella. "Nossa presença neste lugar sagrado é sinal de repulsa ao ataque", disse Omella.

    Dezenas de pessoas se manifestaram também em Madri em solidariedade. O evento havia sido convocado por comunidades muçulmanas, em uma forte mensagem: não há relação direta entre a religião e o atentado.
    Cartazes incluíam recados como "Não em meu nome" e "O islã não tem culpa".

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024