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    Angola elege hoje novo presidente após 38 anos

    HENRIQUE ALMEIDA
    CÂNDIDO MENDES
    DA BLOOMBERG, EM LISBOA E LUANDA

    23/08/2017 02h00

    Marco Longari/AFP
    Menino em Luanda brinca diante cartazes eleitorais de Isaías Samakuva, candidato da Unita à Presidência de Angola
    Menino em Luanda brinca diante cartazes eleitorais de Isaías Samakuva, candidato da Unita à Presidência de Angola

    Na baía de Luanda, a capital de Angola, arranha-céus inacabados se erguem como testamento dos desafios enfrentados pelo segundo maior produtor de petróleo da África diante de sua primeira troca de liderança em quase quatro décadas.

    Antes do colapso do preço do petróleo, centenas de navios esperavam na orla para descarregar no porto. Hoje, há só um punhado deles à vista. Nos subúrbios, condomínios murados construídos para abrigar estrangeiros e uma classe média que nunca emergiu estão quase vazios.

    "Para onde foram os navios?", indaga Matias Joaquim, dono de um restaurante na favela de Sambizanga, um labirinto de barracos sobre um morro que dá vista para o porto. "Se os ricos não estão indo bem, imagine os pobres."

    Angola promove eleições nesta quarta (23), pois o presidente José Eduardo dos Santos, 74, se prepara para deixar o poder após 38 anos.

    Seu sucessor, quase certamente do mesmo partido, enfrentará o desafio de reverter a pior crise desde que o país saiu da guerra civil, em 2002.

    Mas se a saída de Santos marca uma nova era política, a mudança de líder não necessariamente amenizará a crise econômica, diz Manuel Alves da Rocha, economista-chefe na Universidade Católica de Angola, em Luanda.

    "Mudar o presidente pareceria impensável há alguns anos", diz. "A parte difícil depois da votação será consertar uma economia que continua a depender do petróleo."

    Santos é creditado por transformar Angola em um dos maiores produtores de petróleo e erguer vistosos projetos de infraestrutura.

    Ao mesmo tempo, parentes seus acumularam fortunas enquanto um terço da população ainda vive com menos de US$ 2 por dia, segundo o Banco Mundial. A filha mais velha do presidente, Isabel, é a mulher mais rica da África, com fortuna de US$ 2,3 bilhões, segundo o índice de bilionários Bloomberg.

    SUCESSOR
    O Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que governa o país desde sua independência de Portugal, em 1975, escolheu o ministro da Defesa, João Lourenço, 63, como candidato à sucessão.

    Ele enfrenta uma oposição mal financiada e dividida, que inclui o ex-grupo rebelde Unita (União Nacional para a Independência Total de Angola) e o partido Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral.
    "O MPLA vencerá as eleições", afirma Alex Vines, chefe do programa para África no centro de estudos Chatham House, em Londres. "A questão é com que maioria."

    Santos, que continuará à frente do MPLA até 2018, deve exercer influência, segundo Isaías Samakuva, 71, o chefe da Unita, que abandonou a luta armada em 2002.

    Na bonança, trabalhadores portugueses e chineses acorreram ao país, enquanto o governo lançava uma enxurrada de projetos, de rodovias a cidades-satélite. Mas após 14 anos de expansão, o crescimento econômico foi zero em 2016, e milhares de estrangeiros partiram.

    Quem ficou lida com inflação de 30% ao ano e a escassez de dólares, necessários para importar produtos.

    "Os investidores pensavam que podiam chegar a Angola, sacudir uma árvore e colher os lucros", disse Antonio Cunha, dono de um conglomerado de empresas que inclui de construtoras a restaurantes. "Não era normal. O que está ocorrendo hoje é a normalização da economia."

    Na campanha, Lourenço prometeu combater a corrupção, diversificar a economia e atrair investimento estrangeiro, além de pedir a expatriados que invistam no país.

    Apesar da crise, Santos inaugurou neste mês uma represa na província de Cuanza Norte, a leste de Luanda.

    "Anos atrás, o presidente aparecia quando grandes projetos eram concluídos", disse Sebastião Toco, engenheiro civil em Luanda. "Hoje ele faz um buraco para um novo projeto e espera que Angola consiga pagar por ele um dia."

    Angola vai às urnas
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