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    Tiffany Trump e Malia Obama começam universidade em setembro

    KRISSAH THOMPSON
    DO 'WASHINGTON POST'

    25/08/2017 11h12

    Para milhões de jovens norte-americanos a caminho da universidade este mês, o começo do ano letivo será uma oportunidade de prosseguir a jornada rumo à vida adulta, de partir para a autodescoberta, e de preparação para o mundo real.

    Mas e quanto a duas universitárias que chegarão aos seus campi portando os mais famosos sobrenomes do planeta? Tiffany Trump, a filha mais nova do atual presidente dos Estados Unidos, se matriculou na Escola de Direito da Universidade de Georgetown, e Malia Obama está entrando na Universidade Harvard como caloura. Será que para elas a vida universitária também será um escape?

    "A cultura [universitária] respeitará a privacidade delas", disse Jack Rakove, professor de história e ciência política na Universidade Stanford que serviu como orientador de Chelsea Clinton quando ela fez sua graduação lá.

    Rakove, que também foi professor do golfista Tiger Woods e da atriz Jenniffer Connelly, recorda a empolgação generalizada da universidade quando os Clinton chegaram ao campus. Bill Clinton ainda era presidente, e por isso Chelsea chegou no Air Force One, e acompanhada pela comitiva presidencial completa, pesada presença de policiais, e uma legião de repórteres que cobriam o presidente e sua família.

    Mandel Ngan - 7.nov.2016/AFP
    Tiffany Trump, a filha mais nova do atual presidente dos Estados Unidos, durante evento em 2016
    Tiffany Trump, a filha mais nova do atual presidente dos Estados Unidos, durante evento em 2016

    Mas tão logo a cavalaria que acompanhava Chelsea se foi, a atenção se dispersou.

    "Houve um esforço coordenado, seguindo normas bem estabelecidas, para fazer o melhor que pudéssemos a fim de tratá-la como a qualquer outro aluno", disse Rakove.

    Os agentes do Serviço Secreto que a protegiam se vestiam informalmente e carregavam mochilas, para não se destacarem demais dos alunos. O jornal da universidade adotou a regra de não escrever sobre a filha do presidente a não que ela fizesse alguma coisa digna de notícia.

    Malia Obama durante esta semana parecia estar fazendo o máximo para tornar sua chegada à universidade um assunto rotineiro. Ela estava conversando com outros estudantes em um espaço público do campus de Harvard em Cambridge, Massachusetts, quando um repórter lhe pediu uma entrevista. Ela recusou educadamente, de acordo com o "Boston Globe".

    O ex-presidente Barack Obama foi visto em um restaurante em Harvard Square, o que sugere que tenha acompanhado à filha à cidade para acomodá-la na universidade –mas se foi ao campus, ele não foi avistado.

    Malia Obama tirou um ano de folga dos estudos depois de se formar no segundo grau, em 2016, o que retardou o início de seus estudos em Harvard até depois de seu pai ter concluído seu mandato. Isso significa que os Obama agora contam com uma equipe menor do Serviço Secreto e que não há jornalistas acompanhando tudo que fazem.

    Algumas fotos mostrando Malia Obama em Cambridge circularam na Internet, mas mesmo essas imagens podem desaparecer em breve, disse Elliott King, professor de comunicação da Universidade Loyola, em Maryland.

    "Quando alguém é visto todos os dias, deixa de ser uma celebridade", disse King. "Ser celebridade depende em parte da distância, da imagem mediada. Você não vê uma pessoa de carne e osso que precisa levantar a mão para responder uma pergunta, ou que pode se tornar sua parceira em um laboratório".

    Os filhos dos presidentes em geral não escolheram ser famosos, o que as comunidades universitárias tendem a compreender, disse Ellis Cashmore, professor visitante de sociologia na Universidade Aston, na Inglaterra.

    "As universidades não um reflexo demográfico das sociedades a que servem. Suas populações são mais jovens, têm aspirações mais elevadas, nível educacional mais alto e –com sorte– são mais analíticas", disse Cashmore, autor de "Elizabeth Taylor: A Private Life for Public Consumption".

    "Por isso, existem menos idólatras nelas do que no restante da sociedade. Ninguém em Harvard –pelo menos nenhuma pessoa com o mínimo de dignidade– vai querer ser visto tirando fotos de Malia. Caso os demais estudantes, seus pares, fossem adulatórios, seria patético para eles".

    Mas mesmo jovens celebridades que conquistaram a fama por mérito próprio se matricularam em universidades na expectativa de receber tratamento igualmente discreto.

    Quando começou na Universidade Harvard, em 1981, a atriz Jodie Foster, estrela de cinema desde a infância, disse a jornalistas que desejava ter "uma vida normal", lá.

    Indicada ao Oscar aos 14 anos de idade, ela fez um papel em uma peça no campus e conseguiu não roubar a cena. Estudou literatura afro-americana e seus colegas de classe não pareciam lhe dedicar atenção especial. Foster mais tarde descreveria seus anos na universidade como um período de descoberta pessoal.

    Brooke Shields se matriculou na Universidade de Princeton em 1983. A estrela de "Lagoa Azul" e modelo da Calvin Klein era conhecida como "o rosto dos anos 80", mas seus colegas recordam que se acostumaram rapidamente a encontrá-la no campus ou em festas.

    Tripp Evans era professor assistente de história da arte na Universidade Yale, em 1990, quando a atriz Sara Gilbert, então membro do elenco da série "Roseanne", que ganharia um Emmy naquele ano, começou a participar de um grupo de discussão comandado por ele. Ele recorda que os demais estudantes recebiam Gilbert, que sempre aparecia bem preparada para as discussões, de maneira "deliberadamente casual".

    "Os alunos de Yale às vezes podem supercompensar ao tentar demonstrar que não estão impressionados. Tenho certeza de que o mesmo acontece em Harvard", disse Evans, hoje professor do Wheaton College, em Massachusetts.

    Mas nem todas as megacelebridades escapam com tanta facilidade.

    Emma Watson, cujo nome se tornou famoso depois que ela estrelou os filmes da série "Harry Potter", encontrou percalços na Universidade Brown. Ela começou os estudos em setembro de 2009 mas fez uma pausa em 2011, para trabalhar no último filme da série. Houve rumores de que teria sofrido bullying no campus, mas Watson descreve suas experiências como mais nuançadas.

    "Eu vivia em negação", disse Watson ao jornal britânico "Sunday Times". "Queria fingir que não era tão famosa quanto sou. Estava em busca de normalidade, mas preciso aceitar quem sou, a posição em que estou e o que aconteceu".

    Ela disse que ninguém jamais lhe pediu um autógrafo, no campus, e que conseguiu até organizar uma festa para quase 100 alunos sem que uma única foto do evento aparecesse no Facebook.

    Mas em sua formatura, um guarda-costas armado estava sentado ao seu lado, disfarçado com um capelo e beca –o que causou zombarias da parte de colunistas de fofocas e expôs a distância que a separava de seus colegas de estudo.

    Quando estudava em Princeton, o ator Graham Phillips continuou trabalhando na série "The Good Wife", na qual interpreta o filho do personagem central, Alicia Florrick. Uma vez por semana, ele ia ao estúdio em Nova York para gravar sua participação, mas no restante do tempo mergulhava na vida do campus.

    "Todo mundo no campus parece aceitar os outros sem contestação", disse Phillips, que se formou em história dos Estados Unidos. "Para mim, isso foi muito refrescante". Os estudantes que o reconheciam por seu trabalho na TV não comentavam o assunto a não ser que ele o mencionasse.

    Corinne Foxx, filha de Jamie Foxx, ator premiado com o Oscar, foi tratada normalmente em sua vida como aluna da Universidade do Sul da Califórnia, em um momento no qual também costumava ser fotografada ao lado do pai nos tapetes vermelhos do mundo do cinema. Alguns amigos admitiram posteriormente ter fingido não saber quem era o pai dela, para que Foxx não se sentisse desconfortável quanto ao assunto.

    "Fiz o segundo grau em Los Angeles, e muitos dos alunos eram obcecados por Hollywood. Mas meus amigos na universidade não eram assim", disse Foxx, que trabalhou como modelo e recentemente fundou uma revista online de estilo de vida. "Todos os meus amigos são advogados e professores, e não fazem parte do setor de entretenimento. Eles admiram o que eu faço e o que meu pai faz, mas não são obcecados com isso".

    Ela só preocupava com a possibilidade de que sua privacidade fosse invadida quando ia a festas.

    "Eu sempre me preocupei muito com esse tipo de coisa, e sempre fui reservada e cautelosa, porque nunca se sabe quem pode estar gravando imagens", disse Foxx.

    Podemos esperar reserva semelhante da parte de Malia Obama e Tiffany Trump.

    Elas são as primeiras filhas de presidentes a fazer cursos superiores na era da mídia social, e adotaram estratégias diferentes quanto a isso.

    Malia Obama não tem contas conhecidas de mídia social, enquanto Tiffany Trump, que se formou em 2016 pela Universidade da Pensilvânia, tem presença robusta no Instagram, com 862 mil seguidores –um número que cresceu dramaticamente durante a campanha presidencial de seu pai.

    As fotos mais recentes de Tiffany a mostram com amigos em férias na Europa, algumas semanas atrás. Ela não postou coisa alguma sobre o campus de Georgetown. Tiffany Trump recusou um pedido de entrevista para este artigo, via assessoria de imprensa.

    O primeiro ano de uma escola de Direito é trabalho sério, no entanto, e isso pode levá-la a tentar se integrar e a se concentrar nos estudos.

    Foi essa a abordagem de sua irmã mais velha, Ivanka Trump, em seus estudos nas universidades de Georgetown e da Pensilvânia. Os colegas a recordam como aluna que se sentava nas primeiras fileiras da sala de aula e parecia realmente concentrada.

    "Eu tinha lido uma reportagem sobre ela na revista 'Seventeen'", disse Amee Patel, que se recorda de ter ficado surpresa ao ver o nome de Ivanka Trump na lista de chamada de seu curso de química. "Mas muita gente que estudou na universidade era importante. O príncipe herdeiro da Espanha estudou lá [Georgetown], em dado momento. Eram pessoas cujos pais eram políticos e presidentes de empresas".

    Patel nunca viu alguém tentando puxar conversa com Ivanka Trump ou a tratando com deferência. Em retrospecto, Patel considera que os demais alunos sentem o desejo de proteger seus poucos colegas famosos, nos anos de universidade.

    "É uma época estranha", ela disse. "Todos estão tentando descobrir qual é seu papel em um mundo novo, o que de alguma forma os torna mais humanos".

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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