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    Tchetchênia pressiona casais a ficarem juntos 'pelos filhos'

    ANDREW E. KRAMER
    DO 'NEW YORK TIMES'

    28/08/2017 07h00

    Kirill Kudryavtsev/AFP
    Casal faz dança tradicional em Grozni, capital da Tchetchênia

    As autoridades da República da Tchetchênia, na Rússia, afirmam estar tendo êxito com uma campanha ampla e nada convencional para forçar casais divorciados a ficarem juntos outra vez, pelo bem de seus filhos –ou, alegam, para ajudar a combater o terrorismo.

    Ao longo do verão a televisão local vem transmitindo reportagens sobre divorciados que voltaram a viver juntos, sob o olhar vigilante de membros de uma comissão do governo. É "reality TV" em estilo tchetcheno.

    Conhecida como o Conselho para a Harmonização do Casamento e das Relações Familiares, a comissão diz que nos últimos dois meses promoveu o reencontro de 948 casais, alguns dos quais estavam separados havia anos. Graças à campanha, o Conselho pode pedir que a polícia procure pessoais divorciadas para encorajá-las a resolver suas diferenças.

    As reportagens na televisão mostram pessoas antes divorciadas que hoje vivem na mesma casa. A maioria dos casais evita passar tempo juntos, mas passa tempo com seus filhos.

    "Esses reencontros felizes foram possibilitados por um programa criado pelo líder da região", disse um repórter na televisão, aludindo a Ramzan A. Kadyrov. "Apesar do antagonismo mútuo, centenas de casais divorciados estão atendendo ao chamado."

    Por mais absurdo que o programa possa parecer à primeira vista, ele é sério, como é o caso de todas as políticas sociais na Tchetchênia. Deixar de cumprir as determinações da liderança regional pode ter consequências graves para quem o faz, muito piores do que voltar a viver com um antigo companheiro que a pessoa hoje repudia.

    Numa barganha para conservar seu controle sobre a Tchetchênia, o Kremlin deu a Kadyrov –que é filho de um imã (pregador) sufista e trocou de lado-carta branca para governar sua região como bem entende, em troca de sua lealdade a Moscou.

    Para roubar o apoio popular desfrutado pela insurgência islâmica, Kadyrov cooptou as normas sociais islâmicas rígidas defendidas por ela. Por exemplo, determinou que as universitárias mulheres são obrigadas a usar véu cobrindo a cabeça e vem punindo a homossexualidade masculina.

    A reaproximação de casais separados provocou uma reação de repúdio de divorciados que dizem estar sendo forçados a viver com seus antigos cônjuges, mas é louvada pela mídia local, controlada pelo governo.

    "Minha família é assunto pessoal meu", disse ao serviço russo da BBC um homem que vem sendo pressionado pela comissão. "Falei que não pretendo voltar para a pessoa de quem me divorciei sete anos atrás."

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