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    Rebeldes declaram cessar-fogo para conter crise humanitária em Mianmar

    DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

    09/09/2017 16h59

    Munir Uz Zaman/France-Presse
    Rhohingyas buscam alimentos em um dos campos de refugiados em Bangladesh
    Rhohingyas buscam alimentos em um dos campos de refugiados em Bangladesh

    Insurgentes rhohingya declararam cessar-fogo unilateral de um mês, a partir de domingo (10), para que grupos de ajuda consigam amenizar a crise humanitária que se instalou no noroeste de Mianmar.

    Desde de o dia 25 de agosto, quando 150 rebeldes do grupo Exército de Salvação Arakan Rohingya atacaram 30 postos policiais e uma base do Exército e militares lançaram uma contraofensiva, cerca de 300 mil rhohingyas fugiram para Bangladesh e 30 mil civis não muçulmanos foram deslocados dentro de Mianmar.

    A maior parte daqueles que buscam refúgio pertencem à minoria rohingya, de religião muçulmana. Com maioria budista, Mianmar é marcado pela influência de monges radicais que denunciam os muçulmanos como uma ameaça.

    Em comunicado, os rebeldes disseram encorajar "fortemente todos os atores humanitários a retomar a assistência às vítimas, independentemente de origem étnica ou religiosa, durante o período de cessar-fogo".

    O governo local havia restringido o acesso de grupos humanitários, acusados pelo governo de Mianmar de alimentar insurgentes.

    "A ONU (Organização das Nações Unidas) e as ONGs não foram bem-vindas em Rakhine. Eles não são capazes de operar e garantir a segurança de seus funcionários e voluntários", disse Joy Singhal, da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho.

    Em entrevistas realizadas em Bangladesh pelo Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR), rohingyas contaram que casas queimadas, estupros, torturas, assassinatos, detenções ilegais e desaparições forçadas são práticas recorrentes. Só nas últimas duas semanas, milhares de moradias foram queimadas em dezenas de aldeias, o que forçou a fuga da população.

    Por outro lado, o comando militar birmanês culpa os rebeldes por terem incendiado as casas e nega haver opressão contra a minoria.

    Segundo dados oficiais de Mianmar, mais de 430 pessoas morreram até o momento, incluindo 370 "terroristas" rohingyas –como foram chamados pelo governo.

    PERSEGUIDOS

    Os rohingyas são uma minoria de fé muçulmana que se concentra no Estado de Rakhine, no noroeste de Mianmar. Já foram considerados pela ONU como a "minoria mais perseguida do mundo".

    De maioria budista, Mianmar é marcado pela influência de monges radicais que denunciam rohingyas como ameaça. Muitos birmaneses alegam que eles são uma etnia implantada durante a colonização britânica, que trouxe milhares de trabalhadores muçulmanos de Bangladesh.

    Uma lei de 1982 retirou a cidadania do rohingyas.

    Como apátridas, eles não têm acesso a serviços básicos, como educação e saúde, e são proibidos de votar. Em Rakhine, a lei os proíbe de ter mais que dois filhos e os obriga a fazer trabalhos forçados.

    Desde o aumento da violência no Estado de Rakhine, em outubro de 2016, Aung San Suu Kyi tem sido criticada pela comunidade internacional por não denunciar a perseguição aos rohingya.

    No ano passado, vários laureados com o Nobel -Malala Yousafzai, Desmond Tutu e 11 outros- assinaram carta aberta "alertando para um potencial genocídio".

    Em entrevista à BBC em abril deste ano, Suu Kyi afirmou que o termo "limpeza étnica" era "muito forte" para descrever a situação. Em outras ocasiões, repetiu o argumento da junta de que os rohingya estariam vivendo ilegalmente em Mianmar.

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