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    Expansão evangélica e 'rebeldes' levam papa a Cartagena

    SYLVIA COLOMBO
    ENVIADA ESPECIAL A CARTAGENA

    10/09/2017 02h00

    Alberto Pizzoli/AFP
    O Papa Francis acena do Popemobile em Medellín, Colômbia, em 9 de setembro de 2017. O Papa Francis visita a cidade colombiana de Medellín, ex-fortaleza do barão da droga, Pablo Escobar, no quarto dia de uma turnê papal para promover a paz.
    Papa Francisco acena do papamóvel em Medellín, Colômbia

    O principal motivo para que o papa Francisco tenha incluído a cidade caribenha de Cartagena em seu roteiro é a preocupação com a rápida expansão de cultos evangélicos no país e, principalmente, na região costeira, a mais densamente povoada.

    Neste domingo (10), o pontífice celebra aqui a última missa antes de voltar a Roma, em homenagem ao padroeiro local, são Pedro Claver.

    A Igreja Católica continua sendo majoritária em todo o país —de 49 milhões de habitantes, 45,3 milhões se declaram católicos, segundo medição do instituto de estatísticas da própria Igreja.

    Outros números, porém, vêm inquietando a Conferencia Episcopal colombiana. Segundo o Centro de Investigação Pew, o número de católicos declarados passou de mais de 90% no fim dos anos 1990 para 79% em 2014.

    Joaquin Sarmiento/AFP
    Os soldados observam a distância à medida que as pessoas se reúnem no aeroporto de Enrique Olaya Herrera em Medellín, na Colômbia, para que uma missa seja oficiada pelo Papa Francisco em 9 de setembro de 2017. O Papa Francis visita a cidade colombiana de Medellín, ex-fortaleza da droga tardia barão Pablo Escobar, no quarto dia de uma turnê papal para promover a paz.
    Soldados observam a população que aguarda o papa em aeroporto de Medellín, na Colômbia

    A expansão dos evangélicos é visível em Cartagena. Ao se aproximar do centro histórico, é possível ver cartazes chamando para os cultos na periferia da cidade.

    Há pastores que são verdadeiras celebridades, como Miguel Arrázola, da Igreja Ríos de Vida. Jovem, de retórica exaltada e com pretensões políticas, é amigo de jogadores de futebol e de astros pop, tem 80 mil seguidores nas redes sociais e ataca o presidente Juan Manuel Santos, associando-o ao "chavismo e ao comunismo" por buscar a paz com as guerrilhas.

    OUTROS "REBELDES"

    Além dos pastores evangélicos, a costa colombiana é também uma espécie de bastião dos sacerdotes católicos mais rigorosos, e que resistem a aceitar algumas das orientações do papa Francisco.

    Em 2016, quando o pontífice pediu aos padres colombianos o apoio ao "sim" no plebiscito para aprovar acordo de paz com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), a costa foi um dos locais em que o "não" foi mais representativo.

    Juntos, pastores evangélicos e sacerdotes católicos "rebeldes" ao acordo acabaram determinando a vitória do "não" (posteriormente o acordo acabou sendo aprovado pelo Congresso).

    À Folha na época, Santos afirmou ter "subestimado" a importância que tinham, para essa população religiosa, os artigos do documento que aludiam à diversidade sexual —que acabaram reescritos.

    Pastores como Arrázola usavam esses trechos em seus cultos para dizer que Santos era um "inimigo da família".

    O ex-presidente Álvaro Uribe, principal adversário do presidente e contrário ao acordo, ia à igreja de Arreazza, apesar de ser um católico fervoroso, e também visitava os sacerdotes rebeldes.

    Na última quinta (7) em Bogotá, o papa se dirigiu a esses sacerdotes "que se deixaram ficar à margem do debate sobre a paz". "Muitos de vocês podem contribuir para ajudar a nação a enfrentar esse desafio e encontrar a paz. Não sejam técnicos nem políticos, sejam pastores", pediu.

    A costa também reserva outros desafios ao papa. Há alguns meses, um canal de televisão que se denomina católico, TeleAmiga, dirigido por José Galat, reitor da Universidad Gran Colombia, passou a transmitir mensagens contra ele.

    Na semana passada, a Conferencia Episcopal Colombiana emitiu nota dizendo que "o canal TeleAmiga não representa nem reflete o ensinamento da Igreja Católica".

    No ato final da tour do papa na Colômbia, Francisco fará uma missa com participação de representantes de comunidades negra e indígena.
    A última bênção será na igreja de são Pedro Claver.

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