• Mundo

    Wednesday, 01-May-2024 02:24:34 -03

    Salvos em onze de setembro pelo homem do lenço vermelho

    COREY KILGANNON
    DO "NEW YORK TIMES", EM SUFFERN (EUA)

    11/09/2017 18h17

    Welles Crowther, 24, um corretor de ações novato de Upper Nyack, Estado de Nova York, que morreu noatentado terrorista ao World Trade Center em 11 de setembro de 2001, ficou conhecido como o Homem do Lenço Vermelho, pelo lenço que usava como máscara de proteção quando assumiu o papel de socorrista na Torre Sul antes que ela desmoronasse.

    Ele teria ajudado pelo menos dez pessoas a escapar da torre em várias viagens acima e abaixo nas escadas, antes de morrer junto com um grupo de bombeiros da cidade de Nova York.

    A sua história é uma das inúmeras de heroísmo daquele dia sombrio, que completa 16 anos nesta segunda-feira. Ela foi contada diversas vezes, mas é apresentada em detalhes dramáticos e pungentes em um novo documentário, "Man in Red Bandana" ("O homem do lenço vermelho"), que estreou no último fim de semana em vários cinemas da área de Nova York e também está sendo lançado online.

    Sua estreia foi na noite de quarta-feira (6), não em Manhattan, mas em Suffern, não longe da cidade natal de Crowther, Upper Nyack, no Estado de Nova York.

    Quase mil pessoas lotaram o Lafayette Theater, um enorme cinema dos anos 1920, que foi decorado com um grande lenço vermelho para essa noite.

    "É o maior lenço do mundo –seis por seis metros", disse Matthew Weiss, que escreveu, dirigiu e coproduziu o filme.

    Weiss estava no saguão do cinema recebendo os convidados, muitos dos quais eram parentes e amigos de Crowther, assim como funcionários do departamento de emergências local.

    Yana Paskova - 6.set.2017/The New York Times
    The premiere of the documentary the?Man In Red Bandana,? about a 9/11 hero, at the Lafayette Theater in Suffern, N.Y., Sept. 6, 2017. Welles Crowther, a rookie equities trader from Upper Nyack, rescued at least 10 people at ground zero and became known as the Man in the Red Bandana for the red handkerchief he wore over his face. (Yana Paskova/The New York Times)
    Fachada de cinema na cidade de Suffern, Estado de Nova York, no dia da estreia do documentário

    Quando começou o projeto, seis anos atrás, Weiss era um advogado em Manhattan especializado em violações de trânsito, sem experiência em cinema. Ele ouviu a história de seu gerente de banco, Jeff, que por acaso era o pai de Crowther.

    A ideia de um misterioso socorrista no 11/9 com um lenço vermelho era uma história que Weiss decidiu difundir.

    "Enquanto há cineastas que procuram histórias", disse ele à plateia na quarta-feira à noite, "esta foi uma história que encontrou um cineasta".

    Gwyneth Paltrow aceitou narrar o filme e Lyle Lovett gravou uma canção para ele.

    Quando menino, Welles Crowther seguiu o caminho do pai como membro dos bombeiros, na Empire Hook & Ladder Company No. 1, em Upper Nyack. Aos 7, ele ajudava a lavar os carros de bombeiros. Aos 16 tornou-se um membro júnior e aos 18 conquistou a posição de bombeiro oficial.

    Depois de estudar no Boston College, Welles Crowther foi trabalhar no banco de investimentos Sandler O'Neill, e estava no 104º andar da Torre Sul em 11 de setembro de 2001, quando o voo 175 da United Airlines atingiu o prédio.

    Depois de deixar para sua mãe, Alison, uma mensagem de voz dizendo que estava bem, ele não deu mais notícias. Alison Crowther disse que seguiu seu "instinto de mãe" depois dos atentados, procurando informações sobre seu filho e seus últimos momentos. Ela vasculhou a cobertura da imprensa mesmo depois que os restos mortais do filho foram recuperados no ponto zero, seis meses depois dos ataques.

    Yana Paskova - 6.set.2017/The New York Times
    Matthew Weiss at premiere of his documentary the ÄúMan In Red Bandana,Äù about a 9/11 hero, at the Lafayette Theater in Suffern, N.Y., Sept. 6, 2017. Welles Crowther, a rookie equities trader from Upper Nyack, rescued at least 10 people at ground zero and became known as the Man in the Red Bandana for the red handkerchief he wore over his face. (Yana Paskova/The New York Times)
    Matthew Weiss na estreia de seu documentário sobre Crowther, que resgatou ao menos dez pessoas

    Dois meses após a recuperação, no Dia da Memória de 2002, ela leu um longo artigo em "The New York Times" sobre o caos no interior das torres antes que elas desabassem, que incluía testemunhas descrevendo um socorrista anônimo: um funcionário de escritório de cabeça fria que apareceu no Sky Lobby, no 78º andar da Torre Sul.

    "Um homem misterioso apareceu", que conseguiu localizar a única escada que dava passagem e começou a conduzir grupos de pessoas feridas e atordoadas, segundo o artigo, que também deu um detalhe revelador sobre o socorrista, que emocionou sua mãe. Ele usava um lenço vermelho sobre o rosto para evitar a fumaça e os destroços.

    "Oh, meu Deus, Welles", soluçou Alison Crowther. "Eu o encontrei."

    Ela chamou o marido, que quase 20 anos antes tinha dado dois lenços a seu filho enquanto se vestiam para ir à igreja num domingo de manhã: um lenço branco para usar no bolso do paletó e um "utilitário" vermelho para assoar o nariz.

    "Um para mostrar e o outro para espirrar", Jeff Crowther disse ao menino, que desde então usava sempre um grande lenço vermelho.

    Ele o usava sob seus capacetes de hóquei e de bombeiro quando adolescente e sob o capacete de lacrosse quando jogou pelo Boston College. Ele o levava no bolso de seu terno de trabalho, todos os dias, ao World Trade Center.

    E aparentemente, como seus pais estavam agora lendo, ele o usou naquela manhã antes de organizar o resgate de um grupo na Torre Sul em chamas, em andares ainda não alcançados pelos bombeiros.

    Os Crowther contataram sobreviventes citados no artigo do "Times", que então viram fotografias da família de Welles e confirmaram que foi ele quem os salvou.

    "Eles descreveram uma figura calma e forte, que seguiram pela escada", disse Jeff Crowther, que aos 72 anos ainda é um voluntário atuante no esquadrão de bombeiros Empire.

    Yana Paskova - 6.set.2017/The New York Times
    The premiere of the documentary the ÄúMan In Red Bandana,Äù about a 9/11 hero, at the Lafayette Theater in Suffern, N.Y., Sept. 6, 2017. Welles Crowther, a rookie equities trader from Upper Nyack, rescued at least 10 people at ground zero and became known as the Man in the Red Bandana for the red handkerchief he wore over his face. (Yana Paskova/The New York Times)
    Mais de mil pessoas assistiram à estreia do documentário "Man in red bandana", sobre Crowther

    Manter a compostura durante resgates caóticos foi ensinado a seu filho no Centro de Treinamento contra Incêndio do Condado de Rockland, onde o treinamento incluía vasculhar salas cheias de fumaça e estruturas em chamas e carregar bonecos pesados, segundo ele.

    "No 11/9, ele usou esse treinamento da melhor forma possível", disse Jeff Crowther, acrescentando que seu filho lhe contou algumas semanas antes dos atentados que tinha decidido deixar o emprego nas finanças e se tornar um bombeiro em Nova York.

    Jeff Crowther disse que encontrou a inscrição para o trabalho de bombeiro, parcialmente preenchida, no apartamento do filho em Manhattan depois que ele morreu.

    Ele estava na quarta-feira à noite no saguão do cinema enquanto o poderoso órgão Wurlitzer tocava velhas canções e o público se acomodava nas cadeiras. Alguns eram sobreviventes que Welles Crowther ajudou a salvar, como Richard Fern, que lembra que desceu do 84º ao 78º andar, mas então não encontrava uma escada em condições de uso, até que ouviu alguém gritar: "Use esta escada aqui".

    Era um jovem que "punha as pessoas em fila para descer", disse Fern, que mais tarde percebeu que o rapaz era Welles Crowther.

    Em 2006, o Departamento de Combate a Incêndios de Nova York nomeou Welles Crowther um bombeiro honorário. Ele também foi citado pelo presidente Barack Obama em 2014, na cerimônia de inauguração do Memorial e Museu Nacional do 11 de Setembro em Manhattan.

    Um colega de Crowther na firma financeira certa vez caçoou do lenço vermelho sobre sua mesa, disse Jeff Crowther, e Welles teria respondido: "Este lenço vai mudar o mundo".

    "Foi só um comentário casual", disse Jeff Crowther. "Mas você sabe, de muitas maneiras, ele mudou. A história desse lenço deu a volta ao mundo e emocionou muita gente."

    Tradução de LUIZ ROBERTO MENDES GONÇALVES

    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024