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    Situação da Venezuela afeta até libido da população, relatam médicos

    YAN BOECHAT
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM CARACAS

    17/09/2017 02h00

    A crise venezuelana também chegou à cama. Com o país enfrentando dificuldades econômicas extremas, empobrecimento generalizado da população e perspectivas nebulosas sobre o desenrolar de um imbróglio político, cresce o número daqueles em busca de apoio para melhorar sua vida sexual.

    Nos consultórios de aconselhamento de casais, nas clínicas ou mesmo nos consultórios ginecológicos de hospitais públicos, a queixa crescente é de diminuição da libido.

    "É um reflexo natural dos problemas que as pessoas estão enfrentando, as pessoas acham que são máquinas, mas não são", afirma a psicóloga Jecsy Dugarte, que atende casais venezuelanos de classe média alta em crise.

    Fernando Torres, ex-presidente da Sociedade Venezuelana de Sexologia Médica, diz que já percebia um aumento nos casos de problemas sexuais há quase uma década. Mas, nos últimos anos, houve uma transformação brutal no perfil dos pacientes.

    "Antes as mulheres vinham como acompanhantes dos maridos", diz ele, pós-graduado em sexologia, especialidade médica específica na Venezuela. "Mas agora mais da metade de quem nos procura são mulheres, elas estão sofrendo mais que os homens", conta o médico, que se diz surpreso com a mudança.

    Yan Boechat/Folhapress
    A venezuelana Mildred com a filha, Sofia
    A venezuelana Mildred, que tem crises de ansiedade desde que a escassez na Venezuela se agravou

    Ele atribui a maior procura feminina ao aumento dos casos de depressão.

    "A questão da comida é algo muito sensível, e muitas famílias tiveram que mudar seus hábitos alimentares por conta da crise. Isso parece ter afetado mais as mulheres do que os homens." Se antes a procura feminina se dava pelas dificuldades de obter o orgasmo ou sentir prazer na relação, hoje elas basicamente se concentram na falta de libido.

    "E isso em todas as classes sociais, não se trata de uma exclusividade dos mais abastados", diz Torres, que atende cerca de 20 pacientes semanalmente no Hospital Universitário de Caracas.

    Dugarte diz que as separações de casais pela migração forçada de um ou outro tem causado ainda mais estresse nas relações. "Apesar de o homem venezuelano ser machista e querer ser o provedor, muitas vezes toda a frustração e o estresse estão sendo compensados no sexo", diz ela, que vive drama semelhante ao de suas pacientes.

    Seu marido quer deixar o país, mas ela não se sente segura. "Não estamos em crise, mas essa é uma discussão que temos tido com cada vez mais frequência".

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