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    Análise

    Merkel sai fortalecida, mas direita e 'brexit' desafiam seu legado

    JULIANO MACHADO
    EDITOR-ADJUNTO DE OPINIÃO

    25/09/2017 02h00

    A seu modo, bem diferente do que os brasileiros estamos acostumados a identificar como um político "bom de voto", a chanceler alemã, Angela Merkel, confirmou uma vez mais nas urnas suas credenciais de líder.

    Eleita neste domingo (24) para governar a Alemanha até 2021, ela inicia este quarto mandato fortalecida tanto interna quanto externamente, mas diante de alguns desafios que podem pôr em risco seu legado.

    O mais visível e imediato é saber como lidar com a entrada do partido de direita populista AfD (Alternativa para a Alemanha) no Parlamento –até então, a sigla criada em 2013 só tinha representantes nos Legislativos estaduais.

    Desde o fim do nazismo, a Alemanha não sabia o que era ter uma legenda declaradamente xenófoba com voz em sua mais importante tribuna.

    A AfD pode não ser considerada de extrema direita –esse espectro é ocupado pela agremiação neonazista NPD, que nunca superou a cláusula de barreira nas eleições nacionais. No entanto, possui um perigoso discurso anti-imigração e eurocético, o que será potencializado.

    VOTAÇÃO POR PARTIDO - Em %

    A AfD cresceu ancorada na rejeição à política de Merkel de permitir a entrada de refugiados. A decisão da chanceler insuflou os nacionalistas e gerou discórdia até dentro da base de seu partido, a CDU (União Democrata-Cristã).

    Ela refez o cálculo e estancou o fluxo migratório, mas às custas de um acordo da União Europeia com a Turquia. Na prática, Merkel ficou vulnerável ao presidente turco, Recep Erdogan, que volta e meia ameaça romper o pacto.

    Esse equilíbrio tênue deve perdurar pelos próximos anos, e a chanceler sabe que não pode dar muito combustível para a AfD se alimentar (apesar de analistas alemães verem um limite ao crescimento do partido).

    No campo externo, Merkel continuará com a tarefa de ser a principal antagonista de Donald Trump entre os mandatários das potências ocidentais. É possível que venha a ser ainda mais cobrada a fazer esse papel de contrapeso.

    Dentro da Europa, a chanceler terá pela frente, em 2019, a saída definitiva do Reino Unido da UE –se não houver extensão de prazo. Caberá a ela negociar a melhor relação com os britânicos no pós-Brexit e minimizar o impacto para o bloco de perder sua segunda maior economia, atrás da Alemanha.

    Superados esses percalços, Merkel ainda precisará definir como e quando sairá de cena. Seu primeiro mentor, o chanceler da reunificação Helmut Kohl (1930-2017), governou pelos mesmos 16 anos que ela terá à frente do país e tentou ficar por mais quatro. Perdeu e depois teve o legado manchado por um escândalo de caixa dois.

    Por ora, Merkel sabiamente se esquiva do assunto. Afinal, equilibrismo político não falta a quem está no comando de uma sólida democracia há 12 anos.

    Editoria de Arte/Folhapress
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