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    Apesar de pressão, curdos no Iraque votam em massa sobre independência

    PATRÍCIA CAMPOS MELLO
    DE SÃO PAULO

    26/09/2017 02h00

    Ignorando a pressão de Bagdá e as ameaças do Irã e da Turquia, curdos compareceram em massa nesta segunda-feira (25) para votar no plebiscito sobre a independência do Curdistão iraquiano. Segundo a TV Rudaw, mais de 78% dos 5,2 milhões de eleitores curdos votaram.

    A região do norte do Iraque, conhecida como Governo Regional do Curdistão (GRC), conquistou autonomia em 1991. Os curdos agora pleiteiam independência total de Bagdá e enfrentam oposição não só do governo iraquiano, mas também de outros países como Turquia e Irã, onde há minorias curdas e temor de movimentos separatistas.

    Safin Hamed/AFP
    Curdos comemoram realização de plebiscito sobre independência em Irbil, no norte do Iraque
    Curdos comemoram realização de plebiscito sobre independência em Irbil, no norte do Iraque

    Para Bagdá, uma secessão curda implicaria perda de território e de boa parte da produção de petróleo do país. Os curdos reivindicam várias áreas que foram conquistadas pelos soldados peshmerga durante o combate ao Estado Islâmico (EI). Entre elas está Kirkuk, cidade produtora de petróleo com população árabe, cristã e turcomena, contrária ao domínio curdo.

    O resultado da votação deve ser conhecido nos próximos dias e há expectativa de vitória do "sim" por ampla margem. O resultado da votação não é vinculante, mas deve ser usado pelo presidente do GRC, Massoud Barzani, para negociações com o governo central em Bagdá.

    O primeiro ministro do Iraque, Haider al-Abadi, afirmara no domingo (24) que o plebiscito "ameaça o Iraque" e "é um perigo para a região".

    Poucas horas após o fechamento das urnas, o ministério de Defesa do Iraque iniciou exercícios militares "de grande escala" com a Turquia.

    O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, afirmou que o país não reconhecerá os resultados do plebiscito e ameaçou cortar o acesso ao oleoduto que transporta o petróleo exportado pelos curdos para outros países.

    "Vamos ver como o GRC vai transportar seu petróleo e onde vai vendê-lo", disse Erdogan. "Somos os donos da torneira. No momento em que fecharmos a torneira, acabou." O Irã fez exercícios militares no domingo (24).

    À Folha, um embaixador de um país na região traduziu as preocupações das nações próximas: "Essa busca pela independência vai gerar instabilidade em vários países, grandes tensões étnicas entre árabes e curdos", disse.

    Os curdos são o maior povo sem pátria do mundo —30 milhões espalhados por Turquia, Iraque, Síria e Irã. "Os curdos iraquianos querem controle sobre Kirkuk, que produz quase um terço do petróleo do Iraque, é inviável."

    Os EUA, apesar de aliados dos curdos na luta contra o EI, condenaram o plebiscito.

    Editoria de Arte/Folhapress
    VAQUEM SÃO OS CURDOSCom uma população estimada em 30 milhões, eles vivem em uma região nas fronteiras de Turquia, Síria, Iraque e Irã
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