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    Empresariado alemão adverte sobre incerteza 'tóxica' após eleição

    TOBIAS BUCK
    DO "FINANCIAL TIMES" EM BERLIM

    26/09/2017 17h12

    Líderes empresariais alemães deram o alarme sobre o escorregão à direita do país e o risco de incerteza política "tóxica", advertindo que o sucesso do partido Alternativa para a Alemanha (AfD) nas eleições gerais de domingo (24) poderá afastar investidores estrangeiros.

    Dieter Kempf, o presidente da Federação de Indústrias Alemãs (BDI), disse que as posições adotadas pela AfD durante a campanha "não seriam vistas como um convite pelos investidores estrangeiros" e que o partido já prejudicou a imagem do país no exterior.

    Ele disse à rádio alemã na terça-feira (26) que o programa da AfD marca "um recuo no tempo e um recuo para o plano nacional".

    As empresas têm de deixar claro que as "conexões globalizadas" da Alemanha são exatamente o que tornou a economia forte, disse Kempf. "Acreditamos que as posições da AfD estão simplesmente erradas", acrescentou ele.

    A intervenção de Kempf é a última advertência dos líderes empresariais sobre o tumulto político provocado pela eleição. A chanceler Angela Merkel e seu bloco conservador CDU/CSU sofreram uma queda acentuada de apoio popular e enfrentam a árdua tarefa de formar um governo de coalizão amplo, mas díspar, com o Partido Verde e os Democratas Livres, de centro.

    A grande vencedora nas urnas foi a AfD, um partido anti-imigrantes que pede o desmonte da zona do euro. Ele ganhou perto de 13% dos votos, o que o torna o terceiro maior bloco no Parlamento.

    Fabrizio Bensch/Reuters
    Anti-immigration party Alternative fuer Deutschland AfD top candidates Alice Weidel and Alexander Gauland make a statement after their first parliamentary meeting in Berlin, Germany September 26, 2017. REUTERS/Fabrizio Bensch ORG XMIT: INK354
    Alexander Gauland e Alice Weidel foram os mais bem votados de seu partido, o AfD

    Falando nesta semana, o chefe da Volkswagen, Matthias Müller, descreveu a AfD como "de extrema-direita e contra os estrangeiros", e seu sucesso como "chocante". Joe Kaeser, executivo-chefe da Siemens, disse que a forte votação no partido foi uma "derrota para as elites da Alemanha".

    Eric Schweitzer, presidente da Câmara de Comércio alemã, advertiu na segunda-feira que as empresas "não podem de modo algum" aceitar um clima contrário aos estrangeiros.

    Mas o sucesso da AfD é apenas um entre vários desafios políticos para os líderes empresariais. Analistas e autoridades esperam uma longa rodada de negociações para formar uma nova coalizão, que poderá durar vários meses.

    "Os impasses são tóxicos para a economia", disse Kempf. "Se houver insegurança e falta de visibilidade, ninguém investirá, especialmente no Mittelstand [empresas de médio porte]."

    Outra preocupação provavelmente será o possível envolvimento dos verdes em um futuro governo Merkel. Apesar de o partido ter perdido grande parte de seu legado radical, continua defendendo posições em áreas como energia e transportes que vão contra as adotadas por setores chaves.

    Entre outras coisas, os verdes querem acelerar o desligamento paulatino das usinas movidas a carvão e obrigar a indústria de automóveis a mudar a produção de veículos com motores a combustão interna para carros elétricos.

    A Federação Automobilística da Alemanha, VDA, disse na terça-feira: "Está claro que os motores a combustão interna continuarão tendo um papel importante para a mobilidade durante muitas décadas ainda –juntamente com outras tecnologias. Os motores a combustão interna modernos financiam o presente e o futuro dos automóveis. Essa conexão deve ser levada em consideração por todos".

    A VDA pediu que os líderes políticos criem uma "estrutura amiga da inovação" e evitem "proibições".

    Tradução de LUIZ ROBERTO MENDES GONÇALVES

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