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    Catalães pró-permanência na Espanha dizem que separação é erro histórico

    DIOGO BERCITO
    ENVIADO ESPECIAL A BARCELONA

    30/09/2017 03h28

    Quando soube que Madri enviava suas forças policiais à Catalunha para manter a ordem durante o plebiscito separatista deste domingo (1º), o catalão Javier Barraycoa não se conteve e comprou 30 quilos de presunto.

    Aliado a outros catalães contrários à independência, ele entregou peças do embutido aos agentes deslocados à região, como a dizer "estaremos ao lado de vocês quando impedirem a consulta". "Alguns deles tinham lágrimas nos olhos", afirma.

    Nascido e criado na Catalunha, Barraycoa se considera tão catalão quanto espanhol. Seu gesto em relação à polícia ilustra a complexidade da votação de domingo.

    Enquanto, de um lado, distribui-se comida a policiais, do outro, militantes separatistas ocupam escolas em Barcelona para garantir que estejam abertas no dia do pleito. A polícia avisou que pretende desalojá-los.

    "Vão ter que passar por cima dos nossos cadáveres", diz Maria, que prefere não dizer o sobrenome, enquanto assenta acampamento na escola Collaso I Gil.

    Ela não permite que a reportagem passe pelos portões, fechados com cadeado. Os ativistas tomaram o lugar assim que os alunos saíram, um gesto de desafio repetido em toda a região. Esses grupos se denominam "Comitês de Defesa do Referendo".

    A Catalunha, um dos territórios da Espanha, tem história e língua próprias. Após a ditadura de Francisco Franco (1939-75), o processo de transição democrática instituiu uma série de liberdades para essa região, como a possibilidade de ter Parlamento e polícia próprios.

    Houve tentativas de separação no passado, mas o movimento ganhou força nos últimos anos com as sucessivas vitórias eleitorais de partidos favoráveis à independência.

    O Parlamento catalão aprovou neste ano uma lei convocando o plebiscito de domingo, considerado ilegal pelo Tribunal Constitucional espanhol. Legisladores preveem declarar a independência até 48 horas depois do voto, caso vença o "sim". Depois, uma nova Constituição seria escrita. O governo central em Madri não vai reconhecer essa separação.

    HISTÓRIA ENVIESADA

    Grupos catalães contrários à secessão argumentam que a visão de história do governo separatista é enviesada. Por essa razão, o catalão Josep Alsina criou há quatro anos o Somatemps, um grupo de historiadores a favor da manutenção na Espanha.

    É nos termos do discurso histórico que o governo central deveria combater o nacionalismo, diz Alsina, e não apenas enviando policiais e dizendo que o plebiscito é ilegal. "Precisa promover um discurso hispanista, em vez de falar em leis e em juízes."

    Outra organização favorável à permanência é a Sociedade Civil Catalã, chefiada por Mariano Gomà, que desconversa. "Plebiscito? Que plebiscito? Não é que sejamos contra. Ele nem existe."

    E completa: "Eu nem deveria ter que explicar as razões pelas quais quero seguir sendo espanhol. Para que sairíamos da União Europeia, do euro, da Otan? Para vender nossos produtos à Europa como se fôssemos argentinos?".

    Editoria de Arte/Folhapress
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