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    Parlamento da Catalunha estuda atrasar declaração de independência

    DIOGO BERCITO
    ENVIADO ESPECIAL A BARCELONA

    03/10/2017 02h00

    Um dia após um plebiscito separatista marcado pela violência policial, o governo catalão pediu nesta segunda (2) uma mediação internacional para resolver a crise e deu sinais de que a declaração unilateral de independência não será imediata.

    O presidente catalão, Carles Puigdemont, disse a jornalistas que não quer "uma ruptura traumática". "Queremos um novo entendimento com o Estado espanhol."

    Na véspera, seu governo havia declarado que 90% dos eleitores votaram "sim" na consulta pela separação do território da Espanha. Apenas 2,2 milhões de pessoas, 42% do eleitorado, participaram.

    Estava previsto que o Parlamento catalão declarasse a independência 48 horas após o voto. Mas a busca de mediação deve desacelerar o processo. O governo regional sinaliza ainda que só vai agendar a discussão legislativa na quarta-feira (4). A declaração pode ocorrer apenas na semana que vem.

    As autoridades centrais em Madri não reconhecem o plebiscito, considerado ilegal pelo Tribunal Constitucional, e não vão aceitar a declaração de independência —que não deve ter apoio da comunidade internacional.

    Apesar dos pedidos do governo catalão por mediação, a resposta de outros países e da União Europeia foi morna, apoiando a manutenção da lei por Madri —ainda que com críticas ao uso da força. O Parlamento Europeu vai debater o assunto na quarta.

    O governo espanhol tentou impedir o voto de domingo deslocando centenas de policiais à região, o que resultou em 893 feridos.

    O primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, estuda agora como reagir ao desafio separatista. Ele se reuniu com as principais forças políticas para buscar apoio ao seu argumento de que está apenas defendendo a lei no país.

    Uma das opções atuais de Madri é aplicar o chamado Artigo 155, que revoga temporariamente a autonomia catalã e permite a imposição de eleições antecipadas.

    A Catalunha, que já tem certa autonomia, com Parlamento e polícia próprios, quer separar-se por completo da Espanha. Uma das razões é cultural, já que catalães têm história e língua particulares. Também há o argumento econômico —a região produz 20% do PIB espanhol, de US$ 1,2 trilhão.

    A violência policial e a sensação de não haver diálogo com o governo central têm alimentado a indignação popular no território. Várias greves estão convocadas para terça (3).

    Centenas de pessoas protestaram nesta segunda contra a violência diante da sede da Polícia Nacional em Barcelona. Com bandeiras catalãs, os manifestantes gritavam "covardes" e "as ruas serão sempre nossas".

    A crise é agravada pela presença de diferentes forças de segurança na Catalunha. Os Mossos —a polícia catalã— se recusaram a cumprir as ordens do governo central para impedir a votação. Com isso, Madri recorreu à Polícia Nacional, que atua em todo o território, e à Guarda Civil, força com atribuições militares.

    "Quero que a polícia espanhola vá embora", afirmou à Folha Gerard C., 26, que preferiu não informar o sobrenome. "Já temos nossa própria polícia, que nos defende."

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