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    Presidente turco culpa embaixador americano por disputa sobre visto

    CARLOTTA GALL
    DO "NEW YORK TIMES", EM ISTAMBUL

    11/10/2017 14h20

    Brendan Smialowski - 21.set.2017/AFP
    S President Donald Trump reaches to shake Turkey's President Recep Tayyip Erdogan's hand before a meeting at the Palace Hotel during the 72nd United Nations General Assembly on September 21, 2017 in New York City. / AFP PHOTO / Brendan Smialowski
    Os líderes dos dois países se encontraram na Assembleia Geral da ONU deste ano

    As autoridades turcas atacaram os EUA na terça-feira (10) por sua decisão de suspender os vistos para cidadãos turcos, defendendo seu direito de deter funcionários da embaixada americana que acusaram de espionagem e culpando o embaixador americano pela disputa.

    "Nós não começamos esse problema", disse o presidente Recep Tayyip Erdogan em uma entrevista durante visita à Sérvia. "O problema são os próprios EUA."

    Erdogan criticou o embaixador dos EUA, John Bass, por prejudicar as relações entre seus países e disse que ele deveria ter se demitido ou sido chamado depois de tomar essa decisão unilateral. Ele disse que as autoridades turcas não aceitarão visitas de despedida do embaixador, que já estava agendado para deixar a Turquia em alguns dias para ser o embaixador no Afeganistão.

    "Nós não o consideramos o representante dos EUA na Turquia", disse Erdogan. A Turquia não cancelou suas credenciais diplomáticas, entretanto.

    O Departamento de Estado defendeu Bass na terça-feira, dizendo que sua decisão de suspender os serviços de vistos na Turquia foi autorizada nos mais altos níveis do governo americano, incluindo o Departamento de Estado e a Casa Branca.

    "O embaixador Bass tem todo o nosso apoio, não apenas aqui no Departamento de Estado, mas também na Casa Branca", disse Heather Nauert, a porta-voz do departamento.

    A disputa começou no domingo (8), depois que um funcionário turco do consulado dos EUA em Istambul foi preso, acusado de ter ligações com Fethullah Gulen, o clérigo islâmico acusado pelo governo turco de orquestrar um golpe fracassado no ano passado.

    Thomas Urbain - 18.jul.2016/AFP
    This file photo taken on July 18, 2016 shows Turkish cleric and opponent to the Erdogan regime Fethullah Gulen sitting at his residence in Saylorsburg, Pennsylvania. Turkey has asked the German authorities to formally investigate reported sightings in Germany of a top suspect in last year's failed coup who still remains at large. Ankara blames the doomed bid on July 15, 2016, to oust President Recep Tayyip Erdogan on the US-based Islamic preacher Fethullah Gulen, and has implemented a ruthless crackdown on his suspected supporters. / AFP PHOTO / Thomas URBAIN
    Fethullah Gulen, principal oponente político do presidente turco Recep Tayyip Erdogan

    O empregado do consulado foi o segundo a ser detido neste ano. Um terceiro está sendo procurado, e a polícia interrogou seus parentes, segundo reportagens na imprensa turca.

    A embaixada dos EUA desmentiu as acusações como sem fundamento, e em reação parou temporariamente de emitir vistos para cidadão turcos viajarem aos EUA, enquanto avalia o compromisso da Turquia com a segurança de funcionários e instalações dos EUA
    .
    Em poucas horas o Ministério das Relações Exteriores turco anunciou medidas semelhantes nos EUA, acrescentando que a suspensão inclui vistos eletrônicos e vistos comprados na fronteira, o modo como a maioria dos turistas e outros visitantes temporários entram no país.

    Na terça-feira, a Turquia parecia ter suspendido seu serviço de vistos eletrônicos para os americanos. Mas autoridades disseram no início da tarde que nenhum americano foi recusado, já que nenhum chegou sem visto.

    O governo turco vem conduzindo uma ampla repressão sob o estado de emergência desde a tentativa de golpe em julho de 2016, em que prendeu mais de 50 mil pessoas e suspendeu 150 mil por supostas ligações com o movimento de Gulen. Ancara também insistiu na necessidade de investigações abrangentes e expurgos para retirar das instituições do governo os que tramaram o golpe e apoiadores de Gulen.

    Militares, políticos, jornalistas, acadêmicos e funcionários públicos foram incluídos nessa ampla ação, assim como várias dezenas de cidadãos estrangeiros, incluindo 11 americanos.

    Autoridades ocidentais acusaram Erdogan de deter cidadãos estrangeiros como reféns ou como moeda de troca para garantir a extradição de Gulen, que vive em um exílio autoimposto na Pensilvânia desde o início dos anos 1990.

    Analistas políticos disseram que Erdogan também está preocupado com casos jurídicos nos EUA contra 15 de seus guarda-costas, que são acusados de atacar manifestantes em Washington em maio, e um grupo, que inclui um ex-ministro do governo, acusado de conspirar para romper as sanções ao Irã.

    Aumentando a tensão, um tribunal turco condenou na terça-feira uma repórter do "Wall Street Journal" a mais de dois anos de prisão por causa de um artigo que ela escreveu sobre os curdos, segundo o jornal. O tribunal considerou a reportagem propaganda terrorista em apoio a uma organização separatista curda que foi proibida.

    A condenação da repórter, Ayla Albayrak, que tem dupla cidadania, turca e finlandesa, e está atualmente em Nova York, "salienta o ataque cada vez maior aos jornalistas na Turquia", relatou o jornal.

    "Essa decisão contra uma jornalista profissional e respeitada é uma afronta a todos os que são comprometidos com a promoção de uma imprensa livre e forte", disse William Lewis, executivo-chefe da Dow Jones, companhia que publica o jornal. "Apelamos aos que compartilham esse compromisso a que façam ouvir suas vozes."

    Uma pesquisa realizada recentemente pelo Grupo de Pesquisas Pew descobriu que 72% dos cidadãos turcos acham que o poder e a influência dos EUA são uma grande ameaça a seu país, um aumento de 28 pontos percentuais em relação a 2013.

    A suspensão americana dos vistos para não imigrantes poderá afetar mais de 100 mil cidadãos turcos que viajam aos EUA anualmente, mas a Turquia deverá sofrer mais, já que cerca de 500 mil americanos, viajantes a negócios e turistas, visitam o país anualmente.

    Mas a Turquia parece ter regredido em seu anúncio inicial de que todos os vistos seriam suspensos. O ministro da Alfândega e Comércio, Bulent Tufencki, disse que nenhum americano sem visto poderia entrar no país, acrescentando que nenhum havia tentado até então. A polícia do aeroporto confirmou que nenhum americano foi recusado, já que nenhum tentou entrar sem visto.

    O comércio não seria prejudicado imediatamente, já que grande parte do comércio é conduzida eletronicamente hoje em dia, disse o ministro.

    "O mundo está ficando menor", disse ele. "Nem tudo está ligado a um visto."

    Tradução de LUIZ ROBERTO MENDES GONÇALVES

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