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    ANÁLISE

    Novo acordo entre Fatah e Hamas deve ser visto com algum ceticismo

    DIOGO BERCITO
    DE MADRI

    12/10/2017 16h45

    Mahmud Hams/AFP
    Palestinos de Gaza comemoram a assinatura do acordo entre as facções Hamas e Fatah

    O acordo entre as facções palestinas Fatah e Hamas, anunciado nesta quinta-feira (12), é um avanço considerável. Em especial para a população palestina, prejudicada pela fricção política desde 2007.

    Mas é razoável manter o cinismo e evitar, por ora, embelezar as negociações com palavras como "históricas".

    Quando Fatah e Hamas tentaram se reconciliar em 2011, por exemplo, o líder palestino Mahmoud Abbas disse: "Viramos a página negra da divisão para sempre". Mas a página se desvirou, naquele ano e em outros.

    Foram diversas as tentativas de encontrar um meio-termo entre as facções, e os mesmos desafios ameaçam os acordos desta semana.

    Uma das questões fundamentais é o improvável desarmamento do Hamas. O governo do Fatah só incluirá a facção rival dentro de seus ministérios caso aceite desmobilizar os 25 mil homens armados em suas fileiras.

    A presença desses militantes no governo conjunto da Cisjordânia e de Gaza teria sérias implicações nas relações dos palestinos com Israel e EUA, que consideram o Hamas uma organização terrorista.

    As armas também desencorajariam os doadores internacionais, cuja verba hoje é essencial para a manutenção do frágil governo palestino.

    Outro grave empecilho é a distância entre as ideologias dessas facções, agravada durante uma década de atritos, e também o espaço entre as duas populações que têm sido governadas por elas.

    Palestinos em Gaza, sob o mando do Hamas, viram seu território se tornar cada vez mais conservador. A facção tentou impôr o véu às mulheres e separar meninos e meninas dentro da escola, por exemplo, além de ter perseguido homossexuais.

    Não que a Cisjordânia seja um bastião da liberdade individual -jornalistas são detidos ali por criticar o governo do Fatah-, mas existe bastante mais autonomia.

    O cinismo diante do acordo entre as facções tem ainda uma terceira motivação: os interesses de quem mediou sua reaproximação.

    As negociações foram realizadas no Cairo, em um momento em que o presidente Abdel Fattah al-Sisi está isolado internacionalmente.

    Para devolver o Egito ao mapa-múndi da geopolítica, Sisi se esforçou em empurrar as fichas do Qatar e de Turquia para fora do tabuleiro. Esses dois países foram tradicionalmente os mediadores no conflito entre palestinos.

    Mas o mesmo Cairo que está apoiando a reconciliação é, em parte, responsável pelas disputas. O Egito, afinal, fechou nos últimos anos as passagens ao sul de Gaza e destruiu os túneis ilegais cavados pelo Hamas.

    Com isso, estrangulou a economia do território, um papel que nem os políticos nem a população já esqueceram.

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