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    Governo Trump

    Trump tenta impor restrições ao Irã, sem ônus de sair do acordo

    PATRÍCIA CAMPOS MELLO
    DE SÃO PAULO

    13/10/2017 22h59

    Vahid Salemi - 24.set.2017/AP
     In this Sunday, Sept. 24, 2017 file photo, a Ghadr-H missile, center, a solid-fuel surface-to-surface Sejjil missile and a portrait of the Supreme Leader Ayatollah Ali Khamenei are displayed at Baharestan Square in Tehran, Iran, for the annual Defense Week which marks the 37th anniversary of the 1980s Iran-Iraq war. Iran's paramilitary Revolutionary Guard faces new sanctions from U.S. President Donald Trump as he has declined to re-certify the nuclear deal between Tehran and world powers. But what is this organization? (AP Photo/Vahid Salemi, File) ORG XMIT: TEH101
    O míssil Ghadr-H é exibido próximo a uma imagem do líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei

    O presidente Donald Trump poderia simplesmente ter alegado que o Irã havia cometido uma "violação significativa" do acordo nuclear e anunciado sanções contra o país. Isso está previsto no tratado. No entanto, Trump se limitou a não certificar o acordo e jogou a batata quente para o Congresso, que agora precisa decidir se aplicará sanções.

    Trump, que passou a campanha inteira dizendo que o tratado com o Irã era um dos piores da história, queria sair do acordo, como fez com o tratado de Paris sobre o clima e a Parceria Transpacífico.

    Mas seus assessores alertavam para o perigo de o presidente se tornar o grande responsável por romper um tratado que, em última instância, impediu que o Irã desenvolvesse armas nucleares. Fora o fato de que ninguém, nem mesmo Trump, dizer que o Irã não cumpre os termos acordados.

    Dessa maneira, "decertificar" o acordo, demonstrando sua rejeição, ao mesmo tempo em que transfere o ônus de decidir sobre sanções para o Congresso, foi a saída honrosa encontrada pelo governo.

    Na sexta-feira (13), apesar de Trump ter esbravejado mais uma vez contra o Irã, chamando o país de "ditadura" e "regime fanático", os alvos reais das ameaças do republicano eram o Congresso e a China, a Rússia e os países europeus signatários do acordo nuclear:

    "Se não conseguirmos chegar a uma solução trabalhando com o Congresso e nossos aliados, o acordo será rescindido", disse.

    Para europeus, chineses, russos e iranianos, isso seria péssima notícia. As exportações de petróleo do Irã quase dobraram desde que as sanções foram levantadas, em janeiro de 2016. O comércio com a Europa dobrou em 2016 e dobrou novamente no primeiro semestre deste ano.

    Grandes empresas europeias, como a Airbus e a Total, fecharam vários negócios com o Irã depois da suspensão das penalidades. A Renault e a Volkswagen voltaram a operar no país.

    Se os EUA impuserem sanções contra empresas iranianas e aquelas que fazem negócios com elas, as europeias poderiam ser atingidas. A UE já prepara proteções legais para suas empresas.

    Dois senadores republicanos vão propor uma legislação que tornaria permanentes as restrições ao desenvolvimento nuclear no Irã -uma das críticas é que, no acordo atual, elas expiram. Além disso, as sanções seriam reimpostas caso se determinasse que o Irã está a um ano de fabricar armas atômicas.

    "Não recomendamos que o Congresso imponha sanções, pois isso equivaleria a romper o acordo", disse o secretário de Estado, Rex Tillerson. "Temos uma oportunidade real de corrigir algumas das falhas do texto."

    Infelizmente, não dá para ter o melhor dos dois mundos, alertam especialistas. Trata-se de uma tentativa de mudar as regras sem dizer que se está mudando. Seriam criados um acordo paralelo e sanções adicionais.

    "Isso é simplesmente uma tentativa de renegociar unilateralmente um acordo multilateral", disse à Folha Daryl Kimball, diretor-executivo da Associação de Controle de Armas. "Duvido que a comunidade internacional ou Teerã vá aceitar."

    "Não se trata de um acordo bilateral, um único país não pode romper o acordo", disse Federica Mogherini, ministra das relações exteriores da UE.

    "O Irã não aceitaria concordar com tudo aquilo com que não concordou até hoje, não existe esse acordo mágico", diz Phillip Gordon, que foi assessor de Obama para o Oriente Médio.

    O Irã já avisou que não será o primeiro a romper o acordo, mas, caso algum signatário o faça, pode voltar a enriquecer urânio.

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