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    Ataque mostra que estabilidade na Somália era ilusória

    PATRÍCIA CAMPOS MELLO
    DE SÃO PAULO

    16/10/2017 02h00

    Quando o presidente Mohamed Abdullahi Mohamed foi eleito em fevereiro deste ano, parecia que finalmente a Somália poderia deixar de ser um "Estado fracassado".

    O país passara 20 anos sem um governo funcional e grande parte do território estava em guerra. Mohamed —conhecido pelo apelido Farmaajo, derivado da palavra queijo em italiano, formaggio— era um candidato popular e aparentemente menos corrupto.

    Diferentemente do que ocorreu em outras eleições, em fevereiro não houve nenhuma grande manifestação —ou atentado— da facção terrorista Al Shabaab em represália ao pleito.

    Esperançosos, muitos exilados somalis começaram a voltar para o país.

    O governo do Quênia se aproveitou da onda de otimismo para acelerar a repatriação de refugiados somalis vivendo em Dadaab, um dos maiores campos de refugiados do mundo, com 240 mil pessoas.

    Segundo o governo queniano, a Somália estava se tornando um país estável e podia agora receber de volta seus cidadãos - apesar da seca que mais uma vez ameaçava espalhar a fome no país e dos protestos do alto comissariado da ONU para refugiados.

    Por causa da seca, 700 mil pessoas tiveram de fugir de suas casas em busca de água e alimentos em 2017 (em 2011, 250 mil morreram de fome).

    Assista ao vídeo

    O atentado do sábado (14) —atribuído à Al Shabaab, embora a milícia ainda não tenha reivindicado a autoria— mostra que a estabilidade na Somália é ilusória.

    Desde 2011, tropas da União Africana travam uma batalha contra os extremistas do Al Shabaab, com ajuda de ataques aéreos e de drones americanos.

    O Al Shabaab surgiu como um braço jovem do governo da União dos Tribunais Islâmicos, que controlava a capital Mogadício em 2006, antes de ser derrubado por tropas etíopes. O grupo passou a ser uma milícia independente e combater o governo somali e as tropas da União Africana.

    Os extremistas também fazem atentados no Quênia —em 2015, na universidade de Garissa, deixaram 148 mortos.

    Os extremistas vivem de cobrança de propinas de contrabando em caminhões.

    Feisal Omar - 14.10.2017/Reuters
    ATTENTION EDITORS - VISUAL COVERAGE OF SCENES OF DEATH Civilians carry the dead body of an unidentified man from the scene of an explosion in KM4 street in the Hodan district of Mogadishu, Somalia October 14, 2017. REUTERS/Feisal Omar ORG XMIT: GGGAFR120
    Civis carregam corpo de homem morto em explosão em Mogadício, na Somália

    Adeptos do wahhabismo, versão fundamentalista do Islã disseminada pelos sauditas, impõem a sharia, a lei radical islâmica, onde estão presentes. Mulheres adúlteras eram apedrejadas e acusados de roubo podiam ter as mãos cortadas. Originalmente, a maioria dos somalis seguia a vertente sufista do islamismo, mais liberal.

    As tropas africanas, com apoio dos americanos, haviam conseguido enfraquecer a Al Shabaab no últimos anos. Em 2011, os extremistas controlavam 55% do território do país, e no final de 2016, estavam restritos a cerca de 10% do país. As milícias recuaram das grandes cidades e estavam confinadas na zona rural do país.

    Mas, nos últimos meses, a facção voltou a ganhar terreno e conquistou várias cidades nos subúrbios de Mogadício, além de manter sua presença no sul e leste do país. O ataque de sábado, maior da história da Somália, demonstra que a Al Shabaab está longe de ser derrotada.

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