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    Nova onda migratória muda perfil da comunidade brasileira em Israel

    DANIELA KRESCH
    MIRIAM SANGER
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM TEL AVIV

    19/10/2017 02h00

    Ouvir português na cidade de Raanana, a cerca de 15 km de Tel Aviv, se tornou corriqueiro. A incidência da língua nas ruas, consequência do aumento da imigração brasileira para Israel, é tamanha que, há um ano e meio, o rabino paulistano Ivo Zilberman, 36, pensou que havia chegado a hora de criar a primeira sinagoga só para brasileiros no país.

    Daniela Kresch/Folhapress
    O rabino paulista Ivo Zilberman na sinagoga de brasileiros Kehilat Or Israel em Raanana, Israel
    O rabino paulista Ivo Zilberman na sinagoga de brasileiros Kehilat Or Israel em Raanana, Israel

    Com o apoio de algumas famílias veteranas, Zilberman fundou, em janeiro de 2017, a sinagoga Kehilat Or Israel (Comunidade Luz de Israel), frequentada por cerca de 60 famílias brasileiras de Raanana, cidade de 90 mil habitantes, onde vive há uma década. Na sinagoga, o hebraico é a língua das orações. Mas todo o resto é em português, das prédicas (sermões) às conversas entre as rezas, passando pelos avisos e os bate-papos após o serviço.

    A ideia deu tão certo que o primeiro espaço alugado para sediar a sinagoga, com 70m² e permissão de uso apenas aos fins de semana, tornou-se pequeno —em setembro, um espaço permanente e maior, agora com 130m², foi inaugurado. Ali está sendo organizado o primeiro ulpan (curso de hebraico) a ser ministrado em português.

    "Nos tornamos um centro de referência para muitos brasileiros que estão chegando", diz o rabino Zilberman.

    A aliá (imigração) brasileira para Israel passa por seu momento mais robusto desde a criação do país, em 1948. Historicamente, a média de brasileiros que escolhia morar em Israel era de 150 a 200 por ano. Desde 2014, no entanto, os números vêm aumentando. Foram mil em 2016, fluxo que deve ser superado em 2017.

    ORGANIZAÇÃO

    Com a chegada de tantos brasileiros, pela primeira vez estão sendo criados grupos, comunidades, ONGs e sinagogas somente para quem fala e entende português.

    A maioria dos imigrantes é formada por judeus, beneficiados pela Lei do Retorno (que concede cidadania imediata e benefícios temporários aos judeus que optam por morar em Israel). Mas líderes comunitários dizem que tem aumentado o percentual de não judeus —em geral cônjuges em casamentos mistos.

    Raanana tem se destacado como escolha dos novos imigrantes. Quando a psicóloga infantil carioca Rita Cohen Wolf, 51, chegou à cidade, há 24 anos, havia três famílias brasileiras na cidade. Hoje, são cerca de 200, o bastante para que surgisse a demanda para criar o grupo Yalla Chaverim (Vamos Amigos), que organiza eventos culturais.

    O grupo também ajuda os novatos a navegarem pelo cotidiano israelense. Já organizou, por exemplo, visitas a supermercados para ensinar quem não lê hebraico a identificar os produtos.

    "Quando começamos, éramos cinco casais de amigos. Hoje, já temos 400 inscritos", diz Rita. "Antes, os olim [imigrantes] brasileiros queriam se inserir rapidamente na sociedade israelense, sem contato com outros brasileiros. Isso mudou."

    A ONG pioneira foi o Beit Brasil (Casa do Brasil), que começou em meados de 2014 e que conta com 150 voluntários por todo o país. O grupo centraliza ações junto ao governo israelense e já participou de reuniões no Knesset (Parlamento) com pedidos de atenção especial à imigração brasileira, como validação de diplomas profissionais.

    Segundo um dos fundadores, o empresário paulista Michel Abadi, 44, prefeituras locais, que antes achavam que poderiam atender os brasileiros em espanhol, já buscam funcionários que falem português: "Só agora começam a entender que brasileiros não são argentinos", brinca.

    Outro exemplo é o da cidade de Modiin (entre Tel Aviv e Jerusalém), onde 300 jovens sul-americanos —a maioria brasileira— criaram a ONG Bnei Darom (filhos do sul) e convidaram o rabino paulistano Daniel Segal, 37, para criar a sinagoga Maarava Menashe. "O boom brasileiro vem com uma mudança: pela primeira vez, eles não têm vergonha de buscar integração com conterrâneos", diz.

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