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    Documento consagra Xi Jinping, mas ele não tem prestígio de Mao

    CHRIS BUCKLEY
    DO "NEW YORK TIMES"

    25/10/2017 02h00

    Greg Baker/AFP
    Pôster de Xi Jinping em Pequim; assim como Mao Tsé-Tung e Deng Xiaoping, líder muda Constituição
    Pôster de Xi Jinping em Pequim; assim como Mao Tsé-Tung e Deng Xiaoping, líder muda Constituição

    O líder da China, Xi Jinping , conquistou uma vitória política na terça-feira (24) quando o Congresso do Partido Comunista, em Pequim, consagrou seu nome e suas ideias , tornando-as parte de sua Constituição.

    Isso tem um grande peso tanto para o futuro do partido quanto para o da China. Representa um sinal claro para os dirigentes do partido, que encaram com seriedade as mudanças de doutrina e estão sempre atentos às mudanças no balanço de poder.

    Uma expressão crucial aqui é "nova era", e Xi a usou diversas vezes.

    Ele descreveu a história chinesa posterior a 1949 como dividida em duas eras: a primeira, compreendendo as três décadas que sucederam a tomada do poder por Mao Tsé-tung, em uma revolução que estabeleceu a República Popular da China; a segunda, abarcando as três décadas a partir de 1978, quando Deng Xiaoping tomou o poder e mudou o foco da China para o desenvolvimento da economia.

    Xi sinalizou que está lançando uma nova era. Deu a entender que Mao tornou a China independente, e Deng, próspera; agora, ele voltará a torná-la forte.

    Restaurar a grandeza da China é uma mensagem central do "Pensamento de Xi Jinping" acrescentada à Constituição, e é um objetivo que vem orientando as políticas do presidente para expandir as Forças Armadas , reforçar o controle interno e elevar o perfil internacional da China.

    Ao adotar as ideias de Xi, o Partido Comunista o coloca em um pedestal doutrinário comparável ao de Mao e Deng. Até a terça, eles eram os dois únicos líderes chineses cujas ideias apareciam na lista de doutrinas-chave.

    Adicionar as ideias de Xi à Constituição citando o nome dele o eleva acima de seus dois antecessores imediatos, Jiang Zeming e Hu Jintao, cujas proposições constam da lista de doutrinas, sem menção a seus nomes.

    Depois de assumir o poder em 2012, Xi surpreendeu muita gente pela rapidez com que assumiu o controle. Isso incluiu deixar sua marca em duas das mais poderosas instituições do país, o partido e as Forças Armadas, o que ele fez por meio de uma campanha de combate à corrupção.

    Mas a base do poder de Xi difere da de Mao, ou mesmo da de Deng. Esses dois líderes foram fundadores da República Popular e eram revolucionários experimentados cujas décadas de luta e sacrifício lhes conferiram um carisma e uma autoridade que Xi simplesmente não tem como reproduzir. Apesar de todo o seu poder, Xi não exerce o domínio quase divino que Mao um dia exerceu.

    Por outro lado, a economia, o Estado e as Forças Armadas chinesas são muito mais poderosos hoje do que eram sob Mao ou sob Deng, o que confere a Xi muito mais influência internacional.

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    14 anos
    é a idade mínima para entrar na Juventude Comunista, principal porta de entrada para o PC

    88 milhões
    de membros tem o PC chinês, cerca de 6% da população do país

    75%
    dos integrantes são homens

    30%
    dos integrantes trabalham na agropecuária

    Principais questões do congresso

    Presidente
    Hoje, Xi Jinping é o secretário-geral do partido; não há presidente. Recriar a posição diminuiria a importância do Comitê Permanente

    Comitê Permanente
    Formado por sete homens, dos quais a maioria vai se aposentar. Entre os cotados para ingressar estão Li Shulei, que atua no combate à corrupção, e Chen Miner, aliado de Xi

    Indicações
    Diversas indicações, como a de ministro do Exterior e de presidente do Banco Central, serão decididas, mas algumas só serão anunciadas em março de 2018

    Sucessor
    A ascensão de Xi foi confirmada em 2007, quando passou a integrar o Comitê Permanente. Um sucessor teria de ser apontado para o órgão agora e ser jovem o bastante para servir por ao menos 15 anos

    Reformas
    Congresso vai determinar se Xi manterá sua promessa de 2013 de que o mercado tenha papel "decisivo" na economia. Iniciativas de reforma serão importantes, como as ligadas ao sistema fiscal, aos impostos sobre os imóveis e à posse de terras

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

    Edição impressa

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