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    OPINIÃO

    Poder de Xi molda estratégia confiante de longo prazo da China

    KEVIN RUDD
    ESPECIAL PARA O "FINANCIAL TIMES"

    25/10/2017 07h00

    O 19º Congresso do Partido Comunista Chinês provocou muitos comentários, mas o que significa de fato? Congressos de partidos tratam essencialmente de três coisas: a primeira é liderança, assessores e poder; a segunda é ideologia; e a terceira, visão política.

    Na primeira, o presidente Xi Jinping reforçou ainda mais sua posição. Hoje ele é o líder supremo da China.

    Aly Song/Reuters
    Cartaz com foto do líder chinês, Xi Jinping, que ficará mais cinco anos no comando do país, em Xangai
    Cartaz com foto do líder chinês, Xi Jinping, que ficará mais cinco anos no comando do país, em Xangai

    Cinco anos atrás eu disse que ele seria o líder mais chinês poderoso desde Deng Xiaoping. Estava enganado. Hoje ele é o líder mais poderoso da China desde Mao Tsé-tung.

    Xi manteve punho de ferro sobre o partido durante uma campanha contra a corrupção que teve 278 mil autoridades punidas, 440 em nível ministerial e acima, incluindo muitos adversários no birô político.

    Este congresso indica que Xi continuará sendo o líder máximo da China além dos próximos cinco anos, e possivelmente pelos próximos 15. Seu discurso-maratona na semana passada enfatizou a conclusão da próxima missão nacional da China até 2035, parte do progresso para se tornar uma grande potência global até meados do século. A inferência é que veremos Xi no cargo até 2030.

    E sua ideologia? Xi afirma que a China continuará sendo governada permanentemente por um partido leninista controlando um Estado unipartidário. Supor, como fizeram alguns no Ocidente, que a China se transformará gradualmente em uma democracia parecida com Singapura ou no estilo ocidental é material para sonhos.

    Xi delineia dois grandes objetivos: de 2020 a 2035, a China se tornará uma economia e uma sociedade "totalmente moderna"; isto será seguido de mais 15 anos, até 2050, em que a China concretizará sua busca por riqueza nacional e poder, assumindo a posição de grande potência.

    Isso coincide com o centenário da fundação da República Popular, em 1949. Então Xi planeja que a China terá se tornado "um líder global de força nacional composta e influência internacional".

    Sobre o papel da China no mundo, devemos examinar o discurso de Xi em novembro de 2014. Ele falou sobre um novo tipo de relações entre grandes potências, com uma nova paridade entre EUA e China; um novo sistema internacional cujas regras subjacentes serão cada vez mais moldadas pela China; e uma diplomacia chinesa mais ativa e assertiva.

    A história chinesa oferece pouca orientação sobre como a China deverá agir como potência global. A maior parte da historiografia nacional se concentra na governança doméstica e em como impedir a entrada de estrangeiros no país.

    Embora seja difícil discernir a forma exata do que Xi chama de "comunidade global de destino comum para toda a humanidade", a mensagem é clara: preparem-se para uma nova onda de ativismo político internacional chinês.

    A terceira dimensão são as políticas. Aqui, a questão central é a economia. Xi assumirá o desafio de implementar o projeto de reforma econômica do partido de 2013 para transformar o país de uma potência manufatureira, com salários baixos e mão de obra intensiva, baseada em exportações, em um modelo econômico de altos salários, baseado no crescimento da produtividade conduzido pela tecnologia e um setor de serviços explosivo?

    Se o fizer, o dividendo econômico em longo prazo para a China será a confirmação de sua posição como maior economia do mundo.

    A lista do que poderá dar errado no projeto político de Pequim é formidável. Mas seria insensato assumir, como fazem muitos em Washington, que a transição chinesa para a preeminência global implodirá sob o peso das contradições políticas e econômicas supostamente inerentes ao modelo chinês.

    O Ocidente precisa refletir sobre sua própria condição. Desde a queda da União Soviética, houve pouca direção estratégica sobre a ideia do Ocidente em si, e os elementos vitais do projeto capitalista e liberal-democrata.

    Pelo contrário, o Ocidente está cada vez mais autoabsorvido, autossatisfeito e globalmente complacente. A China marcha para sua visão de destino global. Ela tem uma estratégia. O Ocidente não tem.

    KEVIN RUDD foi primeiro-ministro da Austrália e é presidente do Instituto de Políticas da Sociedade Ásia, em Nova York.

    Tradução de LUIZ ROBERTO MENDES GONÇALVES

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