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    Jornal de oposição a Putin diz que vai dar armas para seus profissionais

    IGOR GIELOW
    DE SÃO PAULO

    27/10/2017 16h08

    Odd Andersen - 8.nov.2014/AFP
    Former President of the Soviet Union Mikhail Gorbachev attends a symposium on security in Europe 25 years after the fall of the "Wall" in Berlin on November 8, 2014. Gorbachev warned in Germany on November 7, 2014 of new East-West tensions sparked by the Ukraine crisis, speaking ahead of ceremonies commemorating the fall of the Berlin Wall. AFP PHOTO / ODD ANDERSEN ORG XMIT: 2561
    O ex-presidente da União Soviética Mikhail Gorbatchov, que ajudou a fundar a "Novaia Gazeta"

    Um dos principais jornais de oposição ao governo de Vladimir Putin, o "Novaia Gazeta", anunciou nesta sexta-feira (27) que irá distribuir armas que disparam balas de borracha para que seus profissionais possam se defender de ataques.

    A medida ocorre três dias depois que a apresentadora de rádio Tatiana Felgenhauer foi esfaqueada no estúdio da rádio "Ekho Moskvi" ("Eco de Moscou", em russo) -a única estação independente do Kremlin no país.
    O homem que a atacou foi preso, e o governo trata o caso como um evento motivado por "loucura". Tatiana, 32, segue internada.

    "Eu vou armar a Redação. Vamos fornecer outras medidas de segurança aos jornalistas, que não irei revelar. Não temos outra opção", disse à imprensa russa o editor-chefe do "Novaia Gazeta" ("Novo Jornal", em russo), Dmitri Muratov.

    Ele afirmou que está em negociações com o Ministério do Interior da Rússia, que regula o porte de armas no país -modelos com balas não-letais podem ser comprados com facilidade.

    O adjunto de Muratov, Sergei Sokolov, disse por sua vez que "se o Estado não está pronto para nos proteger, nós vamos nos proteger sozinhos". A publicação emprega cerca de 20 jornalistas.

    Recentemente, a fabricante de armas Kalashnikov, que produz o famoso fuzil AK-47, divulgou que daria desconto de 10% para jornalistas interessados em adquirir pistolas de pressão que disparam balas de borracha.

    O episódio é mais um na longa disputa entre meios de comunicação independentes e o Kremlin, que controla as principais redes de TV do país e tem grande influência sobre a maioria dos jornais, revistas e sites russos.
    Quatro jornalistas do "Novaia Gazeta" foram mortos desde o ano 2000, quando Putin assumiu o governo pela primeira vez.

    O caso mais famoso foi o de Anna Politkovskaia, assassinada em 2006. Ela era uma repórter investigativa e crítica aberta do
    presidente.

    O jornal foi fundado em 1993 com a ajuda do último presidente soviético, Mikhail Gorbatchov, que usou o dinheiro que ganhou ao receber o Prêmio Nobel da Paz de 1990 para equipar a Redação.

    Os antigos computadores estão lá ainda, no hall de entrada do jornal, que fica numa área tranquila ao norte do centro de Moscou.
    A publicação circula três vezes por semana, com tiragem de cerca de 180 mil exemplares.

    Desde a elevação de Putin ao poder, a "Novaia Gazeta" assumiu um tom explicitamente oposicionista. Foi um dos primeiros órgãos de imprensa russo a estabelecer uma editoria específica para reportagens investigativas.

    A política oficial do Kremlin é dar de ombros e classificar o jornalismo praticado por órgãos como o jornal ou a "Ekho Moskvi" como propaganda, o que por vezes é justificado pelo tom militante das reportagens.

    A "Novaia Gazeta" recebeu prêmios internacionais de liberdade de imprensa, e recentemente foi vítima de ameaças após publicar reportagens sobre a perseguição a homossexuais na Tchetchênia, república russa.

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