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    Documentário relata violência sexual contra minoria rohingya em Mianmar

    CAROLINA VILA-NOVA
    DE SÃO PAULO

    29/10/2017 02h00

    Elas fazem parte de uma sociedade tradicional, mas foram vítimas de violência sexual diante de seus parentes e vizinhos, viram seus familiares sendo mortos e tiveram de fugir sem nem ao menos a roupa do corpo.

    Por isso, não viram mais sentido em continuar usando o véu islâmico ao expor para o mundo a violência que seu povo, os rohingya de Mianmar, estão sofrendo.

    Foi com essa cena que o documentarista e jornalista bengalês baseado em Londres Shafiur Rahman deparou na província de Teknaf, no sul de Bangladesh, em janeiro deste ano.

    "Foi uma decisão das meninas. Elas tiraram seus niqabs [tipo de véu islâmico] declarando que sua dignidade havia sido tirada pelo Exército birmanês e que elas haviam sido envergonhadas e abusadas diante de suas famílias e comunidades", contou Rahman, sobre o grupo que havia fugido de Mianmar havia 12 dias.

    Rahman conta que não tinha intenção de fazer um documentário sobre o problema da violência sexual contra mulheres rohingya. "Eu estava só sentindo o terreno."

    Shafiur Rahman/Cortesia
    Rashida viu sua filha ser morta na sua frente; seu marido foi levado pelos militares e ela não sabe se ele ainda vive.
    A refugiada rohingya Rashida, entrevistada para o documentário

    "Estava entrevistando Rashida [uma das mulheres] fora de sua tenda de plástico e bambu. Era uma entrevista dolorosa onde ela descrevia a morte de sua filha de 12 anos e como a criança foi enterrada em segredo à noite", conta Rahman.

    Um voluntário da ONG ACF o chamou para uma reunião com outras mulheres e disse a elas: "Ele é jornalista. Por favor, digam a ele, quantas de vocês foram violentadas?".

    "Eles não levantaram as mãos, mas uma a uma todas levantaram. Foi um momento avassalador. Um daqueles momentos em que trabalho não é trabalho e você sente que testemunhou algo singular. As entrevistas que se seguiram foram extremamente difíceis para mim e para meu intérprete. O que ouvimos, nós não deveríamos ter de ouvir da boca de adolescentes."

    Daí nasceu o documentário "Testemunho Rohingya: Sem razão para esconder nossos rostos" (veja vídeo acima).

    Rahman conta que está filmando em Bangladesh pelo menos uma semana todos os meses do ano. Seu novo projeto é sobre o vilarejo de Tula Toli, palco de um massacre em Mianmar.

    "Os testemunhos que coletei parecem indicar que o massacre foi planejado bem antes de 25 de agosto. Até agora, a narrativa tem sido de que as operações do Exército birmanês foram em resposta aos ataques dos rebeldes rohingya em 25 de agosto. Meu trabalho sugere que houve um planejamento prévio, o que é assustador. O Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos e outras organizações estão chegando às mesmas conclusões."

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