• Mundo

    Saturday, 27-Apr-2024 14:02:12 -03

    Terrorista planejou ataque durante semanas, diz polícia de Nova York

    SILAS MARTÍ
    DE NOVA YORK

    01/11/2017 14h47 - Atualizado às 23h03

    No dia seguinte ao mais letal atentado terrorista em Nova York desde o 11 de Setembro, as autoridades entenderam que não houve muita margem para surpresas ou acidentes nos atos de Sayfullo Saipov, que deixaram oito mortos no sul de Manhattan.

    Investigadores dizem que o suspeito, um homem de 29 anos nascido no Uzbequistão e residente legal dos Estados Unidos há sete anos, planejava seu ataque há um ano.

    St. Charles County Department of Corrections/KMOV via AP
    Sayfullo Saipov, uzbeque apontado como autor de ataque em Nova York
    Sayfullo Saipov, uzbeque apontado como autor de ataque em Nova York

    Algemado a uma cadeira de rodas, o suspeito, que foi baleado na barriga por um policial e passou por cirurgia, depôs num tribunal na noite desta quarta em Nova York.

    Ele disse ter praticado dirigir caminhões e que escolheu o dia 31 de outubro, o Halloween, esperando aumentar o potencial do ataque, já que as ruas se enchem de fantasiados pedindo doces.

    Tanto o juiz Joon Kim quanto o chefe de inteligência da polícia nova-iorquina, John Miller, entenderam que Saipov agiu em nome do Estado Islâmico, elencando como evidências um bilhete em árabe encontrado na cena do crime em que aparece uma expressão corrente em mensagens do grupo extremista.

    De acordo com autoridades, ele pediu uma bandeira do EI para decorar seu quarto de hospital e pensou em afixar símbolos do grupo no veículo usado no ataque. Em seu celular, foram encontrados 90 vídeos e 4.000 imagens de ataques do grupo.

    Na tarde do dia seguinte ao ataque, o FBI, a polícia federal americana, chegou a anunciar que encontrou mais um possível envolvido no atentado, outro uzbeque chamado Mukhammadzoir Kadirov, mas logo disse que ele não era um suspeito do caso.

    Me Explica

    Saipov alugou uma caminhonete em Nova Jersey e invadiu uma ciclovia em Manhattan. Nela, ele dirigiu em alta velocidade por mais de um quilômetro, atropelando oito pessoas no caminho e deixando um rastro de bicicletas esmagadas até bater na lateral de um ônibus escolar.

    Ele planejava ainda seguir até a ponte do Brooklyn, mas foi detido antes da hora. Seis de suas vítimas morreram no local do crime, a ciclovia ao longo da rua West, que margeia o rio Hudson, e duas perderam a vida no hospital –são cinco argentinos, uma belga e dois americanos.

    Entre os 20 feridos, uma mulher teve as pernas amputadas e quatro continuam em estado grave. Três deles tiveram alta, e os que permanecem internados sofreram lesões na coluna e no pescoço.

    "De agora em diante, vamos considerar todos eles nova-iorquinos", disse o prefeito Bill de Blasio. "Eles compartilham essa tragédia conosco. Entendemos esse ato como um ataque ao nosso espírito e aos nossos valores, mas ele falhou na tentativa de quebrar o nosso espírito."

    O FBI agora vai estudar, por meio de câmeras e leitores de placas de carros, todos os movimentos de Saipov nos dias antes de seu atentado.

    O suspeito também já havia sido multado no trânsito e foi preso por não comparecer a um tribunal depois de uma infração. Mesmo assim, ele passou pela checagem de segurança do aplicativo Uber, para o qual trabalhava como motorista nos últimos meses.

    Quando chegou aos EUA, em 2010, Saipov foi primeiro para Ohio, onde trabalhou como caminhoneiro. Lá, ele se casou e depois se mudou para a Flórida. Neste ano, foi viver mais perto da família da mulher, em Paterson, no Estado de Nova Jersey, a uma hora de trem de Manhattan.

    Nos últimos anos, pessoas próximas a Saipov, entre eles um frequentador da mesma mesquita onde ele rezava, passaram a notar suas inclinações para o radicalismo.

    Um caminhoneiro que chegou a trabalhar com ele disse ao jornal "The New York Times" que Saipov era uma pessoa "cheia de monstros".

    "O que aconteceu não pode ser desfeito. Mas não há nenhuma grande mensagem no que ele fez", disse Andrew Cuomo, o governador de Nova York, lembrando que os nova-iorquinos vão demonstrar coragem diante dos atos de um "covarde depravado".

    Reprodução/Google Maps
    Local em que caminhonete foi parada, após colisões; prédio da escola aparece à esquerda
    Local em que caminhonete foi parada, após colisões; prédio da escola aparece à esquerda

    -

    ATAQUES EM NOVA YORK

    6.mar.2008
    Uma bomba caseira atingiu o Centro de Recrutamento das Forças Armadas na Times Square. A munição usada na bomba era a mesma empregada nas guerras do Iraque e do Afeganistão. Não houve feridos, e o autor do ataque é até hoje desconhecido

    25.mai.2009
    Kyle Shaw, 17, colocou uma bomba caseira em uma cafeteria do Starbucks em Upper East Side Manhattan. Não houve mortes. O ataque teria sido um tributo ao filme "Clube da Luta". O adolescente foi condenado a três anos e meio de prisão em novembro de 2010

    1º.mai.2010
    Faisal Shahzad tentou explodir um carro-bomba na Times Square, no entanto a tentativa fracassou. Ele foi preso mais tarde em um voo que ia para Dubai. Shahzad foi condenado à prisão perpétua em outubro de 2010

    23.out.2014
    Zale Thompson, 32, feriu dois policiais do Departamento de Polícia de Nova York em um ataque com uma machadinha no distrito de Queens. A polícia abriu fogo, matando Thompson e ferindo um civil.
    Thompson já havia sido preso seis vezes e chegou a fazer parte do Exército americano

    17-19.set.2016
    Quatro explosões ou tentativas de explosões na região metropolitana de Nova York deixaram 31 feridos. Ahmad Khan Rahimi foi identificado como suspeito e detido em Nova Jersey após um tiroteio que deixou três policiais feridos

    20.mar.2017
    James Harris Jackson, 28, viajou de Maryland para Nova York com o objetivo de matar homens negros e assim criar um espetáculo na mídia, segundo a polícia. Ele matou o morador de rua Timothy Caughman, 66, com uma espada em Midtown Manhattan

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024