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    Separatismo catalão já afeta economia, apontam indicadores pós-plebiscito

    DIOGO BERCITO
    DE MADRI

    03/11/2017 17h39

    O separatismo catalão, em parte justificado pela pujança regional, pode já ter causado dano à sua economia, a julgar pelos primeiros indicadores divulgados desde o controverso plebiscito independentista de 1° de outubro.

    A Catalunha foi a região que registrou o maior crescimento mensal do desemprego em relação a setembro. O número de desempregados nessa região subiu 14.698, a sua maior elevação desde 2008, o que significa um aumento de 3,67% —o dobro do percentual registrado no restante do país.

    Para comparação, a variação em Madri foi de 309 pessoas, em um total de 385 mil desempregados. Havia na Catalunha, em outubro, um total parecido: 415 mil.

    Os números, que podem estar diretamente relacionados à crise separatista, não são exatamente uma surpresa. O governo central espanhol, que deteve nesta semana os líderes independentistas, vinha alertando sobre seu impacto à economia.

    Mas a situação, ainda que esperada, pode desmotivar os simpatizantes do separatismo quando participarem das eleições regionais catalãs em 21 de dezembro. O plebiscito de outubro, considerado ilegal por Madri, teve participação de 43% do eleitorado catalão e 90% dos votos no "sim".

    SEPARADOS Como ficariam Espanha e Catalunha caso a independência aconteça

    O ex-vice-presidente catalão Oriol Junqueras, atualmente detido, chegou a dizer que empresas não deixariam a região. Mas o número de firmas que transferiram sua sede para fora da Catalunha chegou a 1.982 durante outubro. Elas não deslocaram seus funcionários ou estruturas, mas estão sujeitas à tributação nos novos endereços.

    O governo central aproveitou a situação econômica para voltar a exigir o retorno à estabilidade na região. A ministra do Emprego, Fátima Báñez, pediu que as instituições públicas garantam a segurança jurídica às empresas, evitando que deixem a Catalunha. "O grande objetivo nacional é que esses 400 mil catalães tenham a oportunidade de emprego que merecem."

    A estabilidade imediata, no entanto, parece improvável. O ex-presidente Carles Puigdemont, destituído por Madri, é investigado por rebelião e fugiu à Bélgica, de onde anunciou nesta sexta-feira (3) que não descarta ser candidato em dezembro. O crime de rebelião pode levar a 30 anos de prisão.

    Puigdemont disse em uma entrevista que pode inclusive concorrer a distância, pois é possível fazer campanha fora do país. "Estamos em um mundo globalizado."

    O porta-voz do governo espanhol, Íñigo Méndez de Vigo, afirmou que os políticos detidos poderão concorrer às eleições, se não tiverem sido condenados.

    Mas a própria realização de eleições terá impacto na economia. O pleito custará 25 milhões de euros, razão pela qual o Orçamento catalão deste ano precisou ser revisto.

    Caso a crise se alastre por todo o ano de 2018, a Catalunha pode perder 2,7 pontos percentuais em sua expectativa de crescimento e estagnar, segundo a Autoridade Fiscal. A Catalunha corresponde hoje a 20% do PIB espanhol, de US$ 1,2 trilhão.

    O impacto do separatismo também já é sentido no turismo. Apesar de ainda não haver estatísticas precisas, uma série de entidades do setor publicou seus números sugerindo uma queda de em torno de 20% na ocupação dos hotéis.

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