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    BBC

    Frei e ativistas brasileiros são presos em zona de mineração de diamantes no Zimbábue

    RICARDO SENRA
    DA BBC BRASIL EM WASHINGTON

    10/11/2017 20h15

    Tsvangirayi Mukwazhi -1.nov.2006/Reuters
    Mineiros escavam terreno em busca de diamantes no campo de Marange, no Zimbábue
    Mineiros escavam terreno em busca de diamantes no campo de Marange, no Zimbábue

    Um grupo de brasileiros, incluindo um frei católico, foi preso nesta sexta-feira durante uma visita a uma região de mineração de diamantes em Mutare, no Zimbábue.

    Pelo menos três brasileiros e outras 19 pessoas de países como África do Sul, Zâmbia, Quênia e Uganda foram levados por um ônibus da polícia local a uma prisão da cidade, a 270 quilômetros da capital, Harare, na fronteira com Moçambique.

    O Itamaraty já foi informado sobre as prisões e ainda não divulgou informações sobre a situação dos brasileiros.

    Entre os brasileiros presos estão o Frei Rodrigo Peret, da Comissão Pastoral da Terra de Uberlândia (MG), Maria Julia Gomes Andrade e Jarbas Vieira, do Movimento de Atingidos pela Mineração.

    A BBC Brasil conversou com a sul-africana Mercia Andrews, do movimento internacional de direitos humanos People's Dialogue (Diálogo dos Povos), que estava no local das prisões.

    Ela acompanhava a missão de ativistas da região de Marange, conhecida como uma das principais reservas de diamantes do planeta, cujas licenças de exploração foram ampliadas recentemente pelo governo do Zimbábue.

    "Estávamos conversando com os moradores da área, que estão sendo removidos de suas casas e relatavam abusos e limitações em seu direito de ir e vir", diz Andrews.

    Policiais teriam chegado ao local e levado os presentes em um ônibus para a prisão.

    COMUNIDADES LOCAIS AFETADAS

    Parte dos moradores da região já foi removida pelo governo para áreas distantes da mineração, que tem importância espiritual para a população local.

    Recentemente, as comunidades que ainda vivem ali têm sido pressionadas a sair.

    Observadores internacionais apontam crescente tensão no país, que enfrenta uma dura crise econômica e terá eleições presidenciais do ano que vem.

    Para o diretor da ONG Humans Right Watch na África, Dewa MAvhinga, a violência política coloca as eleições em risco.

    "No atual ambiente, altamente polarizado, um dos maiores desafios que o Zimbábue enfrenta antes das eleições no próximo ano é ter instituições de Justiça independentes, profissionais e não partidárias. Os vizinhos do Zimbábue na Comunidade de Desenvolvimento da África Austral devem pressionar o governo para que abusos do passado sejam investigados e para acabar com a violência e garantir que as eleições sejam justas", afirmou Mavhinga recentemente, em nota pública.

    Philimon Bulawayo -8.nov.2017/Reuters
    O ditador do Zimbábue, Robert Mugabe, em comício em Harare
    O ditador do Zimbábue, Robert Mugabe, em comício em Harare

    INSTABILIDADE

    Na última segunda-feira, o presidente do país, Robert Mugabe, de 93 anos, demitiu o vice-presidente, Emmerson Mnangagwa, sob acusações de traição.

    Removido do cargo após 37 anos de trabalho no governo local, Mnangagwa prometeu à imprensa local voltar para "lutar pela democracia" no país.

    "Há grande preocupação com o momento de instabilidade política do Zimbábue. Diversas organizações e militantes estão mobilizando as suas redes para prestar apoio e solidariedade aos companheiros e a todo o grupo", informou, em nota, o Comitê em Defesa dos Territórios Frente à Mineração, ao qual dois dos presos brasileiros são filiados.

    O presidente do Zimbábue está no poder desde 1980. Observadores estimam que um quarto da população tenha problemas de acesso a alimentos do país hoje.

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