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    Uso da 'marca' Anne Frank em trem, figurinhas e fantasias levanta debate

    DIOGO BERCITO
    DE MADRI

    12/11/2017 02h00

    Gianni Schicchi/AFP
    Lazio's defender from Netherlands Stefan de Vrij wears a t-shirt showing an image of holocaust victim Anne Frank, during the warm up prior the Italian Serie A football match Bologna vs Lazio on October 25, 2017 at the Renato-Dall'Ara stadium in Bologna. Emotions were still running high in Italy, days after Lazio fans posted anti-semitic photos of Anne Frank in a Roma jersey in the stands of the Stadio Olimpico. The Italian football federation announced that there will be a minute's reflection on the Holocaust before every match and a passage read from "The Diary of Anne Frank". At the same time referees and captains will hand out copies of the diary and Italian Jewish writer Primo Levi's memoir "If This Is A Man". / AFP PHOTO / Gianni SCHICCHI
    Stefan de Vrij, da Lazio, entra para aquecimento usando camiseta com o retrato de Frank, em Bolonha

    Anne Frank já não é mais a jovem alemã morta em 1945, aos 15 anos de idade, pelo regime de Adolf Hitler. Tampouco é a menina que narrou seus infortúnios em um diário que, publicado depois de sua morte, tornou-se um best-seller.

    Ela recentemente se transformou em outras coisas: uma fantasia de Halloween ou figurinhas de futebol. Há planos de batizar um trem de alta velocidade com seu nome na Alemanha, causando incômodo.

    "Sua história foi universalizada e, assim, foi desconectada da figura real", afirma à Folha Yves Kugelmann, um porta-voz do Anne Frank Fonds, fundo que detém os direitos de imagem dela. "Anne Frank se tornou um ícone que pode ser utilizado todos os dias, como queiram."

    Mas o querer às vezes se choca com a opinião pública. O trem alemão é o exemplo mais recente: a companhia de trens Deutsche Bahn decidiu dar o nome de Anne Frank a um de seus trens, pelo que foi criticada -eram trens que levavam judeus aos campos de concentração.

    Estima-se que o regime nazista tenha matado 6 milhões de judeus, incluindo Anne Frank e sua família.

    Como a Fundação Anne Frank -outra organização que defende seu legado- se uniu às críticas, assim como a comunidade judaica, a Deutsche Bahn vai reavaliar os planos. Outros trens podem receber os nomes do compositor Beethoven e do escritor Thomas Mann.

    "As pessoas usam Anne Frank como se ela pertencesse a todo mundo. Em geral fazem isso para se promover, e não para promovê-la", diz Kugelmann. "Anne já é bastante conhecida. Há outras vítimas do Holocausto para serem homenageadas com o nome de um trem."

    "Não é uma questão de permitir ou proibir o uso do nome, mas de discuti-lo", diz ele. "Vivemos em uma sociedade livre baseada não apenas na lei, mas também em uma série de valores. Entre eles, por exemplo, não fazer piadas com vítimas."

    Essa questão já tinha sido discutida no mês passado quando uma loja on-line de fantasias de Halloween ofereceu um disfarce infantil de Anne Frank, descrito como "heroína da Segunda Guerra". O alvoroço foi tamanho que o item saiu do catálogo.

    FUTEBOL

    Em outra polêmica recente, torcedores do time italiano Lazio distribuíram panfletos e adesivos com uma montagem de Anne Frank vestindo a camisa do principal rival, a Roma. Há décadas, fãs da Lazio protagonizam episódios de racismo, antissemitismo e xenofobia.

    Após a controvérsia, os jogadores do time fizeram seu aquecimento no último dia 25 vestindo camisetas com a imagem de Anne Frank e a frase "Não ao antissemitismo". A Federação Italiana de Futebol determinou que passagens do diário fossem lidas antes dos jogos.

    "Temos o direito legal de proteger o nome", diz Kugelmann, "mas não discutimos essas questões a partir de um ponto de vista legal".

    "Seria problemático se apenas pudéssemos protegê-la com base nos direitos autorais." É preciso, afirma ele, haver bom senso para falar de Anne Frank.

    CASO REABERTO

    Apesar das celeumas, Anne Frank não tem sido retomada apenas negativamente. Seu diário foi adaptado aos quadrinhos neste ano pela dupla israelense David Polonsky e Ari Folman.

    Divulgação
    Capa de "O Diário de Anne Frank em Quadrinhos"

    Foi também anunciado que um agente aposentado do FBI (polícia federal americana) decidiu reabrir o caso de Anne Frank -até hoje não se sabe quem traiu a família, escondida em Amsterdã.

    O detetive Vince Pankoke, 59, vai liderar um time de especialistas. A etapa preliminar, já em andamento, inclui um pente-fino em milhões de páginas de arquivos. A equipe vai criar também um modelo em 3D da casa para descobrir de quão longe se podiam ouvir os ruídos.

    Em 4 de agosto de 1944, a polícia nazista descobriu, atrás de uma estante de livros móvel, o esconderijo onde oito pessoas viviam. Apenas Otto Frank, seu pai, sobreviveu. Foi ele quem editou o diário anos mais tarde e criou o Anne Frank Fonds, para gerenciar seus direitos.

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