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    Justiça põe na mira tanto gestão K quanto membros do governo Macri

    SYLVIA COLOMBO
    DE BUENOS AIRES

    12/11/2017 02h00

    Juan Mabromata - 17.out.2017/Eitan Abramovich - 16.out.2017/AFP
    Photo composition showing file pictures of Argentine President Mauricio Macri(L) delivering a speech in support of Cambiemos party legislator candidates in Buenos Aires on October 17, 2017 and Argentina's former President and Buenos Aires senatorial candidate for the Unidad Ciudadana Party, Cristina Fernandez de Kirchner delivering a speech at Juan Domingo Peron stadium in Avellaneda, Buenos Aires on October 16, 2017. Argentine President Mauricio Macri's minority government faces a mid-term electoral test Sunday which is likely to confirm the political comeback of ex-president Cristina Kirchner, who is set to win a Senate seat. / AFP PHOTO / Juan MABROMATA AND Eitan ABRAMOVICH
    Composição de foto mostra o presidente Mauricio Macri e a ex-mandatária argentina Cristina Kirchner

    Nas últimas semanas, os argentinos viram cenas pouco comuns. Dois membros da cúpula dos governos de Néstor e Cristina Kirchner (2003-2015) foram colocados em prisão preventiva enquanto são investigados por corrupção.

    São Amado Boudou, vice-presidente no segundo mandato de Cristina (2011-2015), na cadeia sob a acusação de enriquecimento ilícito e tráfico de influência, e o ex-ministro do Planejamento Julio de Vido, investigado por desvio de verbas públicas e recebimento de propina de empresas em licitações.

    Ambos se dizem inocentes, alegam ser alvo de perseguição política e pedem que a detenção seja revogada, pois não concordam com a avaliação dos juízes de que podem atrapalhar as investigações.

    Boudou e De Vido são os mais conhecidos entre outros ex-funcionários kirchneristas na mira da Justiça. Outra é a própria Cristina, que por ora responde em liberdade a vários processos.

    Ela, porém, ganhou foro privilegiado por ter sido eleita senadora. Para ser julgada a partir de dezembro, quando assume o cargo, a Justiça terá de pedir ao Congresso que retire sua imunidade.

    Cristina também se diz vítima de perseguição política.

    Os casos da chamada "corrupção K" vêm sendo amplamente expostos pela imprensa —especialmente por aqueles que, durante o kirchnerismo, sofreram pressão verbal e financeira de Cristina e hoje estão alinhados ao presidente Mauricio Macri.

    Analistas ouvidos pela Folha concordam que a revelação dos casos de corrupção teve impacto nas eleições legislativas de 22 de outubro, em que a coalizão governista (Mudemos) saiu vencedora.

    "Há uma novidade na percepção do argentino com relação à corrupção, embora poucos acreditem que nossa Justiça tenha independência e que essas ações possam levar a uma condenação real. Mas o kirchnerismo perdeu votos com a exposição dos casos recentes", explica o analista político Patricio Giusto.

    Antes da eleição, a corrupção aparecia em terceiro lugar entre as principais preocupações dos argentinos, depois da inflação e da insegurança. Hoje, já superou a insegurança e está em segundo lugar, de acordo com pesquisa do instituto Management & Fit.

    "É positivo que esses casos sejam investigados, mas não há muita diferença com relação ao que ocorria no passado. Quando se troca o governo, a Justiça se adapta ao novo Executivo e passa a ir atrás dos delitos de governantes anteriores", diz Giusto.

    "Depois, em algum momento as investigações minguam, e ninguém vai preso. A novidade seria que fossem até o fim, e que também se passasse a investigar os casos do governo em curso."

    MACRISMO
    Se a corrupção K tinha como eixo principal os desvios de verbas e as propinas na construção de obras públicas, os casos dos aliados de Macri têm mais a ver com tráfico de influências e concessão de privilégios a parentes e a empresas amigas tanto do presidente como de sua família, proprietária do conglomerado Grupo Macri, que atua em diversas áreas, entre elas a construção.

    O caso que mais abalou a atual gestão foi o dos Correios, no qual o presidente autorizou um acordo entre o Estado e o Grupo Macri, comandado por seu pai, para que este tivesse uma dívida com o governo abatida em mais de 98%. Quando o acordo veio a público por meio da imprensa, o presidente se desculpou e anulou o tratado, pedindo sua reformulação.

    Outro caso é o da decisão do presidente de, por decreto, autorizar pessoas que possuem altas quantias no exterior sem declarar a formalizar esses valores sem pagar os impostos atrasados.

    Um dos primeiros a se beneficiarem dessa legislação foi o irmão de Macri, Gianfranco, que regularizou US$ 35,5 milhões que tinha no exterior a custo zero. "Ele fez as coisas dentro da nova lei, como outros agora podem fazer", limitou-se a dizer o presidente.

    Entre familiares e pessoas próximas a Macri, como membros da família Caputo e alguns integrantes do governo, que se beneficiaram da lei, foram isentados de impostos cerca de US$ 132,5 milhões.

    "Há uma diferença de escala e de natureza da corrupção entre os K e o círculo de Macri. A dos Kirchner é mais vistosa pela quantidade de tempo em que estiveram no poder. Mas é preocupante que o atual governo, em dois anos, já tenha acumulado escândalos e, principalmente, que tenha colocado à frente da Secretaria Anticorrupção alguém ligado ao Pro (Proposta Republicana, partido de Macri). Esse é um posto que deveria ser ocupado por uma pessoa não relacionada ao presidente", diz Giusto, referindo-se à titular do órgão, Laura Alonso.

    Na última semana, a divulgação dos Paradise Papers expôs ainda outros integrantes do governo que agora terão de explicar as contas offshore que mantêm enquanto ocupam cargos públicos. Entre eles estão Luis Caputo, atual ministro das Finanças, e o ministro da Energia, Juan José Aranguren.

    JOGO DE DARDOS

    Investigações e suspeitas dos dois lados do espectro político

    Casos do kirchnerismo

    Cristina Kirchner
    É processada por fazer movimentações de câmbio beneficiando-se de informação privilegiada, investigada pelo uso dos hotéis da família para lavagem de dinheiro e por evasão de divisas ao enviar € 55 milhões para fora do país com a ajuda de um amigo empreiteiro

    Amado Boudou
    Em prisão preventiva, é investigado por enriquecimento ilícito no período em que foi ministro e vice-presidente e tráfico de influência por usar um laranja para adquirir uma gráfica que, um período depois, foi autorizada a imprimir as cédulas de peso argentino

    Julio De Vido
    Também na cadeia, o ex- ministro do Planejamento está supostamente ligado ao superfaturamento em uma compra de gás e no desvio de Us$ 15 milhões da construção de uma mina de carvão. ainda é suspeito de ter participado do esquema de corrupção da odebrecht

    José Lopez
    ex-secretário de obras Públicas, está preso enquanto se investiga a origem de seis sacos com maços de notas de dólares e euros que ele retirou de dentro de um convento. assim como Boudou e de Vido, é investigado por suposto enriquecimento ilícito

    Guillermo Moreno
    ex-secretário de Comércio interior, é acusado de ser responsável pelo prejuízo causado à economia ao intervir no indec (iBGe argentino), o que tirou a credibilidade do órgão, e de pressionar a ameaçar jornais oposicionistas ao estatizar a empresa que produzia papel imprensa

    Casos do Macrismo

    Mauricio Macri
    Presidente está sendo investigado por suposto benefício o Grupo macri, de sua família, em acordo que perdoou 98,8% de uma dívida da empresa com a nação, referente à compra e posterior falência do Correio argentino durante as privatizações da década de 1990

    Juan José Aranguren
    Ex-presidente da shell na argentina e ainda acionista da empresa, o ministro da energia é acusado de tráfico de influência por ter se beneficiado de informação privilegiada numa compra de gás junto e de conflito de interesses por continuar comprando títulos da petroleira

    Jorge Macri
    Primo do presidente e prefeito de Vicente López, na Grande Buenos aires, teve 8 milhões de pesos embargados pela Justiça, em investigação sobre a compra de um apartamento em Miami, na qual teriam sido usados recursos desviados dos cofres públicos

    Gustavo Arribas
    O chefe da agencia Federal de inteligência foi citado na delação do doleiro Leonardo Meirelles, que o acusou de receber dólares após a Odebrecht e uma empresa que pertencia a um primo de Macri, Angelo Calcaterra, ganharem a licitação do soterramento de uma linha de trem

    Família Caputo
    Melhor amigo de Macri e fundador de seu partido, Nicolás Caputo é dono de uma das empresas que mais se beneficiaram em licitações quando o presidente era prefeito da capital. Seu primo, Luis, ministro das Finanças, é acusado de desviar recursos da Previdência

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