• Mundo

    Thursday, 02-May-2024 18:52:20 -03

    Governo Trump

    Donald Trump fez 1.628 afirmações falsas ou enganosas em 298 dias

    GLENN KESSLER
    MEG KELLY
    NICOLE LEWIS
    DO "WASHINGTON POST"

    15/11/2017 07h00

    Por algum motivo, nosso projeto de analisar, classificar e rastrear durante um ano cada afirmação falsa ou enganosa do presidente Donald Trump pareceu um grande fardo no último mês. Mas os números chegaram, e agora sabemos por quê: nos últimos 35 dias, Trump fez em média, incrivelmente, nove afirmações por dia.

    O número total hoje está em 1.628 afirmações em 298 dias, ou uma média de 5,5 por dia. Isso coloca o presidente a caminho de alcançar 1.999 afirmações até o final de seu primeiro ano no cargo, embora ele obviamente pudesse superar 2.000 com facilidade caso mantivesse o ritmo do último mês.

    Andrew Harnik/Reuters
    O presidente dos EUA, Donald Trump, conversa com repórteres ao sair do aeroporto, nas Filipinas
    O presidente dos EUA, Donald Trump, conversa com repórteres ao sair do aeroporto de Manila

    Como os leitores habituais sabem, o presidente tem uma tendência a se repetir —com frequência. Hoje há pelo menos 50 afirmações que ele repetiu três ou mais vezes.

    A declaração mais repetida de Trump, pronunciada 60 vezes, foi alguma variação da afirmação de que a reforma de saúde de Obama, conhecida como Obamacare, está morrendo ou "basicamente morta".

    O Escritório de Orçamento do Congresso disse que as opções pelo Obamacare, apesar de problemas bem documentados, não estão implodindo e deverão continuar estáveis pelo futuro previsível. De fato, o número saudável de inscrições para o próximo ano surpreendeu os especialistas.

    Trump também reivindica o crédito, repetidamente, por fatos ou decisões de negócios que ocorreram antes de ele tomar posse, ou mesmo de ser eleito. Ele afirmou 55 vezes que conseguiu investimentos empresariais e anúncios de empregos que tinham sido divulgados antes e podem ser facilmente encontrados numa pesquisa no Google.

    Com a pressão no Congresso para aprovar um plano fiscal, porém, dois pontos de discurso preferidos por Trump sobre impostos —que o plano fiscal será o maior corte de impostos na história dos EUA e que o país é um dos mais taxados do mundo— vêm subindo na lista.

    Trump repetiu 40 vezes a mentira sobre ter o maior corte de impostos, apesar de dados do Departamento do Tesouro mostrarem que ficariam apenas em oitavo lugar. E por 50 vezes Trump afirmou que os EUA pagam os mais altos impostos corporativos (19 vezes) ou que são um dos países mais taxados (31 vezes).

    A última declaração é falsa; a primeira é enganosa, pois o imposto corporativo efetivo nos EUA (o que as empresas pagam depois de deduções e lucros) acaba sendo menor que o índice oficial.

    Também rastreamos as cambalhotas reversas do presidente em nossa lista, pois são veementes. Ele passou a campanha de 2016 dizendo a seus apoiadores que a taxa de desemprego era na verdade de 42% e que as estatísticas oficiais eram falsas; agora, em 33 ocasiões ele elogiou o menor índice de desemprego em 17 anos.

    Este já era muito baixo quando Trump foi eleito —4,6%, o mais baixo em uma década—, por isso, o fato de ele não o admitir é enganoso.

    Por 57 vezes o presidente comemorou a alta da Bolsa de Valores —apesar de na campanha ele ter dito diversas vezes que era uma "bolha" que estouraria assim que o Federal Reserve começasse a aumentar as taxas de juros.

    Bem, o Fed aumentou as taxas três vezes desde a eleição —mas ela não despencou como Trump previa. Seguiu o aumento nos preços das ações iniciado sob Barack Obama em 2009.

    Mais uma vez, o presidente nunca explicou sua mudança de posição sobre o mercado de valores. Mas não conseguiu parar de falar a respeito durante sua viagem à Ásia.

    Nós mantemos o banco de dados lendo minuciosamente ou assistindo às inúmeras aparições públicas de Trump e entrevistas na televisão e no rádio. As entrevistas são especialmente difíceis de acompanhar, em parte porque a Casa Branca não as publica habitualmente em seu site.

    Além disso, Trump tende a procurar entrevistadores de tendência à direita, que raramente o desafiam ou questionam quando ele repete falsas afirmações que já foram checadas. As entrevistas muitas vezes contêm uma enxurrada de afirmações enganosas, e nos desesperamos porque supostos jornalistas não estão confrontando o presidente sobre sua retórica.

    Por isso ficamos surpresos ao ver um líder estrangeiro checar os fatos sobre o presidente em sua viagem à Ásia. Em 13 de novembro, Trump se reuniu com o primeiro-ministro da Austrália, Malcolm Turnbull, e o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, quando começou a repetir uma de suas afirmações falsas preferidas, a de que os EUA têm "deficits com quase todo o mundo".

    "Exceto nós", interveio Turnbull.

    "Exceto com vocês", concordou Trump, acrescentando: "Vocês são os únicos". Então sugeriu que ele deveria verificar os números, mas Turnbull lhe garantiu: "É verdade".

    De fato, os EUA têm um superavit comercial de produtos de US$ 13 bilhões e superavits comerciais de serviços de US$ 15 bilhões com a Austrália, principalmente por causa de um Acordo de Livre Comércio, segundo o Escritório do Representante Comercial dos EUA.

    Supomos que Trump estivesse brincando quando disse que a Austrália era "o único" país. Mas, para registro, os EUA também têm superavits comerciais com os Países Baixos, o Reino Unido, o Brasil, a Bélgica, Singapura, Hong Kong, Chile, Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, entre outros países, segundo a Comissão Internacional de Comércio.

    Tradução de LUIZ ROBERTO MENDES GONÇALVES

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024