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O candidato Sebastián Piñera logo após votar, neste domingo (20) |
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Mundo
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Voto no Chile é derrota da política tradicional
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA20/11/2017 00h11
Sebastián Piñera, o candidato da direita e ex-presidente, pode ter ficado em primeiro lugar na eleição deste domingo (19) no Chile, mas o fato mais marcante do pleito é que a política tradicional sofreu contundente advertência: primeiro, porque a participação foi de apenas 43% dos eleitores.
Significa que os 36% obtidos por Piñera, apurados 92% dos votos, representam um escasso 15,5% do eleitorado apto a votar. O segundo colocado, o senador Alejandro Guillier, candidato da coligação que governa com Michelle Bachelet, ficou com ainda menos: seus 22% sobre 43% de comparecimento representam meros 9,5%.
Ou seja, os dois candidatos que irão ao segundo turno têm, somados, o apoio de apenas 25% dos eleitores. Três quartos dos chilenos, portanto, não se sentirão representados no turno final.
Não por acaso, o primeiro pronunciamento da presidente Michelle Bachelet após a votação foi para defender que os chilenos compareçam ao segundo turno —reconhecimento implícito do alarme provocado pela abstenção.
Segundo lado dessa derrota dos políticos tradicionais: a inesperada votação de Beatriz Sánchez, a candidata da esquerdista Frente Ampla, que ficou a dois pontos percentuais de Guillier.
Trata-se de uma coligação de diferentes movimentos da sociedade civil, cujo embrião foram os protestos estudantis de 2011/13. É uma novidade na política chilena, comparável de certo modo ao grupo "Podemos" da Espanha, igualmente nascido de protestos, neste caso contra a austeridade imposta a partir da crise de 2008.
Um voto, portanto, contra os políticos tradicionais.
O resultado torna mais difícil prever o desenlace final, embora Piñera continue favorito. Mas, como teve bem menos do que os 44% que as pesquisas lhe davam, corre algum risco, pela seguinte conta: os votos da direita (Piñera mais José Antonio Kast, defensor da ditadura de Augusto Pinochet) dão aproximadamente 44%. Os votos da esquerda, se somados os de Guillier e Beatriz Sánchez, ficam muito perto (43%, pouco mais ou menos).
O que dá, ainda, o favoritismo a Piñera é o fato de que a Frente Ampla é fortemente crítica do atual governo e, na realidade, da "Concertación", a coalizão que governou o país desde o fim da ditadura, exceto pelo curto período de Piñera (2010/14).
É pouco provável que o grupo se mobilize para votar por Guillier (por Piñera, é impossível, pela visceral antipatia ideológica).
O mais lógico é que prefiram acentuar a mensagem aos políticos tradicionais, pregando a abstenção ou o voto nulo.
Além disso, Guillier não terá o entusiasmo de dois ex-presidentes, ambos da "Concertación", o socialista Ricardo Lagos e o democrata-cristão Eduardo Frei. Os dois já se recusaram a conversar para, no segundo turno, fazer parte da campanha do senador Guillier.
Ou seja, Piñera continua favorito, mas bem menos do que as pesquisas prévias diziam que era.
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