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    Piñera e Guillier vão precisar ampliar coalizão se eleitos no Chile

    ADRIÁN ALBALA
    DE ESPECIAL PARA A FOLHA

    21/11/2017 02h00

    Os surpreendentes resultados do primeiro turno das eleições do Chile abrem um cenário inédito de imprevisibilidade quanto à definição do vencedor final e à composição do próximo governo.

    Nenhum candidato parece em condição de formar uma coalizão majoritária, o que dificulta a governabilidade.

    Carlos Garcia Rawlins - 19.nov.2017/Reuters
    O ex-presidente Sebastián Piñera comemora com militantes após dia de eleição no Chile
    O ex-presidente Sebastián Piñera comemora com militantes após dia de eleição no Chile

    Se o candidato da direita e ex-presidente Sebastián Piñera chegou em primeiro, como previsto, estacionou nos 36,6%, bem menos do que as pesquisas lhe atribuíam.

    Se somarmos a esse percentual os votos obtidos pelo candidato da extrema direita pró-Pinochet, José Antonio Kast (Bolsonaro à chilena), chegamos a 44,5%. Ou seja, Piñera não tem a eleição ganha. Além disso, com 73 deputados (47%) e 19 senadores (44%), não contaria com maioria parlamentar.

    Do outro lado, o candidato da coalizão da atual situação de centro-esquerda, Alejandro Guillier, conseguiu chegar ao segundo turno com 22,7%. Esse resultado precisa ser colocado em perspectiva com os inesperados níveis de votação (20,3%) da coalizão de esquerda, Frente Ampla (FA), que se firmou como a terceira força da política chilena.

    Se aos dois somarmos o resultado do pequeno candidato esquerdista Marco Enríquez-Ominami (5,7%), chegamos a um potencial de 48,7% dos votos. Isso pressupõe, portanto, que Guillier adote uma postura mais de esquerda para o segundo turno.

    No entanto, conseguir um apoio eleitoral explícito da FA parece tarefa difícil. Mesmo se os terceiros colocados apoiarem Guillier, é muito improvável que isso se traduza em um governo de coalizão em caso de vitória.

    Os dois candidatos qualificados para o segundo turno enfrentam o mesmo dilema de equilibrista: adotar estratégias centrífugas para poder garantir o apoio dos eleitores dos candidatos eliminados, sem se afastar demais do debilitado centro, encarnado pela Democracia Cristã (DC).

    Desde 1990, a DC esteve alinhada com os partidos progressistas de cunho social-democrata, em uma coalizão que retomava o antagonismo pró/anti-Pinochet. Mas as relações azedaram durante o segundo mandato de Michelle Bachelet, levando a cúpula do partido a apresentar uma candidata e listas parlamentares por fora da coalizão.

    O tiro saiu pela culatra, pois o partido teve resultados catastróficos tanto para presidente (5,8%) como para parlamentares. Com só seis senadores e 14 deputados, a DC parece relegada a um papel coadjuvante.

    Mesmo se a sigla aceitasse voltar a formar uma coalizão de governo com Guillier, o grupo resultante não seria majoritário —controlaria apenas 36% da Câmara e 46% do Senado. Só uma megacoalizão (improvável) com a FA poderia outorgar uma maioria.

    Seja quem for ele, o próximo presidente deverá enfrentar a necessidade de ampliar sua coalizão ou então batalhar por acordos pontuais, acrescentando imprevisibilidade a sua ação política. Tudo isso em um clima de ampla desconfiança com a política, ilustrada neste domingo com o baixo nível de participação (46,1%).

    Editoria de Arte/Folhapress/Folhapress
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    Mapa dos votosPiñera venceu em todas as regiões do país
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