• Mundo

    Thursday, 02-May-2024 17:15:04 -03

    Governo Trump

    Site vende microlotes na fronteira com o México para atrasar muro de Trump

    FLAVIO SAMPAIO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PORTLAND

    24/11/2017 02h00

    Se depender de uma pequena empresa de jogos de Chicago e de mais 150 mil clientes, os planos de Donald Trump para construir um muro entre os EUA e o México terão de esperar. E muito.

    A estratégia do Cards Against Humanity (cartas contra a humanidade, ou CAH), jogo politicamente incorreto que virou febre nos EUA, é simples: comprar um terreno na fronteira dos dois países para revendê-lo em microlotes de US$ 15 (R$ 50) cada um.

    Mike Blake - 18.nov.2017/Reuters
    Guardas de fronteira observam família se abraçando na abertura do portão entre San Diego e Tijuana
    Guardas de fronteira observam família se abraçando na abertura do portão entre San Diego e Tijuana

    Assim, acreditam os idealizadores, o processo de desapropriação será mais lento e oneroso. Em apenas nove horas, os 150 mil lotes disponíveis foram vendidos, arrecadando US$ 2,25 milhões.

    Desde 2013, o CAH cria ações inusitadas às vésperas da Black Friday, o dia de compras que nos EUA se segue ao feriado de Ação de Graças. Neste ano, o time de comediantes que criou o jogo resolveu mirar no maior alvo disponível nos EUA: Trump.

    "Estamos em 2017 e o governo está sendo tocado por um vaso sanitário", afirma o vídeo da campanha. "Trump é uma criatura amorfa que tem medo de mexicanos. Tanto medo que quer erguer um muro de US$ 20 bilhões que todos sabem que não servirá para nada", diz a empresa, que contratou uma firma de advocacia especializada em desapropriação.

    Além de ganhar um certificado do microlote fronteiriço, cada cliente receberá em casa "seis surpresas salvadoras da América" até o Natal.

    A primeira inclui um mapa da região e alguns cartões novos para o jogo que é baseado em perguntas e respostas irônicas. As demais ainda são uma incógnita.

    "Não tenho ideia do que será enviado, e é isso que é bacana. No passado, eles mandaram meias, cartões personalizados do jogo e outras coisas aleatórias", diz Paul Debruler, um dos clientes.

    "Já participei de outras campanhas de fim de ano do CAH, algo sempre criativo e hilariante. Há dois anos, eles compraram um quadro do Picasso e prometiam fatiá-lo em pedacinhos para que muito mais gente pudesse ter uma obra legítima dele em casa", diz ele, que vive em Portland.

    Por votação dos próprios clientes do site, a obra do pintor espanhol Pablo Picasso acabou sendo doada para um museu em Chicago.

    "Participei desta ação para mostrar minha desobediência civil em relação ao muro", diz o designer Todd Greco. "E também porque eu adoro o humor deles."

    O JOGO

    O deboche é a marca desta empresa criada por oito amigos de escola em Chicago. O que começou há seis anos como brincadeira financiada pela plataforma de financiamento coletivo Kickstarter se tornou hoje uma empresa com 30 funcionários.

    O jogo original tem dois tipos de cartas: 90 pretas, com perguntas, e 460 brancas como opções de respostas.

    A cada rodada, uma pessoa é o "czar", responsável pela pergunta, enquanto os demais escolhem a resposta mais engraçada dentre as 10 opções que têm nas mãos.

    O czar decide quem deu a melhor resposta. Quem tiver mais pontos ganha.

    Exemplo de pergunta: Qual é meu poder secreto? Possíveis respostas: "sexo oral ao dirigir"; "usar roupa íntima do avesso para evitar uma lavada"; "lamber coisas para estabelecer que são suas".

    O jogo é um sucesso de vendas. Varejistas como Target e Amazon o vendem por US$ 25, mas qualquer pessoa pode baixar o arquivo gratuitamente no site da empresa.

    "O jogo está disponível sob licença gratuita. Isso significa que você pode usar e compartilhar sem custo, mas não pode vendê-lo sem nossa permissão. Por favor, não roube nosso nome, ou iremos esmagá-lo", alerta o site.

    Sem previsão para venda no Brasil, o CAH tem duas versões gratuitas traduzidas por fãs disponíveis para baixar no site www.cardsagainsthumanity.com.

    Em 2014, a loja enviou cocô de vaca a 36 mil pessoas que pagaram US$ 6 na Black Friday de seu site por "bullshit", "bobagem" em inglês. Em 2015, 11.248 pessoas gastaram US$ 5 ou mais para receber o anunciado: nada.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024