O brutal ataque terrorista desta sexta-feira (24) no Egito é um lembrete de como a ampla maioria de atentados dessa natureza acontece em cidades desconhecidas, longe das manchetes e da mídia.
O assassinato de 235 praticantes sufis em Bir al-Abed representa uma perigosa escalada da violência no Sinai. É também um sintoma da dramática expansão do terrorismo em todo o norte da África e no Oriente Médio ao longo da década.
Um estudo lançado recentemente englobando mais de 1.300 cidades mostrou que os centros urbanos de Egito, Afeganistão, Iraque, Líbia, Nigéria, Paquistão, Somália e Síria são muito mais vulneráveis ao terrorismo que os do Reino Unido, França e Estados Unidos. Cidades como Bagdá, Mogadíscio, Carachi e Cabul tiveram dezenas de milhares de assassinatos desde 2006.
Desde 2011 o Egito vive um aumento agudo na violência extremista, especialmente desde a eclosão da insurgência islâmica, há quatro anos. Dos 2.340 ataques registrados pelo Global Terrorism Database desde 1970, a maioria esmagadora aconteceu entre 2012 e 2016. Houve mais de 200 mortes derivadas de atos terroristas em 2013 e outras 370 em 2015, com uma leve queda para 160 óbitos em 2016. Este ano provavelmente será o mais violento registrado.
A única certeza é que o cenário é sombrio: haverá mais ataques terroristas como esses. O modo mais eficaz de combatê-los é intensificar os esforços para resolver o conflito armado na região. Dada a tensão geopolítica em ascensão, isso parece pouco provável em curto prazo. No entanto, mesmo que não seja possível prevenir totalmente a violência terrorista, há diversas estratégias que podem limitar seus efeitos.
Grupos terroristas procuram alvos "leves" —locais com grandes chances de reunir pessoas— com o objetivo de paralisar e sabotar as cidades. O ataque à mesquita Al-Rawdah se encaixa nesse perfil. De fato, as cidades e seus habitantes são o alvo desses grupos, não um dano colateral. Grupos terroristas como Al Qaeda, Al Shabaab, Boko Haram e o Estado Islâmico são especialistas em segregar grupos populacionais. Ao bombardear mercados públicos, terminais urbanos, estádios esportivos, teatros e delegacias, forçam a população a se refugiar em casa, criando cercos físicos e psicológicos.
Um número crescente de cidades têm desenvolvido resiliência para responder ao terrorismo urbano. Procedimentos mais comuns incluem estreitar a cooperação entre órgãos de inteligência, reforçar a vigilância em espaços superlotados e em locais desprotegidos, investir em relações de policiamento inteligente, criar barreiras físicas ao redor de prédios governamentais e de grandes empresas, e formar conselhos antiterrorismo. O grande desafio é minimizar os riscos de terrorismo sem sufocar a vida das cidades.
Para lidar com essas ameaças, as cidades precisam pensar além. Prefeitos e secretários de segurança precisam considerá-las como o novo normal, investindo em prevenção e gestão de crise. Empresas precisam atualizar regularmente seus planos de continuidade de negócios e as administrações públicas precisam melhorar a comunicação interagências para diferenciar o que é indício e o que é apenas ruído. É quase inevitável concluir que os prefeitos ao redor do mundo vão precisar se adaptar a esta nova normalidade.
ROBERT MUGGAH é cofundador do Instituto Igarapé, onde é diretor de pesquisa, e um dos diretores do grupo SecDev, dedicada à segurança na internet. Ele recebeu seu doutorado na Universidade de Oxford