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    Memorial ao Holocausto é erguido em frente a casa da extrema direita alemã

    ADAM TAYLOR
    DO "WASHINGTON POST"

    25/11/2017 02h00

    Swen Pfoertner - 22.nov.2017/DPA/AFP
    Lápides do minimemorial ao Holocausto erguido diante da casa de Björn Höcke em Bornhagen

    O coletivo artístico Centro para Beleza Política, de Berlim, revelou na última quarta-feira (22) seu último projeto: 24 lápides de concreto na sonolenta aldeia de Bornhagen, no centro da Alemanha.

    O projeto é uma homenagem ao Memorial aos Judeus Assassinados na Europa, atração icônica no centro de Berlim, que foi inaugurado em 2005 e presta um tributo abstrato, mas veemente, às vítimas do Holocausto, com mais de 2.700 lápides de proporções variadas.

    Mas a localização do minimemorial ao Holocausto em Bornhagen foi escolhida tendo em vista um espectador específico: Björn Höcke, membro do partido de direita ultranacionalista Alternativa para a Alemanha (AfD), que tem uma propriedade ali perto.

    Höcke conhece bem o monumento original. Em janeiro, ele fez um discurso em que o descreveu como um "monumento da vergonha" e disse que a cultura alemã precisa dar "uma volta de 180 graus" na abordagem de seus crimes na Segunda Guerra Mundial (1939-1945). O braço local da AfD mais tarde pediu desculpas pelos comentários, mas os críticos ficaram irritados porque Höcke não foi expulso do partido.

    Fabrizio Bensch - 11.mar.2016/Reuters
    O político da AfD Björn Höcke discursa em comício do partido nas eleições regionais da Saxônia-Anhalt, em março de 2016
    O político da AfD Björn Höcke discursa em comício do partido em Magdeburgo, em março de 2016

    O Centro para Beleza Política diz que instalou as lápides em Bornhagen porque Höcke é um "admirador secreto" do monumento em Berlim.

    Philipp Ruch, um dos organizadores do projeto, disse ao jornal "Frankfurter Rundschau" que o grupo pretende manter as lápides no local durante pelo menos dois anos. "Ele deve desfrutar dessa visão todos os dias quando olhar pela janela", disse Ruch, acrescentando que o "monumento da vergonha" foi virado 180 graus para melhor atender ao gosto de Höcke.

    Os ativistas dizem que as lápides só serão retiradas se Höcke concordar em se ajoelhar e pedir perdão na frente do Memorial aos Judeus Assassinados na Europa em Berlim. Essa exigência em si é uma homenagem: o ex-chanceler Willy Brandt inesperadamente se ajoelhou durante uma visita em 1970 a um memorial que comemorava o levante do Gueto de Varsóvia, na capital da Polônia.

    Höcke, que teria sido visto em sua propriedade olhando para o memorial, não indicou se cumprirá essa condição. Jörg Meuthen, presidente da AfD, disse que o memorial é "de mau gosto" e que seu partido fará tudo para garantir que "esses chamados artistas sejam responsabilizados".

    O Centro para Beleza Política diz que o projeto levou quase 11 meses em planejamento. Os ativistas alugaram propriedades próximas depois que Höcke fez seus primeiros comentários e observaram o legislador de extrema direita sem seu conhecimento. Até agora, o grupo angariou pela internet mais de US$ 68 mil (R$ 220 mil) para manter o monumento no lugar pelo maior tempo possível.

    Um representante local da AfD descreveu a vigilância de Höcke como "guerra psicológica" contra ele e sua família.

    Mas Lea Rosh, jornalista alemã que foi uma das forças motrizes da instalação do memorial em Berlim, disse que ficou feliz ao ver o projeto reinventado em Bornhagen.

    "É uma ideia maravilhosa", disse Rosh à agência de notícias DPA, acrescentando que foi uma "punição magnífica" para Höcke.

    Tradução de LUIZ ROBERTO M. GONÇALVES

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