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Sunday, 28-Apr-2024 22:06:08 -03Só algo abrupto explica falta de reação, diz ex-tripulante do San Juan à Folha
CAROLINA VILA-NOVA
ENVIADA ESPECIAL A MAR DEL PLATA26/11/2017 02h35
Ex-tripulante do ARA San Juan, Hugo Luis Rojas, 53, é categórico com o que pode ter acontecido com o submarino argentino, desaparecido neste domingo (26) há 11 dias.
"A única coisa que acredito que possa ter acontecido é que o submarino teve um problema tão súbito que não permitiu a nenhum dos tripulantes acionar nenhum dos sistemas de segurança que tinham à mão", disse Rojas em entrevista à Folha.
"Quarenta e quatro tripulantes não fizeram nada. Não há nenhum sinal de que tenham feito alguma coisa. O que aconteceu, e saberemos isso quando puderem encontrar o submarino e içá-lo, foi tão súbito que não deu tempo para nada."
Entre os sistemas de emergência que poderiam ter sido acionados estão a propulsão à superfície, sinais de fumaça ou sinais de rádio.
O último contato feito pelo ARA San Juan com a base foi em 15 de novembro. Naquele mesmo dia, cerca de três horas depois, foi registrada na região onde o submarino estava uma "anomalia hidroacústica" no mar compatível com uma explosão, diz a Marinha argentina.
A área, porém, foi vasculhada pelas equipes de busca, que incluem reforços de 11 países, e nada havia sido achado até este sábado (25).
EMBARCAÇÃO CÔMODA
Hoje aposentado, Rojas é instrutor na escola de formação de submarinistas e vive em Mar del Plata. Deu aulas para alguns dos 44 tripulantes do ARA San Juan e conhece os demais. "O mundo dos submarinos é muito restrito, todos se conhecem", diz.
Rojas foi tripulante do San Juan em 1989 e 1990, encarregado da parte elétrica. Também atuou nos submarinos Salta e no Santa Cruz –gêmeo do San Juan e que foi modernizado no Brasil em 1999, o que o levou a viver no Rio.
Fotomontagem Fotos de tripulantes do submarino argentino ARA San Juan O militar rejeita críticas dos familiares dos tripulantes de que o San Juan era uma "lata velha" e estava apenas "pintado por fora". "É um submarino cômodo, dos maiores, com todas as condições de estabilidade. Entendo a dor das famílias, mas ele estava dentro das condições técnicas."
Embora queira evitar conjecturas, Rojas avalia que tanto na hipótese de uma explosão como na de uma implosão existe a possibilidade de sobrevivência da tripulação.
Isso porque o San Juan é composto de dois compartimentos, na popa e na proa, que podem ser isolados mecanicamente. Se uma explosão ocorre em um deles e não tem magnitude suficiente para atingir o outro, há possibilidade de preservar a equipe, desde que haja oxigênio.
No cálculo da Marinha, havia oxigênio suficiente para sete dias caso a embarcação tenha ficado o tempo todo submersa, o que não se sabe.
"Mas isso são conjecturas, ninguém pode saber o que realmente aconteceu", diz.
Segundo Rojas, há um consenso na Marinha argentina e nas Marinhas estrangeiras que estão participando das operações de busca e resgate de que se deve tentar içar o submarino ou fazer com que mergulhadores entrem nele.
"É o único meio de saber o houve e tomar medidas de segurança para evitar acidentes com outros submarinos."
Na sexta (24), a juíza federal Marta Yánez ordenou a preservação de todos os documentos da manutenção realizada no submarino no Complexo Industrial e Naval Argentino (Cinar), em junho de 2014, conhecida como "manutenção de meia vida".
Na ocasião, foram trocados todos os quatro motores e 960 baterias do submarino, disse Rojas. Para isso, o casco do San Juan foi cortado ao meio.
Luciano Veronezi/Editoria de Arte/Folhapress *
EQUIPAMENTOS DE EMERGÊNCIA DO SUBMARINO
Luciano Veronezi/Editoria de Arte/Folhapress Dois compartimentos estanques, que permitem sobrevivência por sete dias em um deles se o outro estiver comprometido Luciano Veronezi/Editoria de Arte/Folhapress Escotilha de mergulho, pela qual a tripulação pode abandonar o submarino, e dois botes de emergência Luciano Veronezi/Editoria de Arte/Folhapress Sistema que enche os compartimentos de lastro com ar rapidamente para que o submarino suba à superfície Luciano Veronezi/Editoria de Arte/Folhapress Transmissor de localização de emergência, que ajuda nas buscas Luciano Veronezi/Editoria de Arte/Folhapress Cilindro que pode ser ejetado e deixa mancha de 1km de diâmetro na superfície, para ajudar na localização Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br
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