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    Paz não virá do governo, diz filho de Shimon Peres

    DANIELA KRESCH
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE TEL AVIV

    26/11/2017 03h20

    Al Drago - 14.dez.2016/The New York Times
    Chemi Peres, son of Shimon Peres, lights a menorah with Mika Almog, Peres' granddaughter, and first lady Michelle Obama during a Hanukkah reception at the White House in Washington, Dec. 14, 2016. (Al Drago/The New York Times) ORG XMIT: XNYT179 DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM
    Chemi Peres, filho de Shimon Peres, acende uma menorah em recepção na Casa Branca

    Se há, em Israel, "príncipes" como os britânicos, são os filhos e netos dos fundadores do país. Entre eles está Nechemias J. Peres, o caçula do icônico ex-premiê e presidente Shimon Peres, ganhador do Prêmio Nobel da Paz.

    Com a morte do pai, em setembro de 2016, Chemi, 59, engajou-se no Centro Peres Para a Paz e Inovação, criado para difundir a visão de um "novo Oriente Médio" de paz e cooperação.

    A palavra "inovação" foi incluída dois meses antes da morte de Peres, aos 93 anos, quando ele lançou os alicerces do Centro de Inovação de Israel, espécie de museu interativo que será inaugurado em setembro de 2018 no mesmo prédio do Centro Peres.

    Chemi, cofundador da maior empresa de capital de risco de Israel, a Pitango, agora preside o Centro Peres. Mas evita a palavra "sucessor", apesar da semelhança física testemunhada pela Folha durante a entrevista no escritório que era de seu pai em Jaffa (Grande Tel Aviv).

    *

    Folha - O escritório de seu pai continua igual, um ano depois da morte dele...

    Chemi Peres - Tudo ficou igual. Todos os livros que ele lia e os prêmios que recebeu, como o Nobel da Paz. A única coisa que fizemos foi trazer de volta a mesa na qual ele trabalhou a vida toda. Há dois anos, ele a tinha trocado por uma mais moderna.

    Seu pai morreu como um consenso depois de anos de conflitos políticos internos em Israel. Como o senhor viveu essa mudança de político polêmico a presidente amado?

    Sempre soube que ele estava adiante de seu tempo. Muitos políticos lidam como o aqui e o agora. Ele sempre via uma geração à frente. Dizia: "Prefiro ser controverso e fazer o necessário a ser popular e não fazer nada".

    O sr. pensa em entrar para a política?

    Nunca fui muito envolvido. Mas talvez... É um pensamento possível.

    O sr. se vê como sucessor de seu pai?

    Me vejo como uma espécie de continuador de seu caminho. Não quero dizer "sucessor" porque é pretensioso. Mas não preciso estar em sua pele, posso ir com a minha, mas olhando o caminho dele.

    O Centro Peres para a Paz está em obras... Por quê?

    Sim. Estamos construindo o Centro de Inovação de Israel no prédio, desejo antigo de meu pai. Ele acreditava que a inovação era a chave para a paz. Vamos mostrar a maravilhosa jornada de Shimon Peres e do Estado de Israel. Uma jornada de um mundo velho para um mundo novo. Será interativo, digital, uma experiência de transformação.

    Quais são os objetivos?

    O principal é ensinar a jovens a serem inovadores,inspirar por meio de otimismo, ousadia e capacidade de sonhar. Esse é o legado de Shimon Peres. Também queremos que turistas venham. Planejamos ainda construir centros iguais pelo mundo.

    O Brasil está nos planos?

    Sim. Meu pai amava o Brasil. Podemos viajar amanhã e ir a qualquer cidade do Brasil para construir um centro de inovação em seu nome.

    William Volvov-12.nov.2009/Brazil Photo Press/Folhapress
    Morreu na noite desta terça-feira (27), aos 93 anos, o ex-presidente e ex-primeiro-ministro israelense Shimon Peres. Ele havia sido internado no dia 13, após sofrer um AVC (acidente vascular cerebral). Peres foi um dos ganhadores do Nobel de 1994 pelos chamados Acordos de Paz de Oslo, concluídos com Yitzhak Rabin e Yasser Arafat. Na foto de 12 de novembro de 2009 o então primeiro-ministro de Israel Shimon Perez participa de evento no encontro Brasil-Israel em São Paulo.
    O presidente e ex-primeiro-ministro israelense Shimon Peres, morto aos 93 em 2016

    Como isso poderá acontecer considerando-se o status de Israel no mundo? Shimon Peres pode ser consenso, mas Israel, nem tanto...

    Isso não vai nos parar ou atrapalhar a nossa visão. Há pessoas que não conhecem os fatos, nos criticam, que usam Israel como alvo de suas frustrações. Na Síria, matam pessoas todos os dias, e não vejo que saiam pelas ruas contra Damasco.

    Mas não se pode pensar em abrir o Centro Peres em cidades do Oriente Médio...

    Pode-se sonhar, sim. O Centro Peres atua pela paz e pela aproximação de israelenses e palestinos. Salvamos 13 mil palestinos da morte com um projeto pelo qual trazemos crianças de Gaza e da Cisjordânia para tratamentos médicos de urgência em Israel. Fora isso, pagamos o treinamento de 400 médicos palestinos. Fazemos paz na prática.

    O sr. acredita que o atual governo de Israel possa mudar a realidade regional?

    Não me parece que o establishment atual levará à mudança. O caminho para a paz será desbravado por duas populações: mães e empreendedores. Há o preço humano da falta de paz, que as mães não aceitam pagar. E há o preço econômico, que os empreendedores não aceitam pagar.

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