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    Noivado de Harry mostra que família real deixou escândalos no passado

    MICHAEL HOLDEN
    DA REUTERS, EM LONDRES

    27/11/2017 11h47

    O rei Eduardo 8º sacrificou seu trono, e a princesa Margaret, irmã da rainha Elizabeth 2ª, sacrificou seu verdadeiro amor, mas, para o príncipe Harry, se casar com uma divorciada já não significa que precise optar entre deixar de ser parte da linha de sucessão ao trono ou seguir seu coração.

    Na segunda-feira (27), Harry, o quinto na linha de sucessão para o torno britânico, anunciou que se casaria com sua namorada, Meghan Markle, uma atriz norte-americana divorciada, com a benção de sua avó, a rainha.

    As atitudes sociais britânicas mudaram muito nas últimas décadas, mas a monarquia se deixava governar por um conjunto de valores cristãos mais tradicionais.

    Por isso, a aprovação da rainha é uma demonstração clara de o quanto a monarquia mudou e se modernizou, já que 80 anos atrás um casamento com uma pessoa divorciada era impensável.

    "É extraordinário o quanto avançamos desde os anos 30", disse Claudia Joseph, biógrafa da casa real britânica. "Em menos de um século, as coisas mudaram imensamente".

    Eduardo 8º, tio-avô de Harry, por exemplo, causou uma crise constitucional em 1936 ao insistir em se casar com Wallis Simpson, uma norte-americana que já havia se divorciado duas vezes, para horror da elite britânica, do governo e da Igreja Anglicana, da qual o monarca do país é o titular nominal.

    O episódio foi definido como "a maior história de amor do século 20", e Edward abdicou depois de apenas 11 meses no trono e foi morar na França, o que levou inesperadamente ao trono o pai de Elizabeth, George 6º.

    "Vocês precisam acreditar quando lhes digo que consideraria impossível executar minhas pesadas responsabilidades e cumprir meus deveres como rei da forma que eu desejaria sem a ajuda e o apoio da mulher que amo", disse Edward em seu discurso de abdicação.

    Atitudes como aquelas continuavam a prevalecer duas décadas mais tarde. Em 1955, a irmão mais nova da rainha Elizabeth 2ª, a glamorosa Margaret, foi forçada a desistir de se casar com um oficial da força aérea, o Capitão de Grupo (coronel) Peter Townsend.

    Ainda que ele fosse um "royal equerry" [ajudante de ordens da família real], Townsend não era visto como marido adequado para a princesa porque era divorciado, e o Palácio de Buckingham o transferiu para Bruxelas.

    'O CASAMENTO É INDISSOLÚVEL'

    "Eu gostaria de fazer saber que decidi não me casar com o capitão de grupo Peter Townsend", Margaret anunciou em um comunicado à nação. "Sabedora de que o casamento cristão é indissolúvel e consciente de meu dever para com a Commowealth, decidi colocar essas considerações acima de todas as outras".

    Embora naquela época o divórcio fosse considerado inaceitável, desde então se tornou comum, na casa de Windsor. Dos quatro filhos de Elizabeth, três casamentos terminaram em divórcio, o mais espetacular dos quais entre o pai de Harry, Charles, o príncipe herdeiro, e sua primeira mulher, a princesa Diana.

    Eles se divorciaram em 1996, 15 anos depois de seu romântico casamento, e um ano antes de ela morrer em um acidente de carro em Paris. Charles se casou com uma divorciada, Camilla Parker Bowles, em 2005.

    Ele havia pensado em se casar com Camilla no começo dos anos 70, mas os cortesãos da rainha a consideravam como par inaceitável, e ela mesma não estava disposta a assumir o papel de princesa naquele momento.

    No entanto, Charles e Camilla não puderam se casar na igreja, e a rainha, que tem fortes crenças religiosas e encara com grande seriedade seu papel de liderança na Igreja Anglicana, não compareceu á cerimônia civil.

    A Igreja Anglicana só decidiu três anos atrás que uma pessoa divorciada, "em circunstâncias excepcionais", poderia se casar de novo na igreja, enquanto seu antigo cônjuge ainda está vivo.

    Joseph disse que o segundo casamento de Charles abriu caminho para Harry.
    "Creio que o dilema surgiu quando Charles se casou com a duquesa da Cornualha", ela disse à Reuters. "A rainha teve dificuldades para lidar com isso. Eles tinham de se casar de uma forma que não comprometesse seu papel como líder da igreja".

    A união entre Harry e Meghan, como a de todos os membros da família real que ocupem os seis primeiros postos da linha de sucessão, tem de ser aprovada pela rainha, nos termos da Lei de Sucessão ao Trono de 2013, que substituiu uma lei ainda mais exigente, que datava do século 18.

    "A rainha e o duque de Edimburgo estão muito felizes pelo casal e lhes desejam toda felicidade", anunciou o Palácio de Buckingham em comunicado.


    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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