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    Morte em ação policial reaviva conflito entre Macri e indígenas na Argentina

    DE SÃO PAULO

    28/11/2017 21h47

    A morte de um homem baleado em uma operação das forças de segurança no último sábado (25) reavivou o conflito do governo argentino com grupos indígenas mapuche na Patagônia, onde a tensão começou em meados do ano.

    Rafael Nahuel, 22, foi atingido por um tiro de uma pistola 9 mm na reintegração de posse de um terreno invadido por um grupo de índios dentro de um parque nacional perto de Villa Mascardi, a cerca de 40 km de Bariloche.

    Martín Zabala - 26.nov.2017/Xinhua
    Manifestantes protestam em Buenos Aires contra a morte de Rafael Nahuel em uma operação policial
    Manifestantes protestam em Buenos Aires contra a morte de Rafael Nahuel em uma operação policial

    O calibre da bala que matou Nahuel é o mesmo usado pela Prefeitura Naval Argentina (similar à Capitania dos Portos), que agiu junto com a polícia local e a Gendarmeria (guarda de fronteiras). Outras duas pessoas ficaram feridas.

    Segundo o governo, os atingidos eram membros do grupo extremista Resistência Ancestral Mapuche (RAM) e teriam usado armas de fogo no confronto, motivo pelo qual trocaram balas de borracha e de tinta por munição letal.

    "Foi feita uma ação legal, legítima, totalmente nos rigores da lei frente uma ação ilegal, violenta e inaceitável para a democracia de um povo que quer viver em paz", disse na segunda (27) a ministra da Segurança, Patricia Bullrich.

    "Estamos diante de grupos violentos que escalaram essa situação. Grupos que não respeitam a lei e não reconhecem a Argentina, o Estado e a Constituição, e se consideram um poder de fato com uma lei diferente da de todos."

    Os indígenas negam que tenham usado elementos contundentes. A morte do ativista mapuche levou a mais uma série de protestos da oposição a Macri na Patagônia e em Buenos Aires, que terminaram em confronto com a polícia.

    A reintegração foi pedida pelo juiz Gustavo Villanueva, um dos responsáveis na região por negociar com os mapuche. O magistrado, porém, não ordenou o isolamento do local do crime, que continuou a ser ocupado pelos indígenas.

    A iniciativa irritou o governo, pelo risco de que as provas tenham sido alteradas. "Não é o ideal que neste caso não seja possível ir ao local e consolidar a prova e a informação", criticou o chefe de gabinete de Macri, Marcos Peña.

    Nahuel é apontado pelas forças de segurança por ser um dos responsáveis pela invasão e acusado por moradores de Villa Mascardi de ameaçá-los com armas de fogo semanas atrás, enquanto estava acampado em uma praça.

    O governo também afirma que cerca de 40 pessoas ligadas à RAM atravessaram ilegalmente a fronteira com o Chile para participar da invasão.

    LIGAÇÕES

    A dificuldade de manutenção das provas e a concessão aos mapuche se assemelham ao caso de Santiago Maldonado, ativista que sumiu em confronto da Gendarmeria com os indígenas em um protesto em Esquel, em 1º de agosto.

    O corpo de Maldonado foi encontrado mais de dois meses depois do sumiço, à beira de um rio em um terreno invadido pelos mapuche. Durante as investigações, os indígenas dificultaram o acesso dos peritos e da polícia ao local.

    Na semana passada, os peritos determinaram que ele morreu afogado sem sinais de violência. A família, porém, acusa as forças do governo de provocarem indiretamente a morte do ativista e incluiu novas testemunhas no processo.

    O enterro do ativista foi um dia depois da morte de Nahuel. Outro elo com o conflito é que um dos presos na ação é Fausto Jones Huala, irmão de Facundo Jones Huala, líder da RAM cuja prisão desatou a crise na Patagônia.

    Nesta terça, Macri se irritou enquanto ouvia a explicação de Bullrich sobre o caso de Nahuel. "Como que, no meio da operação, ligaram para a base para ver se podiam usar as armas? Isso não acontece em nenhum lugar do mundo!", disse.

    "Precisamos fazer uma mudança cultural a respeito das forças de segurança. Para isso formamos, treinamos e damos armas a seus membros. Temos que voltar à época de que dar a voz de prisão significava se entregar."

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