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    Limbo eleitoral ilustra fraqueza de instituições em Honduras

    SYLVIA COLOMBO
    EM GUADALAJARA

    29/11/2017 02h00

    Dois dias depois de ir às urnas, os hondurenhos seguiam na terça (28) sem saber quem seria seu novo presidente, enquanto os dois principais candidatos cantavam vitória.

    À frente na contagem parcial do TSE, no domingo (26), e vitorioso nas bocas de urna, o oposicionista Salvador Nasralla, líder de uma coalizão de partidos de esquerda e de direita, chamou o povo às ruas para defender o seu suposto triunfo.

    Orlando Sierra/AFP
    Funcionário do TSE carrega urna da eleição presidencial de Honduras durante apuração em Tegucigalpa
    Funcionário do TSE carrega urna da eleição presidencial de Honduras durante apuração em Tegucigalpa

    Já o atual presidente, Juan Orlando Hernández, que concorre à reeleição (o que é proibido no país), diz que quem ganhou foi ele e acusou o órgão eleitoral de divulgar resultados cedo demais e "sem contar a região rural", onde acha que terá mais votos.

    O atual mandatário chegou a postar nas redes sociais que tinha recebido felicitações por telefone de alguns líderes da América Latina, como o equatoriano Lenín Moreno. Enquanto isso, o virtual terceiro colocado, Luis Zelaya reconheceu a derrota e cumprimentou Nasralla.

    Já o Tribunal Supremo Eleitoral, depois das manifestações dos candidatos, declarou que só voltará a divulgar resultados quando todos os votos tiverem sido contados, possivelmente na quinta (30). "Não somos um instituto de pesquisas de opinião pública", disse David Matamoros, presidente da Corte.

    Nesta terça, os observadores europeus do pleito deram uma entrevista em que declararam que a eleição ocorreu "de forma tranquila e sem irregularidades relevantes", mas aconselharam o TSE a ser mais ágil na contagem dos votos. Também advertiram os dois candidatos por declararem vitória antes do resultado definitivo.

    Horas depois da reclamação dos observadores, porém, o órgão eleitoral começou a liberar os números aos poucos, e diminuía a diferença entre os candidatos. Por volta das 21h15 local (1h15 de quarta em Brasília), com 69,81% das urnas apuradas, Nasralla aparecia à frente, com 43,49%, contra 41,09% de Hernández.

    O limbo em que se encontra Honduras ilustra a fragilidade institucional do país, ainda não recuperado do golpe que depôs Manuel Zelaya em 2009. A partir daquele episódio, o Executivo adotou uma linha dura na relação com outros Poderes.

    Ao irem às ruas pedir o fim da corrupção em 2015, milhares de hondurenhos denunciavam escândalos políticos e a ingerência do Executivo no Judiciário e em outros órgãos teoricamente independentes, entre eles o tribunal eleitoral.

    Os perdedores da eleição de 2013, entre eles Xiomara Castro, mulher de Manuel Zelaya, declararam que Hernández tinha perdido aquele pleito e o acusaram de manipular o resultado.

    Quando congressista, Hernández havia liderado a ala do Congresso que apoiou a deposição de Zelaya. Nunca houve uma investigação sobre fraudes naquele pleito.

    No ano passado, por pressão de Hernández, o Supremo Tribunal Federal, composto por uma maioria de juízes escolhidos pelo próprio presidente, deu-lhe permissão para concorrer à reeleição, mesmo que isso violasse a Constituição.

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