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    Tripulação de submarino argentino só estaria viva por milagre, diz socorrista

    CAROLINA VILA-NOVA
    ENVIADA ESPECIAL A MAR DEL PLATA

    30/11/2017 02h00 - Atualizado às 14h26

    O especialista em segurança de submarinos e socorrista argentino Marcelo Covelli não disfarça o pessimismo diante das informações que se tem sobre o que aconteceu ao ARA San Juan, das características das operações de busca e do próprio fato de o desaparecimento da embarcação ter chegado, nesta quarta-feira (29), ao 15º dia.

    "As chances de sobrevivência dos 44 tripulantes estão no campo do milagre, não no campo do razoável, pelas circunstâncias do sumiço, pelas evidências que se têm até agora, pela profundidade da zona em que se está buscando", diz o capitão de fragata.

    Marinha dos EUA - 27.nov.2017/AFP
    Militares dos EUA preparam minisubmarino para auxiliar nas buscas pelo ARA San Juan na Argentina) ORG XMIT: XAC102
    Militares dos EUA preparam minisubmarino para auxiliar nas buscas pelo ARA San Juan na Argentina

    Entre os dados conhecidos está o de que entrou de água no submarino pelo sistema de ventilação, o que gerou um curto-circuito e princípio de incêndio no tanque de baterias. "É perigoso porque pode levar à formação de gases venenosos e ao desprendimento de hidrogênio, formando uma atmosfera explosiva."

    Sabe-se ainda, segundo a Organização para o Tratado de Proibição Total de Testes Nucleares (CTBTO), que houve uma "anomalia hidroacústica" na rota do San Juan, que ia de Ushuaia a Mar del Plata, descrito como um "evento anômalo, singular, curto, violento e não nuclear, consistente com uma explosão."

    Para o militar, o ruído pode ser tanto uma explosão provocada pela formação de gases como uma implosão se a embarcação tiver ultrapassado a profundidade limite.

    Com base na última comunicação do submarino, no dia 15, e na localização da explosão fornecida pela CTBTO, a Marinha argentina foi reduzindo o raio das buscas até chegar nesta quarta a 40km.

    Isso poderia parecer uma boa notícia, mas, segundo Covelli, não necessariamente é, já que a área de concentração dos trabalhos de resgate tem uma profundidade elevada —varia entre 200 e 1.000 metros. "Quatorze dias é muito para que ainda exista uma atmosfera respirável."

    Já na chamada fossa continental, no limite de onde o submarino navegava quando deixou de se corresponder com sua base, a profundidade é de 3.000 metros.

    O especialista compara: "Se você perde seu celular no chão, é muito mais fácil encontrá-lo, ainda que a sala seja grande, que se ele cair em um buraco profundo."

    PROFUNDIDADE LIMITE

    "Para que a circunstância seja compatível com a vida, o submarino tem de estar em uma profundidade de até 350 metros", acrescenta o capitão. "A 1.000 metros, não existe submarino."

    A partir dos 600 metros, por causa da pressão da água e porque o submarino é uma estrutura compacta e oca, ele passaria por um processo de implosão e compactação.

    "Quando o submarino experimenta uma falha que o impede de subir à superfície, começa a baixar. Se não consegue controlar a descida, termina tocando o fundo do mar", explicou ao diário "Clarín" o perito e engenheiro naval Martín D'Elia.

    "Essas embarcações podem navegar a até 1.000 pés, o que corresponde a 310 metros de profundidade. A estrutura delas está sobrecalculada, de modo que o limite [que podem suportar] é quase o dobro disso", acrescentou ele.

    "Nesse caso, o submarino pode ficar compactado inteiro ou em partes", finalizou o perito, para quem é muito importante que a nave seja encontrada, seja em que condições for. "É importante saber o que aconteceu, não só pelo San Juan, mas pensando nos submarinos de características semelhantes que continuam funcionando."

    Luciano Veronezi/Editoria de Arte/Folhapress

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