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    Causas do colapso econômico islandês seguem presentes, afirma jornalista

    DIOGO BERCITO
    ENVIADO ESPECIAL A REYKJAVÍK

    03/12/2017 02h00

    Quase dez anos após o baque da crise de 2008, a Islândia voltou à erupção de bons indicadores econômicos, acompanhados por um renovado otimismo quanto ao futuro.

    Mas, mesmo com todas as transformações pelas quais o país passou, é ilusória a noção de que todos os problemas foram solucionados, afirma o jornalista britânico Roger Boyes.

    Geirix - 28.out.2017/Reuters
    Eleitores caminham a local de votação durante as eleições parlamentares da Islândia, em outubro
    Eleitores caminham a local de votação durante as eleições parlamentares da Islândia, em outubro

    O país de fato mudou. Governos caíram, sim, e movimentos sociais chegaram a dar largada a uma Constituição escrita coletivamente pela internet.

    "No entanto, as instituições não mudaram, e a maneira com que a ilha é governada também não", diz à Folha. Boyes é autor do livro "Meltdown Iceland", sobre o derretimento da economia islandesa. "Os elementos que possibilitaram a bancarrota de 2008 ainda estão presentes."

    Mesmo após os protestos pós-crise, afinal, a política continua a ser marcada pela corrupção e pelo nepotismo típicos dos anos 1990 e 2000.

    O ex-primeiro-ministro Sigmundur David Gunnlaugsson, por exemplo, teve de renunciar em 2016 depois de seu nome aparecer nos vazamentos de documentos conhecidos como "Panama Papers".

    Outro escândalo, desta vez envolvendo o pai do atual premiê, Bjarni Benediktsson, levou o país a eleições antecipadas em outubro passado —nas quais Benediktsson foi eleito mais uma vez.

    O nepotismo, segundo Boyes, é a maldição da dimensão —com 330 mil habitantes e apenas duas grandes escolas na capital, "toda a classe política se conhece". "Políticos, chefes das agências reguladoras e executivos de bancos cresceram juntos", afirma.

    O otimismo destes anos, portanto, tem algo de arriscado. "É a fase mais perigosa, porque as pessoas deixam de analisar o que deu errado", diz Boyes. "O país é tão corrupto quanto há dez anos. Mas, como o apocalipse da crise passou, pensam que podem seguir adiante."

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