Conhecido pela emissão de notas oficiais quase sempre anódinas, o Itamaraty bateu um recorde nesta quinta-feira (7): conseguiu soltar nota oficial de 221 palavras sobre a situação de Jerusalém sem nem sequer mencionar Donald Trump.
Foi Trump quem recolocou Jerusalém na agenda internacional ao anunciar, na véspera, que os Estados Unidos reconheciam a cidade como capital de Israel.
O Itamaraty preferiu fazer de conta que não tomou conhecimento do fato novo e, por isso, reiterou posições velhas.
Ou seja, reiterou "o entendimento de que o status final da cidade de Jerusalém deverá ser definido em negociações que assegurem o estabelecimento de dois Estados [Israel e um futuro Estado Palestino], vivendo em paz e segurança dentro de fronteiras internacionalmente reconhecidas e com livre acesso aos lugares santos das três religiões monoteístas, nos termos das resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas, como a resolução 478 de 1980, entre outras".
Reiteira, ainda, que "as fronteiras entre os dois Estados deverão ser definidas em negociações diretas entre as partes tendo por base a linha de junho de 1967".
Cobrado pela Folha sobre a omissão a respeito da iniciativa de Trump, condenada por dezenas de chancelarias mundo afora, inclusive por tradicionais aliados americanos, como a Arábia Saudita e a União Europeia, o chanceler Aloysio Nunes Ferreira Filho disse que "o Brasil prefere esperar os desdobramentos, esperar como cada um [dos atores regionais e internacionais] vai reagir".
O chanceler acha que a declaração de Trump muda pouco na prática, pelo menos a princípio, e cita o Conselheiro Acácio, celebrado por frases óbvias, que dizia que "as consequências vêm sempre depois" (no caso, as consequências do reconhecimento de Jerusalém como capital israelense).
Explicação oficial à parte, parece óbvio que, ao evitar a mais leve crítica a Trump, o Itamaraty trata de deixar aberto o caminho para que, finalmente, o presidente americano receba seu colega brasileiro Michel Temer, o que está em negociação há meses.