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    China teme crise e planeja campos para refugiados da Coreia do Norte

    JANE PERLEZ
    DO "NEW YORK TIMES", EM PEQUIM

    12/12/2017 13h35

    Ed Jones - 21.nov.2017/AFP
    Caminhão cruza ponte sobre o rio Tumen na fronteira entre China (ao fundo) e Coreia do Norte

    Um distrito administrativo chinês na fronteira com a Coreia do Norte está construindo campos para refugiados com o objetivo de abrigar os milhares de migrantes que podem atravessar a fronteira fugindo de uma crise na península Coreana, de acordo com um documento interno que aparentemente vazou da principal estatal de telecomunicações chinesa.

    Três aldeias no distrito de Changbai e duas cidades em Jilin, a província que fica na fronteira nordeste do país, foram designadas como locais para campos de refugiados, de acordo com o documento da China Mobile. O documento foi publicado na semana passada pelo Weibo, um serviço de microblogs chinês similar ao Twitter.

    Os campos representam uma admissão, incomum ainda que tácita, pela China de que é cada vez mais provável que haja instabilidade na Coreia do Norte, e de que refugiados podem cruzar o rio Tumen, a estreita barreira aquática que separa os dois países, em grandes números.

    Por décadas, a política chinesa com relação à Coreia do Norte teve por centro preservar a estabilidade de um país vizinho conhecido pela repressão e instabilidade.

    A despeito das sanções e da condenação internacional, nos últimos meses a Coreia do Norte intensificou seu programa de testes de armas nucleares e mísseis, o que agrava o potencial de instabilidade interna ou a possibilidade de um ataque pelos Estados Unidos.

    Lu Kang, porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores, disse a jornalistas na segunda-feira (11) que não estava ciente de um plano para criar campos de refugiados, mas não negou sua existência. "Não vi relatórios a respeito", disse Lu.

    As autoridades do distrito de Changbai não responderam a telefonemas na segunda-feira, e um executivo da China Mobile em Changbai se recusou a falar sobre o assunto.

    O documento da China Mobile informa que um executivo da empresa inspecionou cinco locais no dia 2 de dezembro a pedido do governo distrital de Changbai.

    A empresa foi solicitada a garantir que havia serviço viável de internet nas áreas que seriam usadas para erigir os campos.

    "Porque a situação na fronteira entre a China e a Coreia do Norte se intensificou recentemente, o governo do distrito de Changbai planeja estabelecer cinco campos para refugiados em Changbai", afirma a China Mobile no documento.

    As áreas designadas para os campos de refugiados ficam em terras do Estado, e abrigos temporários já foram construídos em diversos locais, de acordo com um empresário local que solicitou que seu nome não fosse mencionado por medo de irritar o governo do distrito.

    Três aldeias na região rural foram identificadas no documento como locais para campos. As cidades de Tumen e Hunchun também receberão refugiados, de acordo com o empresário.

    Tumen e Hunchun há 20 anos recebem desertores norte-coreanos que conseguem escapar de seu país para a China. Muitos desses desertores saem da China para o Sudeste Asiático, e mais tarde para a Coreia do Sul.

    A província de Jilin fica a cerca de 100 quilômetros de Punggye-ri, o principal local dos testes nucleares norte-coreanos. O medo de uma guerra, ou de um desastre nuclear, a poucos quilômetros de distância vem causando ansiedade aos moradores da província.

    Na semana passada, o jornal "Diário de Jilin" publicou orientações aos moradores sobre como reagir em caso de explosão nuclear ou de contaminação radiativa na área.

    Os conselhos incluíam lavar a poeira radiativa das porções expostas do corpo e dos sapatos, e tomar tabletes de iodo. A reportagem apontava que quando os Estados Unidos lançaram a bomba atômica contra Hiroshima, no Japão, em 1945, mais de 70 mil pessoas morreram. As armas modernas são muito mais poderosas.

    A China se recusou a impor sanções punitivas contra a Coreia do Norte por medo de causar um colapso que resultaria na chegada de legiões de refugiados ao nordeste do país, uma região economicamente vulnerável. Até o momento, a China resistiu aos apelos para que suspenda suas entregas de petróleo à Coreia do Norte, o que poderia causar severas privações e levar grande número de norte-coreanos a cruzar a fronteira.

    Ainda que a China não pareça ter mudado sua posição básica quanto a manter a estabilidade, a retórica cada vez mais hostil de Washington parece ter motivado preparativos de contingência.

    Zheng Zeguang, ministro-assistente de Relações Exteriores da China, viajou às pressas para Washington na semana passada para discutir o que as autoridades chinesas descrevem como "o buraco negro do confronto" entre os EUA e a Coreia do Norte.

    Como resultado das tensões crescentes, um dos mais renomados especialistas chineses em questões norte-coreanas definiu a criação de campos para refugiados como "absolutamente razoável".

    "É altamente provável que aconteça um conflito entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos, agora", disse Zhang Liangui, professor de pesquisa estratégica internacional na Escola Central do Partido Comunista. "O que a China está fazendo, no caso, é se preparar para qualquer tipo de situação que possa acontecer na península coreana."

    Em outro sinal do agravamento das tensões, a Coreia do Sul anunciou na segunda-feira que se uniria aos Estados Unidos e ao Japão em um exercício de rastreamento de mísseis lançados por submarinos norte-coreanos.

    No mês passado, a Coreia do Norte testou um míssil balístico intercontinental que atingiu altitude maior e tempo de voo mais longo do que os registrados em testes anteriores. Os norte-coreanos afirmaram que o míssil era capaz de atingir qualquer ponto do território continental dos EUA com ogivas nucleares.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

    Edição impressa
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