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    Chilenos sacodem apatia e elegem presidente em 2º turno acirrado

    SYLVIA COLOMBO
    ENVIADA ESPECIAL A SANTIAGO

    17/12/2017 02h00

    Jorge Villegas/Xinhua - Francesco Degasperi/AFP
     Sebastián Piñera e Alejandro Guillier
    Sebastián Piñera (esq.) e Alejandro Guillier, os dois candidatos no 2º turno no Chile

    Um clima bem menos apático em comparação ao primeiro turno se nota nas ruas de Santiago às vésperas da eleição que decide, neste domingo (17), quem será o próximo presidente do Chile.

    "Desde o plebiscito do fim da ditadura [em 1988], não me lembrava de tanta gente falando de política", conta a professora Carla Arias, 52, que na noite de quinta (14) foi ao encerramento de campanha do centro-esquerdista Alejandro Guillier.

    "Todo esse barulho é porque finalmente há candidatos novos, o próprio Guillier e a Frente Ampla. Mas isso também causa rejeição em muita gente, e pode favorecer [Sebastián] Piñera", disse o comerciante José María Florín, 48, um apoiador do ex-presidente. "Não reclamo das novas caras, mas prefiro apostar em quem tem mais experiência."

    Apesar da agitação entre os apoiadores dos dois candidatos, nenhum instituto de pesquisa registrou tendência de que mais gente saia para votar do que no primeiro turno –quando menos de 50% dos eleitores compareceram às urnas. O Chile é um dos quatro países do mundo em que mais há abstenção.

    Ainda segundo as pesquisas, que falharam no primeiro turno, o quadro é de empate técnico. Segundo os últimos dados do instituto Cadem, um dos mais confiáveis, a diferença é de dois pontos percentuais apenas. Piñera lidera com 39%, contra 37% de Guillier. Outras dão uma diferença menor, de 1,2 a 1,5 ponto percentual.

    editoria de arte/Folhapress

    PROPOSTAS
    As propostas dos dois candidatos ficaram mais claras nas últimas semanas. O economista Sebastián Piñera, 68, defende o fim das reformas que vêm sendo implementadas por Michelle Bachelet –cujo mandato termina em março de 2018.

    "O que já foi aprovado pelo Congresso fica", disse à Folha, em entrevista logo após o primeiro turno. Ou seja, não serão revogadas a lei do aborto (em três casos, estupro, má-formação do feto e risco de vida da mãe) nem a gratuidade do ensino superior para 60% dos estudantes de renda mais baixa.

    Porém, as outras reformas que Bachelet ainda tinha em vista serão suspensas. Entre elas estão a convocação de uma Constituinte para substituir a Carta em vigor (da época da ditadura), a mudança do sistema de aposentadorias —hoje totalmente privado, para um modelo misto com participação do Estado— e o aumento da gratuidade do ensino superior para 100%.

    Com Piñera (2010-2014), o país conheceu níveis de crescimento do PIB em torno de 4% e 5%. Para este 2017, a alta será de apenas 1,3%. "Vamos recolocar o Chile no caminho do crescimento de antes", prometeu ele.

    Uma leve subida no preço internacional do cobre, algo que vem ocorrendo, pode favorecê-lo; afinal, trata-se do principal produto de exportação do país. Além disso, Piñera acena com cortes do gasto público em projetos sociais.

    Ele promete ainda o retorno a um cenário em que havia mais empregos para as classes média e baixa. "Vamos recuperar os empregos formais como havia antes, e a prioridade será para os mais pobres, os que foram colocados à parte do mercado de trabalho nos últimos anos."

    Já o ex-jornalista e senador por Antofagasta Alejandro Guillier, 64, saído da aliança governista Nova Maioria, afirma que as reformas iniciadas por Bachelet terão continuidade. "Este é um mundo novo em que não podemos desproteger os mais pobres."

    E tenta identificar sua agenda com a de políticos progressistas europeus. "Vamos ser mais transparentes, disponibilizar toda a informação sobre o governo na internet e estar abertos a uma interação mais ágil com os cidadãos. A tecnologia será usada em nosso favor", disse à Folha.

    Suas linhas para a economia não são muito claras, mas ele fala em diversificar a produção e deixar o Chile menos dependente do cobre, sem detalhar como.

    Guillier vem numa onda otimista, causada pela inesperada formação de uma "frente anti-Piñera", graças à qual ganhou apoio de líderes tradicionais da esquerda e dos jovens da Frente Ampla.

    "É significativo que, com relação ao primeiro turno, Piñera tenha aumentado apenas dois pontos percentuais, enquanto Guillier cresceu 15. Não digo que isso garanta uma vitória sua, mas em termos de estratégia de campanha, a de Guillier, pelo menos até aqui, deu mais resultados", diz o analista político Marco Moreno.

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