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    Disputa no Chile segue tendência de candidaturas pós-partidárias

    ADRIÁN ALBALA
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    17/12/2017 02h00

    Jorge Villegas/Xinhua - Francesco Degasperi/AFP
     Sebastián Piñera e Alejandro Guillier
    Sebastián Piñera (esq.) e Alejandro Guillier, candidatos no 2º turno do Chile

    O segundo turno da eleição presidencial no Chile promete ser o mais apertado e imprevisível desde o retorno da democracia, em 1990.

    Antes ainda do resultado, já é possível identificar elementos de tendência, que vêm se produzindo no cenário político mundial e que poderiam oferecer ferramentas para entender o "ciclo eleitoral latino-americano" de 2018, no qual cinco países terão disputas presidenciais.

    Primeiramente, o Chile parece repetir movimento iniciado em 2016 com o "brexit": o do fracasso das enquetes de opinião. Até a véspera do primeiro turno, nenhum instituto dava Sebastián Piñera com menos de 43% dos votos; sua vitória no segundo turno era quase certa. E talvez nem houvesse nova rodada de voto.

    Essas enquetes não souberam captar o crescimento da coalizão de esquerda, Frente Ampla, que totalizou mais de 20% dos votos.

    Não é a primeira vez que aparece uma terceira força no Chile. Já em 2009, o candidato esquerdista Marco Enríquez-Ominami recebeu também em torno de 20% de votos no primeiro turno.

    Agora, o crescimento da Frente Ampla parece mais significativo, já que conquistou visibilidade importante ao eleger 21 parlamentares.

    Outro elemento marcante dessa eleição tem a ver com o caráter pós-partidário dos candidatos. Apesar de Piñera estar na política há mais de 25 anos, trata-se de um nome oriundo do mundo empresarial. Já o jornalista Alejandro Guillier entrou na política apadrinhado pelo pequeno Partido Radical.

    A emergência de candidatos de fora da política tradicional é a tônica dos últimos tempos e constitui um sintoma da desconfiança dos cidadãos frente a candidatos "do sistema".

    Por fim, o terceiro traço característico desse pleito é o realinhamento das forças políticas. Houve certa quebra de "rotina" política. Desta vez, nenhum candidato terá maioria parlamentar. Se Piñera parece estar em posição mais favorável para angariar apoios suficientes, faltando-lhe apenas seis deputados e três senadores, nada garante que consiga dar coesão a seu arranjo. Já Guillier, se eleito, terá pela frente tarefa ainda mais árdua.

    ADRIÁN ALBALA é professor visitante na Universidade Federal do ABC

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