• Mundo

    Saturday, 18-May-2024 06:27:06 -03

    Apesar de vitória tranquila de Piñera, cenário político é incerto

    ADRIÁN ALBALA
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    18/12/2017 02h00

    Martin Bernetti/AFP
    Chilean presidential candidate Sebastian Pinera (R), next to his wife Cecilia Morel, publicly celebrates his victory in Santiago after the runoff election on December 17, 2017. Conservative billionaire Sebastian Pinera will return as Chile's president, the election results show. His rival, leftist challenger Alejandro Guillier, a TV presenter turned senator who ran as an independent but was backed by outgoing center-left President Michelle Bachelet, recognized his defeat. / AFP PHOTO / Martin BERNETTI
    O presidente leito do Chile, Sebastián Piñera, faz discurso da vitória ao lado da mulher, Cecilia Morel

    Apesar da vitória folgada, o novo presidente do Chile, Sebastián Piñera, deverá contar com um cenário delicado durante todo o seu mandato.

    A sua coligação não conseguiu obter maioria em nenhuma das duas Casas legislativas, o que forçará o novo governo a barganhar cada projeto com parlamentares de partidos de outros blocos. Nada garante que isso será fácil.

    Desde o retorno à democracia, em 1990, depois de 17 anos de uma ditadura comandada pelo general Augusto Pinochet (1915-2006), o Chile tem desenvolvido uma cultura de acordos entre coalizões marcada pelo consenso, de modo a garantir a governabilidade.

    O efeito disso foi trazer para o centro do espectro político a formulação dos projetos de leis e, consequentemente, a competição eleitoral.

    Por um lado, isso contribuiu para uma grande estabilidade dos sucessivos governos. Por outro, desaguou numa crescente convergência das posturas e ideologias políticas e na dificuldade de distinção clara entre os blocos.

    Em razão dessa homogeneização das plataformas, os cidadãos foram pouco a pouco se afastando dos partidos tradicionais, se desinteressando da política. Os baixíssimos níveis de participação nas últimas três eleições ilustram esse fenômeno.

    A eleição encerrada neste domingo (17) foi marcada por uma polarização das posições; o desempenho da esquerdista neófita Frente Ampla, fundada apenas em janeiro deste ano, é sintomático disso.

    Também no Congresso, os parlamentares parecem muito menos dispostos a repetir a cultura dos acordos. Por isso, achar maioria será muito mais difícil para o novo presidente.

    O alvo principal encontra-se nos 14 deputados e 6 senadores da Democracia Cristã (DC). Apesar de ter formado por 30 anos uma coalizão (a Concertação, que agora se chama Nova Maioria) com partidos progressistas (PS, PPD e PR), a DC vem mantendo relações caóticas com o grupo.

    Todo o mandato de Michelle Bachelet foi cadenciado por tensões internas provocadas essencialmente pela Democracia Cristã. A eleição de Piñera se deve, essencialmente, ao fato de ter conseguido convencer o eleitorado da DC.
    Ao sair com uma candidata própria, Carolina Goic, a DC conseguiu um "feito" duplo: alcançar o pior resultado da sua história e acabar com a coalizão que tinha contribuído para criar em 1988.

    Agora, se vê diante da tentação de entrar formalmente no novo governo Piñera —tal qual um PMDB à chilena— ou permanecer neutra.

    Com a DC sem posição clara, a emergência da Frente Ampla, e a provável reorganização da Nova Maioria, o cenário político chileno está mais incerto do que nunca.

    ADRIÁN ALBALA é professor visitante na Universidade Federal do ABC

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024